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Como fazer um relacionamento sobreviver à chegada de um filho?

Um novo bebê costuma vir acompanhado de atritos para um casal. Nessa equação, o amor resiste diante de muita disposição, trabalho e solidariedade

Por Adriana Marruffo
11 Maio 2024, 08h00
mudanças no relacionamento após filhos
Apesar da chegada do bebê ser uma das maiores alegrias de um casal, também vem acompanhadas de algumas mudanças no relacionamento (Julia Jabur/CLAUDIA)
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Num misto de cansaço e amor, a mãe segura o filho no colo enquanto mexe o feijão na panela. Na lavanderia, o olhar do pai está perdido diante de uma montanha de roupas manchadas de leite e cocô de bebê, consumido pela rotina. Entre o turbilhão de pensamentos e tarefas a serem cumpridas, há um vazio sentimental: o casal  se uniu por amor — mas desde a chegada do filho, é palpável que não se enxergam mais como um par, são apenas duas pessoas com uma criança. 

Bebê é uma revolução

Paixão-união-reprodução… Esse é o roteiro que muitas duplas seguem quando começam a jornada de formação familiar. Mas o novo elemento nessa equação é capaz de mover todas as estruturas que antes estavam lá. É o que prova um levantamento feito pela ChannelMum.com, uma comunidade de pais no Reino Unido: após o nascimento de um bebê, um quinto dos relacionamentos termina no primeiro ano, enquanto um terço deles passa por problemas sérios. 

Esse foi o caso da influenciadora e graduanda em psicologia Ananda Urias (@ananda.urias). Aos 21 anos, ela viveu a maternidade pela primeira vez de forma solo. Eram apenas ela e a pequena Lara. Mas essa dinâmica não durou muito tempo.

Quando a primogênita estava prestes a fazer dois anos, Ananda começou a namorar, e antes da menina completar quatro anos, Ananda e Victor estavam casados e adaptados a uma rotina em família. Tudo mudou com a chegada da segunda filha. A maternidade e a paternidade não eram novidade para aquele casal, mas eles sentiram o baque.

“Depois da primeira filha, achávamos que nada fosse nos abalar. Não nos preparamos como casal para a chegada da segunda bebê, em 2015, e a Alice revolucionou tudo. Foi nosso momento de crise”, relembra. “A relação ficou em segundo plano. Eu não esperava que iria olhar para o meu marido e dizer ‘sai de perto de mim’ e ‘não me encosta’. Eu tinha uma ideia idealizada de maternidade, que vi nas novelas de Manoel Carlos. Mas foi o completo oposto na vida real”, lembra. 

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Ressentimento presente

Ananda conta que sua vida passou a ser resumida às burocracias do cotidiano, de buscar Lara no judô a amamentar Alice. A nova filha veio com um bocado de situações inéditas, entre elas, o desafio financeiro. Logo depois do nascimento, Ananda tomou a difícil decisão de abandonar sua própria empresa, o que abalou seu senso de produtividade. Assim, quando Victor chegava em casa, as emoções explodiam e geravam atritos constantes.

“Tudo causava ressentimento”, conta. Elementos corriqueiros do dia a dia se tornaram campo minado, e deixavam a comunicação e convivência cada vez mais frágil. “E olha que ele era um ponto fora da curva: apesar de trabalhar muito, tentava sempre ser um pai ativo em casa”, explica. 

“A gente chegou em um lugar complicado, e demorou para perceber”, explica. Foi depois de muitos embates que o casal começou a criar estratégias para voltar a se unir, que iam de esforços para melhorar a condição financeira à contratação de uma ajuda em casa, para que pudessem sair a sós. “Nem que fosse uma hora, nós precisávamos ter um momento nosso: de conversa e conexão. Assim a gente foi se reencaixando.”

Filhos vêm com bagagem

mudanças no relacionamento após chegada dos filhos
Os filhos vem com a sua própria bagagem para o relacionamento dos pais (Andrea Piacquadio/Pexels)

O nascimento de Alice é semelhante ao de muitos bebês, cujas chegadas, apesar de cheias de amor, colocam em pausa o relacionamento dos pais. “Mesmo que o bebê seja planejado e desejado, é comum que ele estremeça o casal. Isso porque, até então, toda a estrutura de vida — desde o acordar até a hora de dormir — era a de dois adultos. Com o nascimento do filho, eles deixam de ser um casal e assumem a função de pai e mãe”, explica Raquel Baldo, psicanalista e psicóloga especialista em casais.

Com o êxtase e o nervosismo que acompanham um novo bebê, pouco se conversa sobre as possíveis mudanças que ele trará para a dinâmica amorosa do dia a dia.

“A chegada de uma criança traz muitas responsabilidades e demandas. O foco do casal agora se move para o bebê”, coloca Isabela Teixeira, psicóloga de mulheres. A nova realidade pode levar a sentimentos de desconexão e até negligência entre os pares, caso não deem atenção à relação. 

Entre os motivos que podem acarretar em problemas está a falta de comunicação. “Muitas vezes os dois conversam muito, mas não como indivíduos, e sim como pai e mãe. É aquele casal que perde as histórias que tinha antes do bebê, como se isso fosse um momento de vida do qual precisam se despedir. Assim, deixam de sonhar com a continuidade deles enquanto par”, pontua a psicanalista.

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A partir disso, o casal, lentamente, vai perdendo sua intimidade — o que é a porta de entrada para diversos conflitos. Isso inclui a vida sexual, que, com a falta de mistério e sensualidade, fica cada vez mais esquecida. 

Os abalos também podem vir quando fica evidente que as estruturas culturais de cada um são muito diferentes, com visões distintas para a criação. Se ambos não desejam os mesmos ideais para o filho, conflitos vêm à tona.

Além disso, muitas famílias ainda adotam um sistema patriarcal de organização, no qual a mulher é encarregada de todas as atividades do lar, enquanto o pai se limita ao trabalho fora de casa. 

O resultado são mães sobrecarregadas, solitárias e, muitas vezes, ressentidas. 

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Em 2019, um estudo do IBGE estimou que as mulheres dedicavam, em média, 21,4 horas semanais aos afazeres domésticos e aos cuidados com pessoas, enquanto os homens gastavam apenas 11 horas. Só esse fator já é o suficiente para causar inúmeros problemas conjugais. 

Um novo amor no velho amor

Os abalos, atritos e desconexões, porém, estão longe de necessariamente significar o fim da relação. Para que a união permaneça, é preciso um redesenho, uma nova forma de encaixar as peças no quebra-cabeça familiar.

“O casal, antes de qualquer coisa, precisa se preparar e se planejar emocionalmente. É necessário aceitar que haverá uma transformação na relação, que se tornará triangular. Portanto, é preciso encontrar uma solidariedade conjugal”, explica Raquel

Para a psicóloga de mulheres, a adaptação precisa ser colaborativa e inclusiva, além de baseada na solidariedade — ou seja, pensando nas necessidades individuais de cada um. Nesse sentido, é importante definir tarefas mesmo antes do parto, evitando possíveis discussões sobre quem faz mais ou quem faz menos. Ambos precisam dividir cansaços, dores e alegrias — e aprender a ceder, quando o outro está com alguma necessidade especial.

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Assim como Ananda e seu marido fizeram depois, Isabela recomenda marcar momentos sem interrupções: “Reserve tempo para dialogar sobre as próprias queixas, preocupações, buscando soluções que funcionem para ambos. Também é fundamental que os pares se disponham a ser vulneráveis e acolhedores com as demandas de cada um”.

“O que mantém uma relação amorosa ativa é a capacidade de um sonhar com o outro. Um relacionamento precisa possuir essa comunicação que fica nas entrelinhas. Esse é o flerte”, reflete a psicanalista. Portanto, uma das principais estratégias de manter o afeto, o amor e o mistério de antes é reservar espaços no dia a dia.

Pode ser um almoço semanal ou, como faz a Ananda hoje em dia com o Victor, uma noite para relaxar com vinho e um programa. É assim que um  casal vai poder continuar criando suas próprias histórias — ao mesmo tempo em que cria um novo ser humano.

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