A jornada dupla da liderança feminina
Adriana Teixeira, head de brand PR do Grupo Heineken, discorre sobre desafios e vivências durante sua trajetória profissional
“Toda jornada da mulher no mercado de trabalho tem muitos desafios e dificuldades, comigo não foi diferente”, disse Adriana Teixeira ao abrir o talk sobre liderança feminina ocorrido na Casa Clã 2024, evento feminino da Editora Abril. Mãe, esposa, jornalista e “a day dreamer”, como se define nas redes sociais, ela é a atual head de brand PR no Grupo Heineken, mas ressalta que nem sempre é fácil estar nessa posição de destaque no mercado corporativo.
Encontrar o equilíbrio na rotina de trabalho, de fato, pode ser desafiador. Foi justamente esse o tema abordado no encontro do qual Adriana participou. Mediada por Paola Carvalho, colunista de CLAUDIA, e com a participação de Andrea Abelleira, publisher da Abril, a conversa incluiu os caminhos que levaram as painelistas à liderança e as dificuldades envolvidas nesse processo.
A trajetória da comunicadora
Profissional na área de comunicação e marketing há 15 anos, Adriana teve passagem pelas principais emissoras do país, como TV Cultura e Record TV, atuou em grandes marcas, como Adidas, O Boticário e Marisa, e lecionou pela Fundação Armando Alvares Penteado (Faap), até chegar ao seu cargo atual. “Eu tenho dois anos só de Grupo Heineken, mas o pessoal brinca que parece que são quase dez”, disse.
Ela contou que durante sua carreira teve o privilégio de passar por lugares onde pôde vivenciar momentos únicos, como a realização de cobertura da Copa do Mundo e da Copa das Confederações no Brasil, em 2013 e 2014. “Fazer parte de algo tão grande assim, no meu país, sentindo de perto a emoção das pessoas, aquela euforia que só o futebol e as arenas de festivais de música proporcionam, foi muito marcante.”
Os eventos, inclusive, marcaram boa parte da trajetória de Adriana. Ela esteve presente em festivais como Rock in Rio, Meca Festival, Rock the Mountain, The Town e Mita Festival. Entre diversas conquistas e grandes projetos, porém, um dos seus maiores desafios, desde o começo de sua carreira, é enfrentar o mercado de trabalho sendo mulher.
O lado feminino do mercado
Adriana reforçou que enfrentar o machismo dentro das empresas ainda é uma dificuldade e que não existe uma fórmula para lidar com esse problema. “Em alguns momentos eu tive que ser mais masculina ao falar. Mas uma hora eu decidi ser realmente quem eu sou e trabalhar todas as minhas potências como mulher.”
O mercado cervejeiro, do qual Adriana hoje faz parte, é um dos que mais crescem no Brasil. De acordo com o Anuário da Cerveja, divulgado pelo Ministério da Agricultura e Pecuária, o setor cresceu 11,6%, com a abertura de 180 novos estabelecimentos em 2022.
Não é de hoje que a cerveja é preferência nacional e isso não se restringe aos homens. Os dados mais recentes do levantamento Consumer Insights mostram que as mulheres contribuem gradativamente para o aumento da bebida no país. Os registros históricos também relatam que a invenção da cerveja – e a adição do lúpulo à receita – é obra feminina. Ainda assim, porém, é comum relacionar a bebida ao universo masculino.
Pensando nas dificuldades que muitas mulheres ainda experienciam no ambiente profissional – e principalmente nesse setor –, no último Dia Internacional da Mulher, o Grupo Heineken criou uma nova campanha: “E se o que as mulheres vivem no mercado de trabalho tivesse um sabor? Que gosto teria?”.
Lideranças do Grupo Heineken e do mercado foram convidadas a experimentar um novo produto, mas com um porém: a bebida tinha um gosto ruim. A ideia era simular a sensação que muitas mulheres vivem cotidianamente. “É esse líquido que amarra na boca mesmo. Chamamos as pessoas e não contamos que elas iriam provar algo que tinha gosto horroroso. São as verdades difíceis de engolir. Fizemos essa ação para chacoalhar, para falar dessa temática dentro e, especialmente, ampliar o diálogo fora da companhia, de um jeito divertido. O jeito que o Grupo Heineken faz.”
Liderança feminina em perspectiva
Segundo dados divulgados pelo estudo Panorama Mulheres 2023, a participação feminina na presidência das empresas brasileiras subiu para 17% em 2022. O levantamento também indica que a presença das executivas aumentou entre cargos de vice-presidente, de 23% para 34%; e em conselhos de 16% para 21%.
Adriana contou, na Casa Clã, como a intencionalidade de trazer as mulheres para espaços de liderança é tema cada vez mais abordado dentro do Grupo Heineken. “Em 2022, colocamos como meta para até 2026 que 50% da liderança seja feminina. A meta global é de 40%, mas o nosso CEO nos desafiou a sermos ainda maiores. Hoje estamos em 37,4%.”
A head de brand PR da marca disse que para ampliar a diversidade de gênero na companhia foram criadas metas sólidas para garantir o atingimento dos objetivos. A empresa olha para áreas em que ainda existe uma lacuna entre as lideranças femininas e implementa programas de aceleração de carreira, como o trainee interno “Elas que brilham”, focado em supply chain, mentorias de carreira, como o “Be Leader Delas”, além de vagas afirmativas.
Além disso, a Heineken também criou a Diretoria de Felicidade, uma iniciativa formada por profissionais de recursos humanos e de saúde que busca entender como a companhia pode cuidar dos funcionários, considerando emoções que ocorrem dentro e fora do ambiente de trabalho.
“É uma responsabilidade coletiva. Todas as empresas deveriam ter metas para isso. Essa luta começou no Dia das Mulheres há muitos anos, e ela foi coletiva. Eu acho que isso continua, principalmente dentro das empresas. E sem que a gente precise levantar um pouco a voz ou se impor mais. Tem que ser algo natural. Esse é um problema que tem que ser meu e seu”, encerrou.