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Viver tem idade?

Uma ponderação sobre o quanto a sociedade e nosso etarismo interno ainda julgam mulheres que sustentam revoluções pessoais depois dos 40 anos

Por Caroline Apple
1 nov 2023, 09h52
A ousadia de viver intensamente e aprender na prática certas coisas não deveria ser direito somente das pessoas mais jovens. (Aron Visuals/Unsplash)
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Quantas vezes deixamos de fazer algo usando como argumento a nossa idade? Acontece que o nosso tempo interno pouco se importa com o tic-tac do relógio. E nossas questões emocionais precisam de espaço para serem trabalhadas, precisam ser manifestadas para serem lapidadas. Para isso, não deveríamos criar barreiras com base na contagem cartesiana dos anos.

Muitas de nós ainda sofrem pressões sociais e pessoais que nos impedem de viver como realmente gostaríamos. Assim, deixamos de lado a oportunidade de amadurecer e nos tornamos “meninas grandes”, que se comportam da maneira esperada pela sociedade, mas, por dentro, estão tão frágeis quanto uma adolescente perdida em seus sentimentos.

Essa fragilidade emocional pode fazer com que aceitemos situações muitas vezes abusivas por falta de segurança e real maturidade, que somente a sabedoria (fruto da experiência) é capaz de promover.

Porém, para ter experiências é preciso se jogar. E essa ousadia de viver intensamente e aprender na prática certas coisas não deveria ser direito somente das pessoas mais jovens. Por isso, é comum vermos mulheres, principalmente depois dos 40 anos, serem julgadas por atitudes que não são esperadas para uma pessoa a partir de determinada faixa etária.

Contudo e sem dúvida, o pior dos julgamentos é aquele que nós mesmas fazemos das nossas atitudes. Nosso etarismo interno precisa ser desbancado pela vontade visceral de viver o que desejamos.

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Já vi mulheres mais velhas se culpando por estarem apaixonadas e terem que lidar com os sentimentos que a paixão promove. Aquela paixão que nos teletransporta para uma fase de muita espontaneidade, que muitas mulheres já haviam esquecido ou sequer tiveram a oportunidade de vivenciá-la.

Já vi também aquelas com vergonha de se envolverem com homens mais jovens por terem sua maturidade colocada à prova só porque se identificam com alguém, em tese, inexperiente.

Outras evitam até o sexo casual por medo de passar uma impressão contrária daquilo que buscam em um relacionamento, mesmo que o fogo do desejo esteja ardendo.

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Tudo isso é uma via de mão dupla quanto ao etarismo. Ele é social, mas também está impregnado em nós. Entretanto, se queremos ser mais íntegras, não tem outro caminho além de viver o que tiver que ser vivido no momento que for possível, independentemente da idade.

Lógico que é desafiador se desprender das culpas, dos medos e dos julgamentos, mas é urgente que esses grilhões internos sejam rompidos. Já o pessoal do lado de fora que lide com a nossa disposição e audácia de existirmos à nossa maneira.

O tempo não tem dó da matéria. Mas tenhamos compaixão da mulher que nos habita e que deseja se apropriar de seus espaços internos até então interditados pela ilusão do significado pejorativo de “envelhecer”.

 

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