Período sabático e transformador
"Dividirei com vocês as alegrias e anseios de uma executiva em transição, momento que vivo"
Aqui vou eu, em minha estreia como colunista da CLAUDIA, revista que tenho grande carinho e respeito. Para aqueles que ainda não me conhecem, sou paulista, paulistana, 47 anos, brasileira e apaixonada pela vida e sempre que posso estou próxima daqueles a quem aprendi a amar.
Ativista, consciente das mazelas e abismos socioeconômicos que vivemos, feminista que busca forças em nossas heroínas nacionais de causas múltiplas como Conceição Evaristo e Luiza Trajano, entre tantas outras anônimas deste nosso Brasil “gigante pela própria natureza”. Sou admiradora da arte, de Tarsila do Amaral e de Anita Malfatti, duas damas do modernismo brasileiro que, em 1920, já encantavam o mundo, além de Pablo Picasso, paixão da minha vida.
Dividirei com vocês as alegrias e os anseios de uma executiva em transição (momento que vivo), como escolho minhas batalhas neste novo momento, que culmina em um cenário socioeconômico desafiador e tumultuado (ainda não sei quem será meu candidato presidencial) e, também, como tirar proveito de tudo isso na minha curva de aprendizado pessoal e profissional.
Este momento “sabático” tem me aberto muitas portas e oportunidades. Por exemplo, nunca imaginei que pudesse ser tão requisitada para ministrar palestras sobre “Varejo & Experiência do Consumidor”, além de “Gênero & Raça”. Adicionalmente, atuo como mentora de executivos negros talentosos já inseridos no universo corporativo, empreendedores ou intraempreendedores. Também exerço o papel de mentorada por meio de um programa fantástico lançado pelo Instituto Brasileiro de Governança Corporativa (IBGC), com foco sobre a Diversidade nos Conselhos.
Quando olho para trás, entendo que cada passo que dei, cada movimento que fiz, me trouxe o aprendizado necessário para desempenhar estas atividades que hoje são tão gratificantes, e que por sua vez, me trazem novos aprendizados. Ao viver cada dia presente, ao tomar decisões, estamos escrevendo a história que será contada sobre o nosso passado e hoje me sinto contente por dividir a minha história com vocês.
Sou a filha caçula de sete irmãos, com pais de origem mineira. Fomos educados na periferia da zona sul de São Paulo, estudamos em escola pública do pré-escolar a 8º série. Participei do “Festival Estudantil de Bandas e Fanfarras”, toquei os instrumentos prato e depois bumbo na minha saudosa EMEF João de Deus Cardoso de Mello, que foi por muitos anos premiada a melhor fanfarra, e visava proporcionar aos jovens o conhecimento musical e o gosto por essa arte. Aquela fanfarra era o nosso orgulho de vida estudantil.
Meus pais sempre nos apoiaram nos estudos, e pegavam duro com os sete filhos. Olhavam de forma atenta e respeitosa o que nossos professores diziam sobre nosso comportamento e desenvolvimento. Me inspirei no meu irmão Léo, o mais velho entre os filhos homens, e formei-me em ciências contábeis na FMU. Fiz Pós e MBA em finanças, na FIA e na FGV, respectivamente. Especializei-me em cursos de instituições renomadas como USP, Harvard e University of Victoria, no Canadá.
Buscava sempre agregar valor ao meu currículo. Entendia que o mercado que foquei, corporativista, necessitava de nomes de instituições de primeira linha para as melhores vagas, naquela época. Temo que, ainda, algumas empresas tenham este pensamento nos dias de hoje, ignorando o fato que perdem talentos com essa prática discriminatória. Passei alguns anos no exterior e fiz de tudo para me manter e pagar meus estudos, de faxina e promoter à atendente em festas.
Em minha vida corporativa, sempre foquei em trabalhar em grandes corporações. No Banco do Brasil, na extinta CACEX, atuei como estagiária, e na Seven Eleven, maior rede de lojas de conveniência americana, fui controller. Na farmacêutica Novartis, também fui contratada como controller. Não só acumulei uma valiosa experiência em gestão e visão estratégica como, também, ampliei minha vivência internacional.
Tudo isso somado formou a base para o salto que eu perseguia em minha carreira: a direção financeira de uma grande empresa. Fui contratada pela Tiffany & Co. e atuei na direção financeira da empresa por sete anos e meio, trabalhando diretamente com a CEO para a consolidação da marca no Brasil. Um período de muito aprendizado!!! O varejo de luxo tinha entrado definitivamente nas minhas veias. Contrariei as estatísticas do universo de luxo – mulher, negra, criada na periferia, continuei minha trajetória ascendente, enfrentando preconceitos velados e explícitos. Afinal, fomos o último país a abolir a escravatura – temos apenas 130 anos de liberdade e um longo caminho a percorrer.
Morei nos Estados Unidos e no Canadá focada no aprimoramento de skills técnicos, liderança e a língua inglesa (Nova York, Chicago e Miami). Adorava passear no Metropolitan Museum e frequentava os bailes blacks na Universal Studio em Orlando, na Flórida.
Em 2010, surgiu um novo e grande desafio na minha vida. Partindo do ponto zero, construir a marca PANDORA e o conceito no Brasil de uma grife que já era conhecida globalmente. Tive medos e dúvidas sobre minha capacidade e a grande responsabilidade que estava adiante e, ano após ano, fazendo e refazendo equipe, pude apresentar o resultado que hoje todos podem ver e reconhecem. Sou grata por todos estes anos de aprendizado e capacitação que me fizeram chegar a este novo momento de vida, que inclui perceber quando partir, o que também é um sinal de maturidade profissional.
Como mencionei, neste momento, me presenteio com um curto período sabático. Serão apenas alguns meses, bem produtivos. Como minha mãe costuma dizer “…. enquanto descanso, carrego pedras”. Estou dedicada à consolidação do CAPACITA-ME, programa focado na educação e empregabilidade, que conta com o empenho de duas guerreiras, a Marcia Prates e a Arady Danel, além de uma rede de executivos amigos e simpatizantes da causa, que colaboram por meio de oportunidades em suas empresas para os profissionais capacitados.
Lá em casa, minha filha Sarah Maria está bem feliz, passamos parte das férias juntas, coisa que não faço desde quando ela nasceu. Hoje, Sarah Maria está prestes a completar sete anos, e essa nossa experiência tem sido incrível, de muita parceria e cumplicidade entre a gente. Inclusive, ela tem me ajudado a escrever algumas linhas do livro sobre minha “trajetória e compartilhando saberes”, que espero lançar em 2019.
Por último, mas não menos importante, tenho escrito colunas para a revista econômica “Forbes”, promovendo neste espaço uma reflexão com base em minhas experiências como executiva e as transformações que vivemos.
Aqui, estreio minha primeira coluna em CLAUDIA, que tanto admiro porque sabe conciliar, como poucas publicações, histórias, moda, tendências e transformações do universo fashion com um toque pessoal e especial. Em minha coluna aqui, vocês poderão acompanhar minhas experiências e relação com a vida, o trabalho e pessoas que, de uma forma ou de outra, deixaram um aprendizado.
Serei simplesmente eu, de corpo, mente e alma. Intimista e pessoal como sou durante um café ou almoço com as minhas amigas, ou ao longo de um bate-papo agradável com alguém interessante que acabo de conhecer. Muito prazer, meu nome é Rachel! Me conte sua história e faça sugestões de temas. Também gostaria muito de conhecer você. Um forte abraço!
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