Na semana que passou, ouvi de uma de minhas pacientes a pergunta angustiada: “Quando vou parar de sentir medo de não saber?”. Ela se referia aos primeiros meses de uma maternidade planejada, comemorada e ainda assim… Assustadora.
Penso que essa pergunta que é tão linda e profunda pode (como todas as outras) ser dividida em muitas:
Quando vou parar?
Quando vou parar de sentir medo?
Quando vou sentir medo?
Quando vou saber?
Quando vou parar de saber?
Para todas uma só resposta: nunca e sempre, todos os dias e em dia nenhum. Parece, mas não é má notícia. Tanto no início da maternidade quanto em qualquer outra fase da vida, o movimento, o medo e os não saberes podem ser aliados poderosos.
Me parece que o desafio está em aprender a viver com e não em tentar livrar-se deles. A mesma paciente que menciono no início do texto (e que topou ter o seu exemplo citado aqui) está em um processo de análise via Skype. Dizia que tinha pavor de tecnologia, que não conseguia se virar no computador e quando a notícia de uma mudança de cidade bateu a sua porta, propôs (antes que eu propusesse) continuar suas sessões a distância.
Chama-se elasticidade. E alguma elasticidade pode ser resultado do próprio processo analítico. Assim como a capacidade de nomear de dar sentido ao que nos angustia. Medo de que? Parar com o que?
Estar diante do que nos parece um caminho sem volta, do que nos parece insuportável, é uma oportunidade de criar novas saídas. Ainda que com medo, com não saberes e com movimento, foi possível para minha paciente manter a análise da qual ela não queria abrir mão. A hipótese do Skype jamais teria se apresentado se não pelo impasse. Acompanhada do mesmo trio (medo, dúvidas e movimento) que representam se não o todo, muito do que é a maternidade, ela vai poder também criar uma nova pessoa. Uma mulher que é também mãe. Que já não é a mesma. Recém-nascida exatamente como o bebezinho que ela carrega no colo.