Em 2020, quando foi anunciado que Nicole Kidman iria interpretar Lucille Ball no cinema, fui uma das defensoras e escrevi sobre isso aqui em CLAUDIA. Nicole é uma atriz que raramente erra na escolha de seus projetos, mas quando interpretou Grace Kelly há alguns anos, nem mesmo seu inegável talento superou um argumento fraco para o filme.
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No caso de “Being the Ricardos” (da Amazon Prime Video), a atriz ganhou a benção dos filhos de Lucille e Desi Arnaz, o que não é pouco. Foi encorajada a “interpretar” Lucille, não a imitá-la, porque o que o filme pretende mostrar é justamente o lado que não era tão conhecido da atriz, não a personagem adorada do sitcom, Lucy. Infelizmente, ficou no meio do caminho e está lidando com duras críticas. Ainda assim, venceu o Golden Globes como Melhor Atriz, tirando o prêmio da favorita, Kristen Stewart e aumentando sua chance de uma indicação ao Oscar.

Para nós, estrangeiros, e especialmente as gerações mais novas, a importância de “I Love Lucy” – um dos maiores sucessos da televisão americana – pode não ter um grande peso, mas para Hollywood é até hoje referência obrigatória. Estrelado por Lucille Ball e seu marido, Desi Arnaz, o programa foi um marco da cultura mundial.
Como acontece com frequência, a imagem das telas é bem diferente da realidade. Lucille, ou Lucy, criou uma persona simpática e atrapalhada que era o oposto de seu temperamento forte, decidido, desbocado e corajoso. Se Lucy era um doce, Lucille era um horror. Estaria aí a força desconstrutiva de “Being the Ricardos”, que traz Javier Bardem como Desi Arnaz e se concentra nos bastidores da produção.
Pena que nem Nicole, nem Javier estejam no seu melhor aqui. Nas cenas dramáticas seguram a peteca, mas não têm veia cômica quando reproduzem o casal famoso no sitcom.
Se não é para ser uma biopic preocupada com detalhes, então não precisava ter tentado uma maquiagem em Nicole ou forçar o sotaque de Javier. Mas a falha, ao meu ver, está no roteiro, que pretende ser um documentário e fica ainda mais confuso por contar com atores diferentes para mostrá-los mais velhos.
Além disso, joga todas as polêmicas das vidas pessoais do casal – infidelidade, machismo, competição, inveja, liderança, vício em jogos – em uma única semana. Se você não conhece nada sobre eles, sai trocando as bolas.

Aaron Sorkin vem fazendo sua transição de séries para filmes e conseguiu indicações ao Oscar pelo “Os 7 de Chicago”, mas não encanta com “Being the Ricardos”. É sim um filme interessante sobre os bastidores de um dos maiores sitcoms já feitos, onde a precisão dos detalhes é o segredo do sucesso, mas falta a alma empática de seus protagonistas.
Chega a ser irônico que, ao longo do filme, Lucille brigue contra falsidade de piadas que quer mudar porque, ao seu ver, desrespeita a inteligência da plateia. É, de alguma forma o paralelo “Being the Ricardos”.
Por outro lado, se esquecermos Lucy Ricardo e focarmos apenas em Lucille Ball, é uma boa viagem no tempo para dar o crédito criativo de uma das maiores e mais respeitadas comediantes de todos os tempos. Tanto Nicole como Lucille mereciam mais, mas conhecer sua história ainda é importante.