O sucesso para ser freelancer depende do discurso correto
Da próxima vez que alguém perguntar se você faz frila, diga: “Tenho a minha empresa e faço trabalhos independentes que talvez possam interessar a você”

“Você faz frila?” A voz do outro lado é simpática, objetiva, um pouco ansiosa. Depois de ouvir a resposta afirmativa, o potencial contratante vai dizer o que quer de você. E para quando. E por quanto. Então começam as particularidades (e problemas) de uma relação de trabalho cada vez mais buscada por diversas categorias de profissionais e empresas. Era para ser bom para ambas as partes, mas não é bem assim.
O termo freelancer tem uma origem ancestral que ajuda a compreender a analogia de uma relação moderna e conflituosa. A palavra, em inglês, provém da Idade Média e designava soldados mercenários contratados para, literalmente, atirar lanças. Hoje, quem faz freelance, seja por decisão própria, seja como alternativa de sobrevivência, precisa de muita mira, agilidade e coragem para se dar bem na batalha do mercado.
Fazer frila tem um significado diferente dependendo de que lado do balcão você está. Para quem vende a força de trabalho, é um; para quem compra, é outro. Do lado da oferta, está alguém com competências diversas, diferentes níveis de experiência e necessidades financeiras.
Como essa relação de trabalho pressupõe certa irregularidade de demanda, a tendência é aceitar mais tarefas do que o ideal em uma agenda de sonho. Até aí, tudo bem: melhor se sobrecarregar um pouco para desfrutar depois do almejado tempo livre, com as contas pagas e sem a pressão dos horários de expediente e patrão. Free, leve e solta, dona da sua rotina e gerente de seus prazos. Só que não é bem assim.
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O outro lado, aquela voz meio ansiosa do início deste texto, tem prioridades, orçamentos e referências que podem ser diferentes das suas. Em um mercado de trabalho cada vez mais concorrido e com a urgência dos tempos digitais, designar uma tarefa a um profissional frila virou sinônimo de conseguir um resultado mais rápido e barato. Os profissionais autônomos não são mais escolhidos apenas pela qualidade e garantia de entrega, e sim pelo preço camarada e disposição de fazer “pra ontem” o que ninguém mais quis fazer.
Como todo mundo que pratica o voo solo no mercado sabe, as oscilações da economia e do desemprego acabaram levando muita gente a realizar trabalhos por preços menores do que deveria. Esses preços, por sua vez, acabam definindo o padrão do mercado e jogando para baixo o próprio valor da expertise. Há uma banalização prejudicial para quem faz e para quem contrata. O círculo vicioso transformou o significado de “fazer frila” para “fazer qualquer coisa rápido e barato”. Nos casos mais radicais, em “rápido e gratuito”, já que, depois de executada a tarefa, os profissionais ainda têm, muitas vezes, dificuldades para receber por ela.
Nos Estados Unidos, um estudo apurou que 71% dos profissionais freelancers já enfrentaram problemas com o pagamento de trabalhos realizados e já se discutem leis que resgatem a idoneidade dessa relação e também a relevância e o valor do que eles preferem chamar de “empregado independente”. É uma cultura difícil de ser quebrada, mas talvez um primeiro passo para melhorar a vida dos “independentes” esteja no tipo de resposta que se pode dar à perguntinha do começo do texto. Da próxima vez que alguém perguntar se você faz frila, pode dizer: “Tenho a minha empresa e faço trabalhos independentes que talvez possam interessar a você.”
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