Dizem que tudo muda em segundos, e eu tendo a acreditar: fui dormir, sonhei com meu casamento e acordei apaixonado. Cochilei enxergando em Telma, mulher 20 anos mais velha que eu, química renomada e sogra da minha irmã, a pessoa certa. Despertei tendo a certeza de que passaria o resto da minha vida com ela. Entre o abismo de duas décadas que nos separa, depois daquele dia nada foi suficiente para barrar o destino concreto que teríamos.
Parece loucura confessar amor a quem nunca imaginou estar com você, mas insanidade ainda maior é guardar a paixão para si. Resolvi, então, contar tudo para ela, que ficou assustada e disse que me enxergava como menino — eu nem tinha completado meus 19 anos ainda. Se o objetivo era me afastar, falhou. Passei a gastar o meu salário com flores. Tinha alcançado minha independência graças à profissão de cabeleireiro, que atuo até hoje, e não via problemas em demonstrar meu afeto.
Depois de um mês recebendo os presentes, Telma finalmente aceitou um beijo. Um misto de culpa com dúvida e paixão se remexia dentro dela. Desesperada, contou tudo à minha mãe, uma apoiadora da nossa união desde o início. Na época, Telma me perguntou o que faríamos quando ela envelhecesse, mas eu a convenci dizendo que também iria envelhecer, que se não fazia diferença agora, não teria problemas no futuro.
Com três meses de namoro, veio o casório, em maio de 1999. O mês também marcou nossa primeira noite juntos, na lua de mel. De lá para cá, nosso amor foi se construindo, ganhando forma. Temos diferenças, claro, como todo casal, mas nossas semelhanças se sobressaem.
Não tivemos filhos, nem seguimos o roteiro. Saímos juntos, damos risadas um com o outro e nos fortalecemos como indivíduos. Criamos até um canal no YouTube, lá em 2021. Dele surgiram inscritos, fãs, pessoas que torcem diariamente pelo nosso amor, por nós. Apoiamos casais, tiramos dúvidas coletivas a partir de nossa experiência pessoal e, cada vez mais, nos tornamos mais e mais apaixonados (nunca faltou sentimento).
Mas nossa história não é perfeita: Telma ficou entre a vida e a morte após sofrer dois infartos em abril do ano retrasado. Ela foi internada por uma semana na Unidade de Terapia Intensiva (UTI).
Ainda não me recuperei da angustiante sensação de poder perdê-la. Vivi mais de 20 anos com Telma, e, conhecendo essa sorte, nunca quis imaginar uma vida em sua ausência. Ela, ainda bem, se recuperou. Estamos aqui, em ritmo mais lento, mas estamos — nosso amor é um sonho real.”