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Alexandra Baldeh Loras é mestrada em Gestão de Mídia pela Sciences Po, influenciadora e palestrante em raça, gênero e diversidade
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O Negro na Mídia

A população do Brasil é majoritariamente negra, mas ela sempre  é  coadjuvante ao cenário dos brancos, na publicidade nacional - nunca como protagonista

Por Da Redação
3 Maio 2017, 21h24
 (Divulgação/Divulgação)
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Pela TV brasileira, jamais seria possível imaginar que a população do Brasil é majoritariamente negra. Quando cheguei ao Brasil há quatro anos fiquei chocada: esperava ver a democracia racial tão falada no exterior, e ver 54% de negros como protagonistas e na liderança de empresas e na mídia.

O que vi foi o uniforme branco da babá, o papel da mulher hiper sexualizada nas novelas como a eterna amante que destrói os casamentos dos brancos ricos… Também percebi uma segregação, um sutil e subliminar apartheid nas propagandas e nos desenhos animados.

Leia mais: Feminismo: diferentes visões na luta pela igualdade de direitos

Não é preciso ser especialista para perceber a invisibilidade dos negros e negras na mídia brasileira. Alguma coisa está errada se a cara pública deste país, majoritariamente negro, é branca, o que colabora para reforçar uma atitude e um sentimento de auto-desvalorização nos negros.

Segundo o IBGE, os negros eram a maioria da população brasileira em 2014, representando 53,6% da população. Não seria justo ter essa porcentagem de negros na TV brasileira?

O negro ainda não se encontra dignamente nos meios televisivos e sua representatividade é ínfima (4%). As pessoas negras não se enxergam na propaganda brasileira; poucos anunciantes trazem negros como modelos em suas campanhas, não existe uma identificação ali.

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Leia mais: “Ser negra no Brasil é nascer sabendo que terá de resistir”

As mulheres nas propagandas são majoritariamente jovens, brancas, magras, loira e com cabelos lisos. O absurdo é que só existem 3% de verdadeiros loiros adultos no mundo. Será que a propaganda publicitária não reproduz sem querer a narrativa do eugenismo usado no regime nazista promovendo subliminarmente o ariano como superior?

Por que mostrar mulheres anoréxicas quando a maioria está fora desse padrão da magreza? Quais são os valores que queremos ensinar para nossas meninas?

Os negros no Brasil consomem mais de 1,5 trilhões de reais por ano em produtos. Então por que nunca vemos uma família negra promovendo margarina, pasta de dente, fralda ou absorventes? Será que não escovamos nossos dentes? Não menstruamos?

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Vejo muito poucas propagandas de marcas luxuosas onde um negro seja a figura central. Quando aparecem negros em uma publicidade, sempre é para produtos mais baratos e populares, fortalecendo mais a segregação.

O negro sempre aparece como coadjuvante, complementando o cenário do branco e nunca como protagonista. Somos sempre a gotinha de diversidade, mas nunca em destaque; na foto sempre está o homem ou a mulher branca como protagonista.

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Nos anos de 1960 e 1970, a presença do negro na publicidade só ocorria em raras exceções, quando se tratava de alguma personalidade de repercussão nacional, como o caso do reconhecido jogador de futebol Pelé anunciando uma marca de bicicleta.

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O site Desabafo Social fez uma busca digital das palavras “bebê negro”, que resulta em uma infinidade de imagens de bebês negros. Porém, ao eliminar a palavra “negro” da pesquisa são apresentados inúmeros bebês brancos. Mas os bebês negros também não são bebês?

Somos considerados belas (os) quanto mais próximas estivermos do padrão eurocêntrico de beleza: cabelos lisos ou ondulados, olhos claros, traços eurocêntricos, pele mais clara…

A autoestima negra foi ao longo dos séculos sendo destruída pelo padrão branco. Enquanto esse era referencial de sucesso, inteligência, beleza e elegância, entre outros aspectos positivos, o negro era mostrado relacionado à pobreza e malandragem, ou seja, inadequado para representar de forma positiva qualquer produto, sendo assim esse um grande fator que colaborou para a escassez da imagem negra na mídia brasileira.

A publicidade por muito tempo manipulou negros e negras a se colocar nos padrões de beleza branco, fazendo-os acreditar que se tornariam mais belos se tivessem os cabelos lisos e a pele mais clara possível; estereotipando assim o negro como feio e o branco belo. 

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Leia mais: “Nem sempre fica evidente pelo que estão me discriminando”

Já existem produtos voltados para o público negro, mas ainda são poucos ou simplesmente são produtos que incentivam a nossa descaracterização, como cremes alisantes e clareadores. A empresa Beleza Natural já é uma historia de sucesso com uma marca para cabelos crespos que possuem 45 salões no Brasil e abrindo seu primeiro spa em Nova York em 2017.

É inegável que a luta pela igualdade racial por mais espaço nos meios de comunicação, travada com mais intensidade a partir de meados da década de 90 vem mostrando um retorno positivo, porém precisamos ainda trilhar um longo caminho para um maior equilíbrio.

Somos negros e negras, afrodescendentes, belas e belos. Temos muitas razões para nos orgulharmos de quem somos, vamos seguir exigindo respeito e o fim da discriminação.

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Eliminar o racismo não é mais um combate, e sim uma obra em construção da qual todos fazemos parte, devemos acreditar que o governo e as cotas farão parte dessa mudança, mas principalmente as atitudes de cada indivíduo da sociedade.

 

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