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Desejo de mãe: aos 38 e solteira, optei pela fertilização in vitro

A publicitária Camila* deu as costas para os modelos tradicionais de criar uma família e decidiu seguir o sonho de ser mãe sozinha

Por Depoimento a Kalel Adolfo
13 Maio 2022, 08h41
"Logo depois do parto, minha libido era zero. Eu só agradecia a Deus por não ter um marido que quisesse transar comigo em casa."
"Logo depois do parto, minha libido era zero. Eu só agradecia a Deus por não ter um marido que quisesse transar comigo em casa." (Ilustração Getty Images/Getty Images)
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“O sonho de ser mãe sempre esteve presente em mim, mas eu não tinha consciência de qual maternidade estava buscando. Antigamente, se um cara falava que queria ser pai, ele já era a pessoa ideal para mim. Só quando terminei meu último relacionamento e muita terapia depois, que entendi isso. Refletindo sobre o tema, decidi buscar formas de ser uma mãe solo. Aos 38 anos, não fazia mais sentido correr para achar alguém e acabar perdendo tempo hábil de transformar o meu desejo em realidade. Me informei sobre os procedimentos existentes e acabei optando pela Fertilização in Vitro (FIV).

Talvez a parte mais difícil do processo tenha sido anunciar a decisão. Fui julgada até pelos maridos de amigas minhas, que me chamavam de louca ou questionavam a adoção estar fora de cogitação para mim. Era como se eu não pudesse gerar o meu próprio filho só porque não segui o caminho ‘tradicional’ do casamento. Até tive alguns problemas no processo da gestação, como alterações de pressão e a necessidade de colocar um pessário, já que o meu assoalho pélvico não sustentava o peso dos bebês. Porém, nada foi mais conturbado do que o momento em que comuniquei a todos da produção independente.

O começo da maternidade também não foi fácil, porque meus filhos nasceram e precisaram passar uma semana na UTI. Quando vieram para casa, tudo era muito regradinho. E nem me fale do período das mamadas: precisava colocar um no peito, fazê-lo arrotar, trocar a fralda e o botar para dormir. Depois, pegava o outro bebê e repetia o processo. Dava 20 minutos no relógio e eu começava tudo de novo. Tinha até um caderninho para marcar quem estava no peito esquerdo e direito, para alternar. Fiz isso por dois meses, até que descobri um aplicativo que facilitou a minha vida. Mesmo assim, demorou para eu criar confiança o suficiente para deixar outras pessoas me ajudarem. Aliás, só saí para jantar com os amigos quando o Pedro* e a Nina* estavam com quase um ano.

Havia uma rede de apoio, mas eu tinha medo de que algo fosse acontecer quando não estivesse por perto. Até hoje não houve um instante em que pensei ‘Puts, tô pronta para namorar’. Eu já namorei para caramba e, agora, estou com a consciência de que não preciso mais. Se rolar algo no futuro, legal. O que acontece é que, às vezes, eu saio para a balada, conheço um cara legal e, eventualmente, vira um date. Só não programo mais nada depois. Adoro o diálogo da Mônica Martelli em um filme com o Paulo Gustavo: ‘Gente, é isso, dei a minha vida inteira e já curti. Tô com quarenta anos, vou parar de dar’. Eu acho que estou meio nessa posição agora: será que preciso de alguém para continuar? É muito doido. Daqui uns vinte anos, quando as crianças estiverem morando em suas próprias casas, isso pode mudar. Hoje, não está fazendo falta.

Eu me considero cabeça aberta. Então, claro, se eu quiser ir num bar e transar, eu vou e pronto. Isso não precisa virar um relacionamento, necessariamente. Fora que existe a questão hormonal. Logo depois do parto, a minha libido era zero. Eu só agradecia a Deus por não ter um marido que quisesse transar comigo em casa. E isso não significa que abandonei minha vida sexual porque virei mãe. Antes dos meus filhos, eu namorei por sete anos, tinha uma vida sexual ativa. Logo em seguida, me relacionei por mais três anos com outro. Quando a maternidade chega, os pensamentos estão em lugares diferentes. Estou muito realizada profissionalmente, satisfeita com meu círculo de amizades, realizada com a minha família… Quando bate aqueles cinco minutos, tenho os contatinhos antigos que estão aí para ajudar nessa situação, não é mesmo?

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No fim, seja seu parceiro homem ou mulher, ele não precisa ser predominantemente levado em consideração na hora de escolher ter filhos. A decisão da maternidade está dentro de nossos corações. Cara, se você está decidida a ser mãe, vá atrás do seu sonho. A partir da minha experiência, te digo: dá para fazer acontecer.”

*Os nomes foram alterados para garantir o anonimato de quem deseja escancarar o coração aqui no Papo Aberto.

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