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Viciada em se apaixonar? Isso pode interferir negativamente na sua vida

Pular de uma relação para outra e não saber viver sozinha são sintomas deste vício

Por Julia Minhoto
Atualizado em 24 mar 2023, 15h41 - Publicado em 24 mar 2023, 09h59
Saber estar sozinha é essencial para a construção do amor próprio.
Saber estar sozinha é essencial para a construção do amor próprio. (Sevil Yeva/Pexels)
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A química cerebral está amplamente conectada com as nossas emoções e o vício por sentir também é comum na maioria das pessoas: dentre os hormônios liberados pelo nosso cérebro quando nos apaixonamos, a adrenalina, responsável pelo frio na barriga e a excitação, pode gerar aquela necessidade de sempre ter alguém para ficar minimamente obcecada. Se você não conhece alguém assim, talvez você seja essa pessoa. 

Mas você sabia que existem diversos malefícios nesse tipo de comportamento? Conversamos com a psicóloga clínica com formação em Terapias Cognitivas, neuropsicóloga e especialista em relacionamentos, Ana Paula Torres, para desvendar a mente de quem é viciada em se apaixonar.

Como é a vida emocional de uma pessoa viciada em se apaixonar?

De acordo com a especialista, uma pessoa que vive nessas circunstâncias geralmente coloca o outro como protagonista em sua vida, porque é através de uma segunda pessoa que ela se proporciona o prazer que está buscando. “O foco da vida dessa pessoa não está sobre ela, podendo transformá-la até mesmo em alguém obsessivo”, explica. “A parte individual dessa pessoa enquanto indivíduo acaba negligenciada, sempre em segundo plano”, acrescenta.

Por que a solitude não é uma opção?

Viver um tempo em plena solitude é necessário para o autoconhecimento. Mesmo dentro de relacionamentos, é importante prezar pela individualidade e experiências pessoais. Entretanto, alguém não saber estar sozinho se relaciona, muitas vezes, ao vício pela paixão que pode ser explicado de maneira neurológica, envolvendo a química cerebral.

“A necessidade por se apaixonar se dá pela adrenalina, e esse sentimento provoca essas reações. Isso faz com que essa pessoa se sinta mais viva, disposta e animada“, conta.

Entretanto, essa sensação tem curta duração. Sendo assim, uma vez que a paixão acaba, a pessoa que está viciada nesse sentimento tende a tomar atitudes que farão com que ela se sinta assim novamente. “Mesmo que ela rompa um relacionamento, ela terá a necessidade de se sentir apaixonada novamente, então ela buscará novas relações que podem fazê-la sentir o êxtase do estado inicial de um relacionamento”, explica Ana Paula.

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O vício é repetição

Primordialmente, a neuropsicóloga ressalta que essa não é a condição final da paciente, mas sim a consequência de algumas circunstâncias que essa pessoa vivenciou que refletiram no modo dela de se relacionar. Ou seja, assim como todo vício, esse comportamento pode ser proveniente da infância, criação ou de reproduções de suas relações anteriores. 

A compreensão do afeto que esse indivíduo construiu dentro de seu ecossistema de conexões, pode determinar como ele pode vir a se relacionar no início da vida adulta. “Podemos afirmar que essa atitude é resultante de seu ambiente de criação e das dinâmicas relacionais constituídas naquele lugar”, aponta.

De acordo com a especialista, os seus primeiros relacionamentos, por sua vez, também podem instaurar um ciclo de repetição, pois existe uma constante busca do que é familiar para aquela pessoa, ou pela necessidade de preencher faltas ou curar traumas.

“Esse comportamento pode, inconscientemente, vir a se perpetuar até como um método de resolução de algumas questões”, defende Torres.

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O momento em que se torna prejudicial

De acordo com a neuropsicóloga, a tendência é que dentro dessa dinâmica relacional esteja estabelecida a insatisfação quando os hormônios proporcionados pela paixão se dissipam. Portanto, é normal que continue a pular de uma relação para a outra. 

“Enquanto o indivíduo não identificar essas circunstâncias que ele está vivenciando como um possível problema e como uma limitação em sua vida emocional, ele continuará perpetuando o ciclo”, conta.

Nesse caso, a pessoa pode estar sempre em busca de um amor que não recebeu na infância ou possuir um medo extremo de rejeição e abandono, que acaba sucedendo em autossabotagem.

Por não se tratar de uma prática saudável, Ana Paula concorda que essa seja uma conduta passível de mudança. “O primeiro passo é o reconhecimento de que a forma com que esse alguém está se relacionando é prejudicial para a vida dela, e depois desse entendimento vem a etapa do autoconhecimento, como recursos pessoais e habilidades a serem adquiridas em um processo terapêutico feitos com o acompanhamento de um profissional especializado”.

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Saber estar sozinha é importante

Pelo fato de os seres humanos serem seres sociais, é importante que nutramos relações saudáveis. Todavia, também é importante que desfrutemos de nossa própria companhia. De acordo com Ana Paula, isso desempenha uma papel imprescindível em nossa saúde mental.

“São nesses momentos individuais que vamos desenvolver nossa criatividade, principalmente voltada para a resolução de problemas. Além de, também, explorarmos nossos sentimentos e nossos interesses próprios”, destaca.

Tirar um tempo para si também é importante para se qualificar, estudar novas áreas de conhecimento, procurar hobbies e atividades prazerosas. Esse tempo faz com que construamos nossa própria identidade, e mais importante, um pilar para se sustentar. Assim, nasce a  cobiçada autossuficiência. “Esse tempo individual faz com que desenvolvamos nossa própria base e não fiquemos sem chão quando outras pessoas e situações forem embora da nossa vida”, evidencia a psicóloga.

Ana Paula defende também que ficar sozinho após o término de uma relação é fundamental para que a pessoa elabore seu luto e ressignifique seus planos com outro, para que eles se transformem em experiências intrínsecas.

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Lidando com momentos de solidão

Ficar sozinho nem sempre é tarefa fácil. A apreciação de nossa própria companhia existe em determinados momentos, mas também é necessário entender que existe uma linha tênue entre a solitude e a solidão, e é fundamental que aprendamos a lidar com as duas situações.

“A angústia da pessoa que está sozinha é ver, muitas vezes nas redes sociais, as pessoas demonstrando que lidar consigo próprio é extremamente confortável e somente positivo”, frisa a profissional. Lidar com a solidão que aparece em meio aos momentos de soledade é um trabalho árduo, mas que constrói um caminho para que sejamos nosso próprio alicerce.

 

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