Empreender envolve riscos, criatividade, mudança e inovação. No entanto, essas características mudam em relação ao recorte, como no caso do empreendedorismo feminino, no qual os desafios são ainda maiores. A desigualdade de gênero resulta em menos oportunidades para as mulheres, tanto nos empregos formais e informais, quanto no empreendedorismo.
Leia também: 20 mulheres de diferentes perfis revelam as dores e alegrias de empreender
Além disso, a atual instabilidade financeira gerada pela pandemia de coronavírus fez com que as pessoas apostassem no próprio negócio por meio do empreendedorismo. Os dados apontam que o número de microempreendedores aumentou durante a quarentena, o Portal do Empreendedor registrou 551.153 novos microempreendedores (MEI) no país, durante a pandemia, 16.788 a mais do que no ano passado.
O empreendedorismo feminino também engloba outras esferas além do negócio em si, representa liberdade, empoderamento e reconhecimento. E, mesmo em meio a situações difíceis, algumas mulheres colocam seus negócios em prática e fazem a diferença.
Por isso, todos os ano o Cartier Women’s Initiative (CWI) “visa impulsionar a mudança capacitando as mulheres empresárias de impacto”, como consta no mote da iniciativa. Desde 2006, o prêmio internacional busca prestigiar mulheres empresárias e empreendedoras que possuem um forte e positivo impacto social e/ou ambiental.
Até hoje, a CWI acompanhou mais de 260 empreendedoras de 59 países diferentes. Além de já ter distribuído mais de 4 milhões de dólares para sustentar seus negócios. Na edição deste ano, que acontece nos dias 24 e 25 de maio, o projeto apresenta encontros virtuais para discutir como as mudanças impactam mulheres empreendedoras. Já no dia 26, por meio de uma cerimônia virtual, as oito vencedoras serão anunciadas.
Conheça as brasileiras finalistas do prêmio
Entre as 24 finalistas da CWI estão as brasileiras Rafa Cavalcanti, fundadora do CloQ, aplicativo que facilita o acesso a nano crédito àqueles que precisam, e Bárbara Granek, criadora da Fishtag, uma startup que tem como objetivo aproximar produtores e compradores do mercado de pesca.
A ideia para a criação do CloQ veio das vivências de Rafa Cavalcanti, que foi diretamente influenciada pela situação de sua família. Seus pais são empreendedores informais e desde pequena ajudava na loja de sua mãe, “eu adorava ajudar minha mãe a crescer o negócio”, lembra.
Após sofrer diversos assaltos em suas lojas, sua mãe precisou de crédito. No entanto, os bancos não ofertavam mais pela falta de credibilidade gerada pelos próprios assaltos. “Anos de histórico positivo não importavam. A única opção restante para conseguir esse capital foi buscar um agiota. Agiotas são ilegais, perigosos, e cobram cerca de 7000% de juros ao ano. Uma pessoa não busca um agiota porque quer, se busca um agiota quando não se tem opção”, afirma a finalista.
Após observar situações similares e também o desgaste físico, mental e financeiro dos pequenos empreendedores ao longo da vida, Rafa decidiu criar o aplicativo para ajudar essas pessoas. “A ideia da CloQ não surgiu do nada, ela é demandada há anos pela sociedade excluída do sistema financeiro. Eu apenas tive a coragem de tentar fazer a ideia funcionar”, conta.
O diferencial do aplicativo é a análise de crédito própria com base em dados comportamentais e públicos, para compreender os clientes sem um histórico financeiro. O acesso a nano-empréstimos vai de R$100 a R$500 e é realizado principalmente por empreendedores informais de comunidades de baixa renda. Esse acesso a crédito é novo para os empreendedores e os feedbacks que Rafa recebe são positivos.
Durante a pandemia o acesso a créditos se tornou ainda mais complicado e “enquanto os bancos decidiram diminuir a liberação de crédito, a CloQ decidiu que esse era um momento crucial para levar acesso capital para as pessoas que precisam o mais rápido possível”, aponta a idealizadora.
Para Rafa, ser finalista do CWI é muito importante visto que seu trabalho influencia muitas pessoas. “E assim, a cada dia, a cada nano-crédito, estamos fazendo nossa parte por uma sociedade mais justa, mais inclusiva e que com mais oportunidades”, conclui.
Bárbara Granek idealizou a Fishtag como meio de inovar o mercado da pesca e facilitar as relações entre produtores e compradores. A história de seu negócio também tem forte relação familiar. Após assumir a empresa exportadora de peixes da família, a empresária enxergou a falta de inovação e decidiu resolver esses problemas.
Decidiu, então, mapear o mercado e entender mais profundamente os problemas e necessidades que existiam. “A maior parte das indústrias já fizeram a passagem para o digital, a pesca está atrasada em tecnologia. A Fishtag é um marketplace em que o pescador consegue vender o seu peixe a um preço mais justo e acessar mais clientes”, aponta Bárbara.
Em um cenário em que os pescadores não têm os recursos e nem o tempo necessário para entender os clientes, a demanda e a logística de venda do peixe, a startup criada por Bárbara traz soluções.
“A Fishtag chega para oferecer para o Seu João [pescador] a possibilidade de se conectar com os clientes finais diretamente, vendendo a um preço melhor, enquanto a Fishtag faz a gestão da plataforma digital, logística, qualidade, obtenção dos selos exigidos pelo governo e pagamento.”
Fazer a diferença na vida das pessoas é um dos pontos mais importantes da startup. Durante a pandemia, as atividades da Fishtag foram fortemente afetadas. Bárbara conta que vários pontos da empresa foram reestruturados para atender às novas necessidades. “Os desafios foram muitos, e continuam em 2021 com a pandemia ainda mais forte para os restaurantes”, reflete a empresária.
Quando perguntada sobre o desafio da maternidade e os negócios, Bárbara afirmou que suas filhas a acompanham em todos os lugares, inclusive a viagens da empresa. Com a rotina repleta de atividades, ela também viu uma oportunidade de aprendizado tanto pessoal quanto para suas filhas. “Isso deixou a minha vida mais simples e elas [se tornaram] crianças flexíveis, que dormem na cama que tiver, comem a comida do local e têm a quantidade de brinquedos que cabe na mala”, finalizou.
Para ela, participar da CWI é motivo de orgulho e felicidade. “Em pouco tempo de programa, a CWI já colocou recursos à nossa disposição, que estão fazendo a nossa empresa evoluir. Com o programa, o nosso impacto é muito maior”, afirma Bárbara.