A apresentadora Eliana estreia no streaming no comando do reality de empreendedorismo Ideias À Venda, na Netflix. Não tem planos de deixar a TV aberta (sua paixão), mas decidiu abandonar a rigidez que se impunha. Em 2022, completa 50 anos e comemora os ganhos que a maturidade trouxe
Estar há mais de 30 anos na televisão aberta é a consolidação de Eliana no topo da carreira profissional. A conquista demandou muitos esforços, de postergar a maternidade até impor autocobranças sobre sua imagem e forma de agir. Também trouxe (e traz) muitas alegrias, claro. Mas chegou a hora de ir com calma. “Leveza é uma busca importante diante de tantas batalhas que a gente tem que seguir”, contou a apresentadora à CLAUDIA durante as suas férias em família em Trancoso, na Bahia.
Pegar leve, no vocabulário de Eliana, também é abrir espaço para um compromisso de trabalho que trará grande satisfação, mesmo que signifique uma interrupção no período de descanso. Pegar leve é aprender a brincar com o imponderável: nem uma tempestade de verão paulistana no dia da sessão de fotos tirou seu bom humor ou determinação de conseguir os cliques mais espontâneos no estúdio. Nessa leveza cheia de agitação, Eliana achou tempo para mais uma estreia.
“Claro que o colágeno não é mais o mesmo, mas estou mais segura do que com 20 e poucos anos e isso é espetacular”
Pela primeira vez, a partir de fevereiro, a vice-líder de audiência dos domingos na TV estará no streaming. Ela comanda o reality show Ideias À Venda, na Netflix. Na competição, cada episódio traz quatro empreendedores que apresentam suas inovações em busca do prêmio de 200 mil reais. Absolutamente desenvolta, ela faz de tudo: prova um petisco natureba para pets (!), testa um secador de cabelos silencioso, dá dicas de negócios, chora e dá muita, muita risada. A liberdade de não ligar para o que os outros vão pensar veio com a maturidade e os 50 anos que chegam em novembro. Estranhou o número? Na internet, você já deve ter visto uma idade diferente. A estrela explica a confusão de datas que se alonga há anos e comemora as conquistas de ser exatamente como é agora. Nem um ano a mais, nem um ano a menos.
Pegar um avião para São Paulo especialmente para fotografar a capa de CLAUDIA e encarar todos os imprevistos juntos, de chuva de granizo a falta de luz. Como você lida com o que foge do controle?
Estou quebrando algumas regras da minha vida. Pela primeira vez, eu realmente decidi interromper as minhas férias para fazer algo que queria muito, que era essa capa. Foi muito especial ter falado aqui para as crianças: “Mamãe está muito feliz com um convite, estou indo ali e já volto”. Fazer esse carinho para a gente mesmo é importante, sempre. É trabalho, mas é também prazeroso. Achar esse ponto de equilíbrio para a vida é muito saudável.
Como você experimenta esse balanço?
A maturidade me trouxe certeza de algumas coisas, principalmente nesses mais de dois anos de pandemia. Estar com as pessoas que a gente ama é algo que faz bem para a alma e para a nossa saúde mental. O trabalho também é muito significativo. Conseguir conciliar esses dois lados, para mim, é considerar a minha felicidade e a minha realização enquanto mulher e mãe. Mas, sem dúvida alguma , estar com meus filhos é a minha prioridade.
E sempre foi assim?
Por muitos anos, priorizei o trabalho. Fui mãe aos 38 anos. Cada vez mais as mulheres querem ser primeiro protagonistas de si e do trabalho para, depois, se abrir aos relacionamentos, à família, aos filhos. Estou numa fase em que posso escolher e, hoje, a escolha é passar mais tempo com a minha família. O que inclui cuidar de mim e daquilo que me faz feliz e realizada, que é o meu trabalho.
A vida pessoal e profissional não se misturam?
Tenho exercitado essa leveza de também poder trazer meu trabalho para dentro da minha intimidade. Sempre fui muito dura comigo. Para fazer uma entrevista, achava que deveria estar presente fisicamente. Ou ao menos num escritório, arrumada, produzida. A maturidade me trouxe essa liberdade de ser quem eu sou. Demorou, mas estou no caminho.
Durante as férias, você compartilhou que estava acompanhando a transmissão do seu programa, com um pôr do sol lindo rolando atrás. É possível desligar completamente?
É necessário desligar para se conectar com a sua essência, com as coisas que realmente importam. Mas quando é prazeroso você acessar as duas coisas, tudo bem. Se não me incomoda, está ok. Se começa a pesar, daí eu desconecto por completo. Fiz muitos trabalhos na pandemia de maneira remota. Ficamos quase quatro meses sem ir ao estúdio, mas consegui fazer muita coisa dentro de casa. A tecnologia, se usada a nosso favor, funciona muito bem. Quando estou no Brasil, consigo ver meu programa pela televisão. Se estou fora do país, consigo assistir pelo aplicativo.
Sempre assiste, então?
Gosto de estar por perto de tudo que eu empreendo. Realmente acredito que se você cuida daquilo que você tem, sempre fica melhor, mais original, mais com a sua cara, mais verdadeiro. Isso me faz bem.
Você está há muitos anos na televisão aberta. A possibilidade do streaming foi diferente? O que pesou na decisão de topar o projeto na Netflix?
O streaming é mais uma forma de comunicação audiovisual, complementar à televisão. Uma coisa não exclui a outra. Sou muito curiosa e gosto de novidades, então ter tido a chance de ampliar a maneira como me comunico com as pessoas me deixou muito feliz. Ser escolhida para apresentar o programa no streaming número 1 do mundo me deixou lisonjeada. Mas eu tenho uma paixão absoluta pela televisão aberta, confesso.
Nenhuma vontade de fazer uma mudança total e sair da TV por conta disso?
Não. Espero permanecer na TV por muitos e muitos anos. Você já passou por várias transições na carreira, inclusive de público.
A audiência do Ideias À Venda é diferente?
Tudo o que eu sempre fiz, desde os licenciamentos de produtos até todos os programas, inclusive os infantis, mesmo no início, sempre implantei junto com a direção, a produção, tudo junto. Pela primeira vez, neste trabalho, eu entrei como comunicadora, apresentadora e também como empreendedora, mas só depois do projeto estar Definido. É um reality de empreendedorismo leve e divertido. É um game, com a possibilidade de conhecer não só as ideias mas quem está por trás, as histórias de cada um. Eu chorei, dei muita risada, fui muito eu. Além das ideias, que estão à venda, o programa mostra a essência de cada empreendedor, sua batalha, sua garra.
Durante a sua trajetória como mulher empreendedora, já sentiu solidão?
As grandes decisões da vida são solitárias. Gerar um filho, por mais que você tenha pessoas ao seu redor, é solitário. Tomar decisões na sua vida profissional, é solitário. As decisões dependem de você e da sua capacidade de saber que toda escolha tem renúncias e consequências. Vejo isso em tudo, não só no empreendedorismo. Por diversas vezes me senti assim, mas, hoje, com relação às mulheres, a gente tem falado mais sobre essa sororidade, a rede de apoio. Temos tocado nessa ferida que por anos foi velada e a mulher seguia sozinha, sem apoio.
Estamos melhorando?
Meus filhos vão ter muito mais apoio do que a minha mãe teve, do que a minha avó teve, do que eu tive. Isso me conforta de certa maneira. Temos ainda muito o que percorrer. Eu venho de uma família empoderada, mas não havia reconhecimento. Eu lembro da minha avó cuidando dos sete filhos sozinha porque perdeu o marido muito cedo. Sempre vi minha mãe trabalhando fora, cuidando de filhos e todo o resto, e meu pai lidando mais com a questão profissional dele. Hoje, o que me acalma e me deixa esperançosa em relação ao futuro é que as mulheres estão se apoiando, então essa solidão diminuiu um pouco. Estamos ajudando mais umas às outras. Nós, que trabalhamos nos meios de comunicação, temos a obrigação de fomentar essa rede de apoio e fazer com que as mulheres não se sintam tão sozinhas.
Quais histórias empreendedoras mais te tocam?
Eu acredito que um bom empreendedor tem sempre uma boa história por trás. Um propósito. Só uma boa ideia não basta para fazer sucesso. Entre todos os participantes, a história da mulher negra, mãe de família que batalha por um espaço e por uma causa, me toca. Todos vieram com muita paixão e desejo de transformar não só a si, mas a vida do outro. Empreender como uma questão social é fundamental. Não vejo como fazer um negócio sem se preocupar com o social.
Você já declarou que se sente invadida quando publicam algo que você não gostaria que publicassem. No fim do ano passado, tiraram uma foto sua de biquíni sem a sua autorização, mas você transformou completamente a situação…
Foi um baita susto ter me visto daquela maneira. Depois de tantos anos, me surpreendi com uma imagem de paparazzi. Por uma vida, tive domínio sobre o que eu queria mostrar. Por outro lado, venho experimentando, principalmente depois da maternidade da Manuela, que a falta de controle nos traz muito aprendizado. A minha filha, como uma mulher, já chegou me ensinando que vida não dá para controlar. Foi a primeira vez que fiquei fora do ar, cinco meses em cima de uma cama, sem poder ter a certeza de como seria o dia de amanhã. Minha vida parou e refleti sobre as coisas que importam. Uma foto roubada acaba sendo uma consequência do meu trabalho, sou uma pessoa pública, sei que isso gera curiosidade, mas demorei para digerir.
Foi por isso que decidiu postar a foto nas suas próprias redes?
Não quero me calar sobre o que senti. É uma transição de vida, de imagem. Como é libertador você viver fora das poses, sair numa foto sem maquiagem, sem filtro, ser você mesma. Vivo esse momento. Hoje, acho que faria a mesma coisa. Usaria o biquíni como eu sempre usei. As pessoas não sabiam que tipo de biquíni eu tinha. Foi curioso algumas manchetes: “Eliana de fio dental”. Primeiro que não era um fio dental, e, no final das contas, eu me senti muito bem. Não vou agradecer ao paparazzi porque não vou. Mas aquela imagem me tirou das amarras do que as pessoas vão achar ou deixam de achar do meu corpo. A vida não é perfeita, já sabemos disso, mas, às vezes, quando você carrega suas imperfeições com bastante elegância, elas ficam belas, porque são suas.
Teve muita terapia nesse processo de amadurecimento?
Fiz psicologia até o terceiro ano, interrompi por conta da profissão como artista e comunicadora, que acabou se sobrepondo à faculdade na época – acredito que fiz uma boa escolha. Fazer terapia é fundamental, que bom seria se todos pudessem usufruir desse privilégio. Tenho uma terapeuta que está comigo há mais de 11 anos, que foi minha professora de faculdade e me ajudou durante a vida toda. Ser gentil comigo mesma foi um processo da análise. O que melhorou da minha juventude para a minha maturidade é que, na juventude, eu era mais rígida comigo do que eu sou hoje.
A espiritualidade ajuda nesse caminho? Sente que é possível passar para os seus filhos essa conexão que é tão importante para você?
Educar tem muito mais a ver com o exemplo que com a fala. Eles me veem rezando, respeitando a natureza e o próximo. Essa é a minha principal oração. Eles veem uma mãe com valores que não ficam só na palavra, estão no dia a dia, e acabam naturalmente absorvendo. Estar em contato com a natureza me deixa muito próxima de Deus. Aqui em casa, a gente vem de uma família que agradece muito mais do que pede.
O programa tem um espaço democrático. Considera isso uma característica sua?
Eu tenho muito cuidado ao me colocar no lugar do outro, sempre de maneira respeitosa. Estou há mais de 30 anos na televisão e há mais de 16 aos domingos, sendo a única mulher nesse rol onde só havia homens por tantos anos. Acredito que essa permanência se deve ao respeito pelo telespectador. Tenho a mulher como protagonista e procuro trazer mulheres que inspiram outras. Meu desejo, quando estou na TV, é que as pessoas possam se encorajar.
Esse é um desafio maior para as mulheres?
O mundo não é maternal. Se o mundo não concorda com você, ele não vai ser carinhoso, ele vai ser cruel. No programa, fazemos a transformação visual de mulheres que ganham a dignidade de volta, para que possam entrar no mercado de trabalho, sorrir novamente, perder a vergonha de fazer foto com os filhos. Essas mulheres precisam de apoio, desse espaço, e elas têm isso no meu programa. Tem um formato que trouxe de Cannes de um quadro que se chama Minha Mulher Que Manda, é muito atual. A mulher por muitos anos ouvia frases como “lugar de mulher é na cozinha” ou “mulher no volante, perigo constante”. Quebrar paradigmas, para mim, é muito importante e o público adora!
Em 2022, você completa 50 anos. A casa numérica tem algum peso?
Lá atrás, me falaram que ia ter a crise dos 30, depois a dos 40. Eu não tive e estou passando bem pelos quase 50. Essa coisa do etarismo, do machismo, da igualdade de gênero, do protagonismo feminino, tudo o que a gente vem falando é necessário para eu poder estar confortável com o momento que eu estou vivendo. Eu acho que vou gostar de fazer 50 me olhando no espelho e me achando mais segura do que quando eu tinha 20 e poucos anos. Claro que o colágeno não é mais o mesmo, porém a segurança que eu sinto hoje em relação ao meu corpo, a quem eu sou, é muito maior do que quando eu era mais jovem. E isso é tão espetacular.
Existe uma história, porém, que a internet toda não sabe a sua idade. Teve um bastidor de uma reportagem que mudou a contagem dos anos?
Aos 28 anos, quando fiz o meu aniversário de 29, uma grande revista de celebridades registrou na manchete que eu faria 28. Ou seja, mantive a mesma idade depois do aniversário. Estava na capa já! Pensei “Meu Deus, se eu falar agora, nesse momento… E é um ano apenas. Como vai ser?” Foi uma coisa respeitosa com a edição que já estava nas bancas. Ao longo dos anos, foi passando. Não fazia diferença. Acho que a questão da idade tem muito mais a ver com como você se sente. Mas desejo comemorar meus 50 anos, de fato, com meu público, com as pessoas que me acompanham. É uma data tão linda que eu não quero que passe batida para comemorar só o ano que vem por uma questão cronológica.
Será um festão, se possível?
Será de muito agradecimento, uma celebração com todos. Comemorar essa data como ela é, como ela deve ser, é algo realmente especial. Por isso, quero comemorá-la inteira, nem com um ano a mais, nem com um ano a menos.