O lar de Yasmim Stevam reverencia a sofisticação e o vintage
Yasmim Stevam, fundadora do brechó No Fundinho, mostra os detalhes de sua conquista mais recente: o apartamento num icônico edifício no centro de SP
Sabe quando dizem que “quem vê close, não vê corre”? Com o perdão da expressão batida, seria impossível não associá-la a Yasmim Stevam. Com um feed impecável, a modelo e empresária influencia quase 150 mil seguidores no Instagram, é referência de beleza, tem um gosto impecável para moda, é dona de uma história de vida inspiradora e, se não bastasse, ainda consegue intercalar a rotina intensa com as exigências criativas e burocráticas do No Fundinho, seu brechó localizado no centro de São Paulo — e, isso tudo, com apenas 27 anos.
Sentada de forma relaxada no sofá macio de sua sala de estar, descalça, como gosta de ficar em casa, ela inspira fundo para começar a contar os detalhes da sua trajetória durante as fotos deste editorial.
“Parece que toda vez que me pedem para relatar um pouco da minha vida, vem a sensação de rebobinar tudo na minha mente. Acho que só cai a ficha quando alguém me indaga o que faço, quem eu sou e o que fui”, reflete Yasmim.
“Estar aqui hoje e pensar que antes eu estava no fundo, e, agora, estou de frente, me faz ter um mix de pensamentos que só eu vou entender.”
Yasmim Stevam, empresária e influenciadora
O nome No Fundinho diz muito sobre o início do seu negócio. Afinal, foi nos fundos da casa dos pais, no Jardim Boa Vista, na Zona Oeste de São Paulo, que ela começou a garimpar e vender roupas usadas. Sem dinheiro para comprar peças novas, ela passou a consumir de brechós do seu bairro, mas o hábito era carregado de um sentimento de vergonha.
“Existia esse preconceito com brechós, então acabava escondendo das pessoas”, revela hoje sobre o passado. Mas era justamente por esse costume que sempre obteve um estilo único, endossado pela vontade de ser diferente. “Minha vida é resumida em garimpar peças vintage. E as melhores que encontrava eram as que estavam escondidas no fundo do baú, no cafofo. Acabei ressignificando isso tudo, mas ainda estou aqui, nesse fundinho.”
Antes do brechó acontecer, ela precisou se desdobrar em dezenas de outras tarefas para manter-se financeiramente e também ajudar a família. “Sempre fui uma mulher empreendedora, venho de uma família humilde, acho que onde cheguei não foi uma coisa que almejei, mas, sim, fruto do incentivo dos meus pais. Já trabalhei como atendente de telemarketing, vendedora, ajudei a minha mãe com os trabalhos de empregada doméstica…”, lista.
Depois de um período transitando em funções diversas, Yasmim se viu desempregada e com dificuldade de encontrar algo novo, “então fui para a rua para ajudar a dar uma moeda em casa”. Ela se virou como pôde: fez artesanato com miçangas, bordado, vendeu até latinha e roupas no farol; mas sempre “sem um norte”, como ela define.
Contudo, seu olhar apurado para selecionar peças de roupas atrativas e, mais ainda, saber apresentá-las de forma inventiva e inspiradora nas redes sociais — com editoriais repletos de conceito e muita dedicação nas produções das fotos — transformou as vendas despretensiosas em um grande negócio, o @brechonofundinho, a partir de 2016.
Voos altos, pés no chão
“É muito louco olhar para a minha vida e ver que vivo neste apartamento. Um amigo até me falou esses dias, engraçado, que eu morava de fundo e, agora, moro de frente.”
Yasmim Stevam, empresária e influenciadora
Com cerca de 229m², o novo lar da empresária fica localizado num icônico edifício da região da Praça da República, bem no miolo da capital paulista. A decisão de se mudar veio da vontade de ficar mais próxima de seu negócio. O No Fundinho está instalado praticamente em frente à sua varanda, no tradicional Edifício Esther, primeiro prédio de linhas modernas do Brasil e um clássico da arquitetura paulistana, concebido por Álvaro Vital Brasil e Adhemar Marinho, em 1938.
Com poucos elementos, mas todos escolhidos com bastante cuidado pela moradora, o apartamento tem tons predominantemente claros e um misto de objetos que, por muito tempo, foram um sonho de consumo.
Desapegada, quando se vê analisando quais móveis jamais deixaria para trás numa mudança, aqueles que carregam valor sentimental, não pensa duas vezes ao eleger a vitrola.
“A vida inteira meu pai gostou de Martinho da Vila e de ouvir músicas antigas. Eu venho de um lar onde tinha Fusca, vitrola e máquina de escrever. Então, muitas das coisas que tenho na minha casa me lembram dele. Quando vi essa vitrola e que ainda por cima está funcionando, logo pensei: ‘Meu pai precisa ver isso’. É algo que jamais desapegaria e não venderia por dinheiro nenhum no mundo”, diz emocionada ao falar do pai, que faleceu em janeiro deste ano.
Assim como seu guarda-roupas, os adornos da casa são quase todos de garimpo, de lugares que, segundo ela, as pessoas nem imaginam de onde saíram. Perita em explorar relíquias em antiquários, ela tem se inserido aos poucos no novo espaço, para o qual se mudou em maio deste ano.
O estilo clean, com paredes brancas revestidas com boiseries, contrastam com o aconchegante chão de taco e ganham vida com detalhes em tons quentes e muita madeira. “Minha loja ficava dentro do meu quarto, meu sonho era ter uma sala, um sofá, um banheiro grande, uma cama toda branca. Essa coisa que eu via na casa das patroas da minha mãe e irmãs. Estar aqui hoje me faz ter um mix de pensamentos que só eu vou entender.”
Extremamente espaçoso, o dormitório conta com dois janelões e uma salinha ao lado, espaço reservado pela moradora para abrigar sua penteadeira — e seus muitos acessórios e makes, itens essenciais de uma influenciadora. Os espelhos, aliás, se fazem presentes em quase todos os cômodos.
O capricho não seria diferente no espaço do brechó. Detalhista, Yasmim conta com a ajuda dos funcionários para deixar tudo em perfeito funcionamento, mas há tarefas que só seu olhar é capaz de captar.
Com araras formadas por texturas similares e paletas de cores em um perfeito degradê, o brechó é regido por muita paixão e vontade de fazer acontecer.
Observando Yasmim passear pelos corredores da loja de dois andares — uma conquista recente e muito suada — é possível entender como, hoje, ela está onde deveria estar.
“Tem uma frase do meu pai que ele sempre falou a vida inteira: ‘Vou vivendo e vou esquiando’. Sinto que estou nessa fase de esquiar. Quero escalar trabalhos, ser vista pelo que faço, me aperfeiçoar.” Estamos aqui, já vibrando pelas atuais realizações e ansiosas para assistir esse caminho ainda repleto de conquistas.
CRÉDITOS DE EQUIPE
Texto Marina Marques
Fotos Bruno Geraldi
Concepção visual Catarina Moura