Em 2018, eu e meu ex-namorado João* queríamos ter uma noite romântica num motel. Mas como ele trabalhava em uma padaria e precisava estar lá às 7 da manhã do dia seguinte, tivemos que escolher um lugar bem pertinho. Encontramos um local na rua da padaria, ali pelo bairro do Jaçanã em direção à Vila Galvão [Zona Norte de São Paulo]. Como estávamos quebrados na época, o fato do pernoite ser baratinho nos animou. Dava para transarmos num lugar com um preço acessível e, de manhã, o João caminharia até o trabalho. Tudo perfeito!
Do lado de fora, zero suspeitas: o estabelecimento estava bem conservado e tinha cara de apartamento. Chegando na recepção, uma mulher de uns trinta anos nos atendeu, sem nenhuma vibe esquisita. As coisas mudaram depois que pagamos a estadia. Ao subir as escadas, percebi a decoração estranha dos corredores: além de serem estreitos e claustrofóbicos, a pouca iluminação deixava as paredes vermelhas-escuras arrepiantes. Fiquei com uma sensação de estar onde não devia.
No quarto, os móveis eram velhos, os objetos decorativos estavam quebrados. Era como se ninguém reformasse aquilo desde o século passado. Até o carpete cheirava a mofo. Para a minha surpresa, nada disso nos impediu de transar.
Assim que gozamos, decidimos relaxar bebendo umas cervejas que havíamos levado. Ficamos papeando, tranquilos. Por alguns instantes, esquecemos do set de filme de terror que nos rodeava. O que durou pouco: o João deixou cair o celular no chão e, ao se esticar para alcançá-lo, viu coisas terríveis embaixo da cama.
Ele se virou com uma expressão surpresa e disse: ‘Você precisa ver o que tem aqui’. Quando olhei, um verdadeiro lixão. Mas o que mais me assustou foram as seringas e agulhas. Me senti péssima, pois sabia que aquele motel tinha uma energia pesadíssima. Imagina quantas coisas horríveis não rolaram naquele quarto? Fora que esses objetos são muito perigosos (e estavam em quantidades absurdas).
A partir daí, não deu mais para mim. Como eu estava suada e me sentindo suja por estar ali, precisei tomar um banho. Não ia aguentar voltar para casa naquele estado. A única coisa que esqueci foi o fato de estar hospedada no inferno. Adivinha com o que me deparei quando acendi a luz do banheiro? Lodo! A pia e a privada estavam cobertas daquela coisa verde nojenta.
Minha reação natural foi correr para debaixo do chuveiro. Quer uma dica? Não faça isso. No instante em que abri o registro, um fio de água gelada e escura caiu na minha cabeça. Era um fiozinho bem gelado, com cheiro de ferro.
Na hora, lembrei da história do Hotel Cecil, que a menina morreu na caixa d’água e o povo passou dias tomando banho e escovando os dentes naquele líquido de gente morta. ‘Será que tem um corpo na caixa d’água aqui também?’, pensei.
Só sei que, se antes eu já estava imunda, imagina depois daquilo. Gritei para o João ver se tinha outro quarto com um chuveiro melhorzinho. Ninguém atendeu na recepção e, por isso, o boy decidiu ser cara de pau e checar se algum estava destrancado no corredor. Assim que voltou, me disse que desistiu porque reparou em algumas baratas mortas no caminho.
Qualquer pessoa em sã consciência teria ido embora muito antes de tudo isso acontecer. Mas nós só vazamos nessa hora. Pensando bem, deveria ter pedido o nosso dinheiro de volta. No desespero, pegamos as coisas e saímos correndo. Sabe o mais interessante? Além da recepcionista, só vimos mais um casal na hora do check-out. Infelizmente, não os avisamos do que os aguardava. Espero que estejam bem.”
*Os nomes foram alterados para garantir o anonimato dos participantes. Para contar sua história, escreva para papoaberto@abril.com.br