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Rachel Maia vai escrever livro sobre sua trajetória

Vou colocar no papel o que me fez chegar até aqui. As pessoas precisam de inspiração, disse a executiva, que está em curto período 'sabático produtivo'

Por Alessandra Balles Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
6 abr 2018, 12h10
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  • O anúncio da saída da paulistana Rachel Maia, 47, da joalheria Pandora, no último dia 28 de março, pegou o mercado de surpresa. A executiva se tornou um dos nomes mais admirados do meio empresarial brasileiro, após comandar a expansão da rede que, só em lojas físicas, foi de 2 para 98 unidades entre 2009 e 2018.  “Encerrei o ciclo. Hoje eu sou grata à empresa em que trabalhei por oito anos. Quando olho para trás, vejo oito anos de celebração, de aprendizado e de ensinamento. É muito bom fazer algo com paixão. E eu celebro todas as conquistas que tive nas empresas pelas quais passei. É bom demais ter formado equipe, ter tido o privilégio de chamar pessoas para o próximo patamar, trazê-las para cima. Então eu acho que para esse legado eu posso ficar bem feliz de olhar, não para trás, mas no 360 graus.”

    Agora, Rachel planeja um livro para contar sua trajetória. “É um período em que vou colocar no papel tudo aquilo que me fez chegar até aqui, exemplificando. No fim do dia, a gente precisa de heróis. Eu preciso me inspirar. ‘Se eu posso, me mostra um exemplo.’ Acho que, de uma forma muito simples, eu sou um dos exemplos. Existe uma história, uma trajetória, e as pessoas curtem a minha. As pessoas sabem que eu vim da periferia. Quando eu morava no Canadá, por um ano e meio eu fazia uma refeição por dia, porque eu não tinha como pagar. Ou eu pagava os estudos ou comia. Fui lá para estudar. Eu comia às 3h da tarde, já estava vendo estrelinha. Isso é real. E você trazer histórias reais que se assemelham à sua trajetória, eu acho que é bom.”

    Para Rachel, que recebeu CLAUDIA em sua casa na tarde de quinta-feira (5) e se emocionou em vários momentos da entrevista, o que também chama a atenção das pessoas é o fato de a executiva frequentar um restaurante estrela Michelin e, no final de semana seguinte, estar lavando o banheiro da paróquia onde ela é catequista. “Eu não deixo distantes essas realidades. Elas me permeiam, estão próximas uma da outra.”

    SABÁTICO

    Depois da saída da Pandora, Rachel decidiu tirar um período sabático (“de um, dois meses”). “Mas é um sabático mais ou menos, um período de reflexão, mas produzindo.” Além do livro, a executiva participará de um curso de mindfulness (atenção plena) com um grupo de psicólogos e avalia um programa em Harvard.

    Além disso, os pedidos para palestras não param de chegar. “Esse também é um dos meus propósitos nesse período, porque eu quero continuar mostrando para as mulheres que o show deve continuar. Independentemente das dificuldades, dos momentos de reflexão, da luta que você está vivendo, o seu show não pode parar, pelo contrário. E eu acho que, neste momento de conhecimento, de saber até onde a gente pode ir, nós precisamos uma das outras. Então é importante continuar tendo uma voz ativa. E essa voz ativa, de uma forma muito segura e respeitosa, eu vou continuar fazendo sim.”

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    Rachel tem uma filha de seis anos e também está inscrita no programa de adoção. A executiva prometeu à menina que vai aproveitar o período sabático para intensificar a busca por um irmão. “A Sarah Maria é apaixonada, viveu dentro desse universo [da joalheria]. Quando contei sobre a minha saída, logo de bate-pronto ela se emocionou. Encheu os ollhinhos de água. ‘Como assim? Por quê?’, aquelas perguntas normais. ‘A mamãe fez tudo, concluí o meu trabalho, cumpri a minha missão, então agora a mamãe quer navegar em outros mares. Aí eu falei para ela: ‘Não vou mais ser passiva, vou ser ativa na busca do seu irmãozinho. A mamãe já foi aprovada, mas não estava com tempo, agora nós duas vamos procurar juntas, nos abrigos, onde de fato está o seu irmãozinho. Então acho que a gente vai ter bastante coisa para fazer’. Aí já arranquei um sorriso dela.”

    Idealizadora de um projeto que capacita pessoas de comunidades carentes para trabalhar no varejo, a executiva diz que não pretende ser empreendedora, mas que quer continuar atuando no empreendedorismo social. Agora, busca com empresários 40 vagas de emprego para a primeira turma, que conclui o curso em 20 de abril. “Pego o telefone e peço mesmo. Não tenho a mínima vergonha de pedir empregabilidade. É a diferença entre aqueles que admiram e aqueles que fazem. Então, comigo, estou convocando aqueles que fazem.”

    MULHERES

    Rachel, que gosta de música clássica e diz que a arte a “suaviza”, relata a acolhida que teve de outras executivas e empresárias logo após a sua saída da joalheria dinamarquesa. Já no dia seguinte, um grupo _que inclui Luiza Trajano e Denise Damiani_ ofereceu um café da manhã para ela. “A Trajano me liga todos os dias para perguntar como estou. Tem sido uma coach fantástica.” Para Rachel, competitividade feminina existe, mas o cenário está mudando porque as mulheres perceberam que têm de se preocupar umas com as outras para não prejudicar o elo que as leva para a frente. “A gente tem que entender que a fortaleza de uma pode ser a fraqueza de outra, mas que, todas juntas, nós nos tornamos fortes, e vejo isso acontecer de forma genuína.”

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    FUTURO

    A executiva deixa transparente sua preferência por empresas que tenham como política valorizar a mulher, a diversidade, e reforça a importância da representatividade no dia a dia. “Temos de ser repetitivas. Dizer a toda hora ‘você pode, você merece, aquele lugar pode ser seu’.”

    Rachel programa um curto período sabático porque quer “voltar para a trincheira”. “Sou uma pessoa de liderança, de linha de frente. Eu gosto de batalhar. Se hoje você me perguntar o que eu mais sinto, eu sinto falta demais do pessoal que trabalhava comigo. Sinto de uma forma que dói no meu coração. Porque eu gosto demais das pessoas. De abraçar, de saber da vida. Então isso me faz falta, mas eu sei que é um momento transitório. Esse tempo sabático é bom e está funcionando para o meu amadurecimento para a próxima fase.”

    A paulistana começou sua carreira de executiva na farmacêutica Novartis e foi da joalheria Tiffany & Co. antes de trabalhar na Pandora. Diz que o varejo a encanta, mas que uma de suas qualidades é ser muito boa para entender as necessidades do consumidor, e que isso vale para qualquer tipo de empresa. “Minha próxima ambição é o topo. Mas quero deixar claro que o que eu quero dizer com topo é ser líder naquilo que me propuser a fazer. Posso ser uma boa gerente, mas vou estar no topo dessa gerência, posso ser uma boa diretora, uma boa vice-presidente, mas tenho que ser o melhor naquilo.”

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    “Eu gosto deste momento. De gratidão para com o passado. E como eu posso desbravar o novo, se não concluir o que estava fazendo? Você não consegue entender o que pode realizar de melhor se não der oportunidade de fazer, de desbravar. Paralelamente a isso, eu quero receber novas propostas de trabalho, eu estou aberta.”

    Rachel conta que chorou depois da saída da antiga empresa. “Eu chorei porque eu construí aquilo. ‘Agora deixa seu filho andar com as próprias pernas’. É dessa forma que eu sinto. E deixar o filho andar pelas próprias pernas é soltar a mão. E soltar a mão é difícil. Como ser humano, a gente tem esse lado do apego.”

    “É uma dor, é um luto que deve ser vivido, mas é um luto que dá a oportunidade para o próximo desafio. Eu sei exatamente o que eu quero.”

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