Basta falar o nome Mônica para pensarmos nela. Responsável por inspirar a personagem mais famosa dos quadrinhos brasileiros, aquela que liderou uma turma que marcou gerações, Mônica Sousa é hoje diretora-executiva da área comercial da Maurício de Sousa Produções e está por trás dos grandes novos projetos da empresa.
Hoje, aos 58 anos, a filha de Maurício ainda enfrenta a prazerosa missão de lançar projetos inéditos numa empresa que completou em 2019 seus 60 anos. Caso do filme Turma da Mônica: Laços, produção lançada no final de junho e que trouxe pela primeira vez a turminha interpretada por atores reais.
Em um bate-papo com CLAUDIA, Mônica falou sobre a emoção que sentiu ao ver o filme pela primeira vez, sobre os projetos da empresa que visam elevar a autoestima de meninas e também sobre como foi lidar com o preconceito para conquistar seu atual posto. Confira:
Que tipo de retorno sobre o filme você mais está recebendo?
Estamos recebendo críticas muito positivas! A maioria das famílias que viu ao filme nos conta, principalmente pelas redes sociais, que está se emocionando com o filme. Isso não tem preço. O filme de alguma maneira consegue atingir todos os públicos.
Você acha que crianças e adultos enxergam o filme de uma forma diferente?
Levei meu neto de um 1 anos e 8 meses e ele viu ali a Turma da Mônica. Fiquei muito feliz e satisfeita, pois ele estava enxergando os personagens que estavam apenas nos gibis e desenho naquele momento em carne e osso. Ele enxerga tudo de uma forma diferente, ficava imitando o Cebolinha, chamando o Floquinho… é um filme para a família, e também para as crianças que estão conhecendo a Turma agora. Traz ainda uma lição muito importante sobre amizade.
O que você sentiu quando viu o filme completo pela primeira vez?
Vi o filme três vezes, na primeira fiquei preocupada, meio ansiosa, se realmente conseguiriam colocar a Turma ali. Mas quando trouxeram a filmagem, mesmo ainda sem caracterização, a gente enxergava cada personagem. Quando vi completo, com trilha e tudo, foi uma emoção que nunca mais vou esquecer. O lançamento do filme foi um divisor de águas, pois é projeto totalmente novo. Já temos o quadrinho, o teatro, e tantos outros produtos, mas de carne e osso é a primeira vez. A produção abriu um leque para que outras produtoras viessem atrás da gente para outros produtos da Maurício de Sousa.
E sobre o Mauricio, algo que ele te falou sobre o filme te marcou muito?
Todos da Maurício de Sousa Produções foram muito impactados, vimos algumas partes da produção antes do filme ser lançado, ele participou de todas as adaptações, tudo isso foi passado para ele de tempos em tempos. No último dia, em que ele viu todo o trabalho finalizado com trilha, ele chorou, ficou muito emocionado, ele é muito emotivo e estava satisfeito com o resultado.
Você ajudou a atriz que interpretou a Mônica? Deu a ela alguma dica?
Nem precisa de dica! Os roteiristas e toda a equipe fizeram uma imersão com a Maurício de Sousa Produções, sabiam tudo da Turma da Mônica. Quando vi a Mônica [interpretada pela atriz Giulia Benite], fiquei impressionada. Quando nova, eu tinha o mesmo cabelo comprido que ela. E minha irmã Magali é uma palhaçona, faz careta para tirar foto, essas coisas. Quando fui numa das gravações a Magali [papel de Laura Rauseo] estava fazendo careta também [risos]. Ela nem sabia dessa característica da minha irmã e fez igual!
Tem alguma mensagem que a Mônica dos quadrinhos te passou quando nova e que você carrega até hoje?
Acho que a Turma me marcou a infância inteira, sempre li os quadrinhos, adoro. Me lembra muito das histórias que meu pai escrevia. A Mônica era mais bruta e violenta, mas sempre trazia uma lição de vida. Tem uma história em que a Mônica é dura com Magali, e ela fica chateada com a amiga. E é essa a mensagem: se você impõe muito só o que você acredita, você fica sozinha, então acho que a Turma passa essa mensagem sobre ouvir as diferenças e fazer com que a gente cresça. Aprendi muito com isso, pois os personagens são totalmente diferentes entre si.
Como foi sua trajetória na empresa?
Quando nova meu sonho era trabalhar fora, ser independente financeiramente. Então comecei trabalhando na lojinha da Mônica, um antigo comércio na esquina da Avenida Paulista com a Rua Augusta, com minhas irmãs mais velhas. Na época fazia faculdade de Desenho Industrial, mas gostava mesmo era da parte comercial, vendia muito bem, e cada vez crescia mais ali. Eu gostava muito de escutar o que as pessoas tinham para falar, as críticas boas e ruins, essa relação era muito especial para mim.
Sempre achei necessário passar por várias etapas, ser valorizada por mim mesma, não porque meu pai me colocou aqui, por ser filha do Maurício. Como comecei muito jovem, como mulher e filha do Maurício e ainda por cima personagem dos quadrinhos, eu tive dificuldades para as pessoas me levarem a sério. Aos 48 anos me tornei Diretora Comercial Executiva.
Como você enxerga a importância dessas personagens femininas e fortes na Turma da Mônica? Como o projeto Donas da Rua, por exemplo?
O projeto Donas da Rua começou aqui no meu departamento, após assistir ao ONU Mulheres*. A nossa empresa sempre teve muitas mulheres trabalhando aqui, mas a gente achava que isso já bastava, mas não, precisamos de ações.
As mulheres sofrem preconceito e as meninas têm baixa autoestima. A partir dos 6 anos elas começam a achar que os meninos são mais inteligentes do que elas, elas veem os homens como exemplos mais bem-sucedidos. Então fizemos através da ONU Mulheres um trabalho sobre o tema, com palestras e empoderamento, para mostrar mulheres fortes para essas meninas, para que elas saibam que também são capazes. Fui em empresas, em faculdades voltadas para homens, para trabalhar o potencial das jovens. Para elas que elas saibam que têm potencial para terem qualquer profissão que queiram.
*Em 2016, a Mauricio de Sousa Produções assinou os Princípios de Empoderamento das Mulheres da ONU — uma iniciativa da ONU Mulheres e do Pacto Global que orienta o setor privado na promoção da Igualdade de Gênero no ambiente de trabalho, mercado e comunidade.
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