O Brasil ocupa a nona posição entre os países em que as pessoas mais têm tatuagens, mais de 30% da população é tatuada e 75% têm mais de uma tattoo, segundo os dados do Instituto alemão Dalia. Há algumas décadas, essa forma milenar de arte era vista como algo marginalizado, hoje em dia, muita coisa evoluiu – ainda que exista certo preconceito e desinformação sobre o assunto.
Mas tudo é cultural, as mulheres da tribo Kalinga, nas Filipinas, consideram tatuagens um símbolo de beleza e por milhares de anos, representava um tipo de perfeição. Quem não tivesse, não era desejada. Esse contexto mudou quando no começo do século XX, os missionários católicos norte-americanos chegaram para “catequizar” a tribo.
As meninas da aldeia foram obrigadas a cobrir os braços com mangas compridas, para esconder suas tatuagens e isso passou a ser visto de outra forma. Apesar disso, essa tradição das mulheres Kalinga tatuadas continua sendo passada de mãe para filha (ainda bem!).
Voltando para o Brasil, na mídia e em profissões que permitem mais liberdade, como ramos da arte e comunicação, vemos mais presença de pessoas com tatuagens. As apresentadoras Astrid Fontenelle e Penélope Nova, exibiam seus desenhos pelo corpo quando eram VJs da saudosa MTV Brasil e continuam até hoje pregando a palavra das mulheres tatuadas e maduras – que é outro tabu.
Batemos um papo com as duas durante o lançamento do novo sabonete Protex Pro Tattoo, feito especificamente para peles tatuadas. Esse é o primeiro item de higiene com esse propósito e não só no Brasil, mas no mundo.
“Quando a gente vê que tem uma linha de produtos de higiene e a beleza lançando um sabonete específico para tatuagem, você fala ‘uau, o mundo mudou'”, conta Astrid.
“Hoje a tatuagem está ali não só na área de humanas, não sou só eu na televisão. Pensando em uma geração antes da minha, Maria Gabriela, tinha uma tatuagem na perna, ainda que fosse escondida. Eu acho que estou em um momento da história que as coisas já estavam facilitadas. Nunca passei por nenhum preconceito, ainda mais na área que eu trabalho”, completa.
A apresentadora se considera privilegiada por estar inserida um contexto mais evoluído quando o tópico são tatuagens.
“O planeta hoje está abraçando essa mulher com mais de 60 anos, eu vejo na complexidade. A gente parava nos 40 anos, porque a gente foi feita para parar quando para de ovular, quando chega na menopausa.”
Astrid Fontenelle
Penélope Nova parte de outra linha de raciocínio, ela entende que a sociedade está evoluindo, mas que ainda sente discriminação contra pessoas tatuadas.
“O preconceito com a tatuagem remonta o tempo onde a tatuagem surgiu e na época que ela surge só quem fazia era uma galera que trabalhava em porto, prostitutas, pessoas que estavam à margem da sociedade”, diz a apresentadora, que relacionando isso com o que os pais costumam pensar sobre tatuagens. Ela fez sua primeira tatuagem aos 18 anos, porque foi quando seu pai, o músico Marcelo Nova, deixou.
“Eu particularmente agradeço muito o meu pai por não ter me deixando eu me tatuar com 14 anos. Graças a isso eu pude entender que se eu fosse devagar seria melhor. Eu vejo muito essa mentalidade dos pais neste sentido de cuidado”, ela cita exemplos de pessoas que conhece que fizeram tatuagens muito rápido e fecharam os braços de desenhos. “Meu braço é fechado, mas eu tive o senso estético de ir encaixando uma coisa”.
Astrid foi a primeira VJ da história da MTV Brasil, ela começou a transmissão do canal por aqui e hoje, faz parte do grupo de mulheres que comandam o Saia Justa, da GNT. Astrid tem mais de 30 tatuagens e com o passar do tempo, tem feito ainda mais, tirando completamente estigmas de mulheres mais velhas tatuadas e outros.
“O planeta hoje está abraçando essa mulher com mais de 60 anos”
“Agora que estou mais velha, estou caprichando. Eu tô fazendo mais e mais”, diz ela, completando com os tabus que pregam sobre idade. “Vão colocando na nossa cabeça vários preconceito só para nos limitar, porque era para gente estar dentro de casa lavando, passando e costurando. Porque a mulher mais velha não pode usar regata, não pode ter cabelo comprido e outros. Essa do cabelo longo eu acho surreal e ouvimos isso recentemente da Carolina Herrera. Meu cabelo branco foi uma conquista da pandemia, tingir o cabelo era algo que estava me incomodando muito, especialmente naquela altura do campeonato”.
O comentário que Astrid se refere da designer venezuelana foi o seguinte: “apenas mulheres sem classe mantêm os cabelos longos após os 40 anos. Uma mulher deve envelhecer graciosamente, e não tentar ter uma idade que não tem ou parecerá ridícula”. Ela ainda falou minissaia e biquíni também são apenas para jovens, essas falas são de entrevista ao Daily Mail. Diferentemente do que pensa Carolina Herrera, Astrid sente que a sociedade tem aceitado melhor mulheres com mais de 60 anos.
“Ainda temos esse estigma esse preconceito, mas a sua geração vai aceder vela para mim. A Astrid foi um das primeiras mulheres que eu vi na televisão de cabelo branco, vocês vão dizer”, comenta a apresentadora sorrido.
“É muito natural que meu pai e seu pai eram contra isso. Tem um preocupação em não querer que você sofra, porque é isso que os pais fazem.”
Penélope Nova
Astrid disse também que sempre pensou muito bem onde colocaria cada tatuagem, mantendo em mente locais que talvez não ficassem tão bacanas com o passar do tempo. Ela também acha importante os tatuadores terem uma noção menor das pele maduras, é bem diferente fazer uma tatuagem em pessoas jovem e em alguém com rugas. Independente da idade, é muito comum quem já é tatuado continuar fazendo outros desenhos ao longo da vida. Mas esse papo que tatuagem vicia já caiu por terra, né?!
“Eu não acho que seja um vício, eu acho que é uma questão de identificação com essa ideia de ter representações gráficas de coisas com as quais você se identifique de uma forma permanente em você. Tem gente que não quer nenhuma e acha bonito, essa é outra ideia pré-concebida que a gente tem, de que maioria das pessoas costumam achar que se alguém não tem tatuagem é porque não gosta. Meu namorado não tem nenhuma tatuagem e não quer fazer. Eu não vou dizer que ele ama as minhas tatuagens especificamente, mas certamente se ele não achasse bonito, não teria uma namorada tão tatuada, quanto eu então assim”, diz Penélope.
Fato é que em 2023 temos uma liberdade muito maior para sermos autênticas e mostrar através do nosso estilo quem somos, não importa a idade. Como Astrid mesmo disse, ser uma mulher na televisão com mais de 60 anos que não tem medo de expressar o que pensa e nem da forma como se sente bem é algo que vai ressoar ainda mais nas gerações futuras. O mesmo vale para Penélope Nova, que mudou a forma como muitas mulheres pensam sobre a liberação sexual. Por muitos anos, ela apresentou um programa sobre sexo na MTV, Ponto Pê, nos anos 2000, e continua a influenciar com suas opiniões nas redes sociais.