Na terça-feira passada, 19, Vera Iaconelli publicou em sua coluna no jornal Folha de S.Paulo um artigo sobre adoção. Tanto o tema quanto os textos da psicanalista paulistana me interessam muito. Mas, para além do objetivo do que ela escreveu, um trecho não me saiu da cabeça: “Maternidade e paternidade são funções vitalícias e intransferíveis, enquanto que a fase bebê-criança é rapidíssima em relação ao conjunto da obra”.
Quando soube da minha primeira gravidez, eu me esforcei para ultrapassar a sensação de mãe inexperiente o mais rápido possível. Esse “não saber” que nos toma de assalto quando nos imaginamos com a responsabilidade de dar conta de outra pessoa me soava vertiginoso. Eu queria ter certeza de todos os passos: pré-natal, parto, amamentação. Queria estar no controle. À medida que a gestação avançou, entendi que, como se diz em Pernambuco, onde nasci: “Rapadura é doce, mas não é mole, não”.
Mais do que isso, entendi que parte da graça da maternidade é estar eternamente despreparada para o que vem. É surpreender-se dia após dia. É entender que se trata de outra pessoa, de outro tempo, com outras características. É oscilar entre se reconhecer e se estranhar no seu filho.
Sou mãe de uma menina de 11 anos (quase 12). Como escreveu Vera, a fase bebê-criança passou como um flash. Aos poucos, estou inaugurando o papel de mãe de adolescente. Apesar de ter lido muito sobre o tema, de torcer o nariz para os mais experientes que classificam os filhos como “aborrecentes” – tenho horror a esse termo –, de ter (mais uma vez) a certeza de que tiraria de letra essa fase, tenho a impressão de que vamos navegar por mares um tanto mais agitados do que calculávamos.
É um recomeço. Há dias em que me sinto mãe de primeira viagem (de novo). O que posso dizer por hora é que não há nada que me deixe mais comovida que os recomeços. Não estou pronta (como quando engravidei), mas nasci em Recife, sou da praia, e quero mergulhar.