Como superar o término de um relacionamento longo
Terminar um relacionamento longo não é o fim do mundo – é uma oportunidade de se reencontrar com o seu verdadeiro eu
Todo fim desencadeia um luto — isso é fato. Por mais que costumemos associar essa palavra apenas à morte de um ente querido, outras situações podem levar a esse processo, seja o fim de uma amizade, a perda de um item com valor sentimental ou o término de um relacionamento longo.
Pense bem: quando nos apaixonamos, idealizamos um futuro ao lado da pessoa amada e vivemos algumas das situações mais marcantes de nossa trajetória. E então, de forma súbita ou gradual, esse relacionamento se encerra.
Seja você a pessoa que colocou o ponto final no vínculo amoroso ou aquela que apenas acatou a decisão do outro, esse momento nunca é fácil. Mas pode acreditar: todo término possibilita uma descoberta. A de nós mesmos.
A psicóloga, sexóloga e palestrante Bárbara Menêses defende essa ideia: “É um direito da pessoa não querer estar mais comigo, e vice-versa. Gosto de pensar: que bom, obrigada por você estar me dando a chance de recomeçar a minha vida”, afirma. Segundo a psicóloga, por mais que ainda sintamos amor pelo próximo, ou que soframos muito com o rompimento, não é construtivo que alguém esteja conosco por pena ou complacência.
“Percebo, em relacionamentos a longo prazo, que muitos se sentem emocionalmente responsáveis por seus parceiros, seja pela pessoa não ter mais os pais vivos ou por nutrir uma esperança de que, um dia, conseguirão fazer com que o outro evolua, por exemplo”, diz.
Como superar um término
Para Bárbara, independentemente dos motivos que levaram ao término, precisamos respeitar o tempo de cura para seguir em frente. “Fique um período recolhida em sua concha. Depois, comece o processo de superação fazendo uma limpa em sua vida física e emocional.”
Aqui, a psicóloga recomenda se livrar de pertences do ex-parceiro, apagar fotos e conversas e desfazer o vínculo nas redes sociais. “A partir do momento que a pessoa saiu de sua vida, não é benéfico saber da rotina dela. Busque cuidar de você”, afirma.
Para isso, a psicóloga comportamental Ana Carolina Antunes Fernandes indica atividades corriqueiras que, por mais simples que soem, são extremamente úteis no momento de nos reconstruir. São elas: praticar exercícios físicos, retomar hábitos que antes traziam prazer, reatar amizades que foram enfraquecidas durante o relacionamento, construir novas relações sociais, e, obviamente, apostar na boa e velha terapia.
“É necessário ter a ajuda de um profissional nesse momento. Por mais que um amigo possa nos dar ótimos conselhos, ele irá se basear em experiências particulares”, afirma. Aqui, Ana é categórica: a leitura neutra de um terapeuta sempre tenderá a ser mais assertiva.
Todas essas ações giram em torno de um tema central para a reinvenção pós-término: a solitude. Precisamos, em maior ou menor grau, reaprender a conviver com nós mesmos. “Não importa se iremos apostar em fazer um novo curso, uma especialização ou uma viagem. O importante é que, dentro dessas táticas, você se permita executar ações sozinha”, diz Bárbara.
Você, sua melhor companhia
Para Ana Carolina, as relações, por bem ou por mal, nos habituam a sempre estar acompanhada nas mais variadas atividades. Assim, procure realizar o movimento inverso: “Descubra como é a sua própria companhia. Como eu sou comigo mesma? Busque a solitude na solidão. Quando nos encontramos, se torna mais fácil o caminho da redescoberta”, afirma.
Caso você queira embarcar em dates casuais, não há problema algum (desde que a situação não traga sofrimento). “Se beijar e cair na farra lhe distrai e faz bem, maravilhoso. Agora, se isso provoca culpa, frustração e mal-estar no dia seguinte, não se force”, diz Bárbara.
Emendar um relacionamento no outro apenas para esquecer uma decepção amorosa também não funciona. Muito pelo contrário: pode apenas machucar e magoar a outra pessoa envolvida. O foco, para a palestrante, deve estar em criar novas metas e colocar todos aqueles projetos adiados em prática, seja uma mudança de emprego, de casa ou de cidade.
Inúmeros preconceitos e tabus culturais permeiam o conceito da separação — algo que recai de forma intensificada em pessoas de gerações mais antigas. “Muitas mulheres que viveram décadas com seus maridos, especialmente acima dos 50 anos, cresceram com a ideia de que o casamento é para sempre. Muitas delas inclusive tiveram um único parceiro”, afirma Bárbara. Nesses casos, a psicóloga reforça a relevância de expandir a atual rede de apoio, furando a bolha de amizades com novos grupos de convívio.
Feliz sozinha
“A felicidade, de maneira geral, não depende de estarmos em um casamento. Basta fazer uma linha do tempo, desde a nossa infância, para perceber que já tivemos muitos momentos de felicidade individual, sem a companhia de alguém”, diz Ana Carolina.
Segundo Bárbara, esse recomeço não precisa envolver um novo alguém. Muito pelo contrário: para pessoas que viveram relacionamentos complicados e traumáticos, pode ser saudável não querer ter mais parceiros (de forma definitiva ou temporária). “As nossas prioridades mudam constantemente e, desde que não haja sentimentos de solidão e tristeza ininterrupta, não há problemas em seguir só”, afirma.
Bárbara Menêses relembra que a sociedade nos cobra a viver paixões e amores o tempo todo, de forma que parece impossível ser feliz sozinha. Para driblar essas convenções, resta nutrir o autoconhecimento. “Pergunte-se: desse jeito está legal para mim? Estou bem assim? Se a resposta for positiva, então pronto”, diz.
De acordo com a psicóloga, as pessoas irão nos cobrar o tempo todo, não importa o nosso estado civil. Portanto, devemos focar apenas no que faz sentido atualmente. Por fim, ela deixa um recado imprescindível: “Nunca é tarde para reiniciar a nossa história da maneira que queremos”.