A avó de hoje já tem até “cocoroneto”. Calma que eu explico. Aos 107 anos, quase 108, Dolores Antunes da Luz é mãe, avó, bisavó, tataravó, trisavó… o que lhe dá o direito a “cocoronetos”, como se diz em sua região.
Nascida na cidade de Águas Vermelhas, em 23 de dezembro de 1912, ela é filha de Laudelina Gomes de Jesus e André Antunes da Luz, um dos fundadores do município mineiro. André foi pai de 24 filhos e casou-se cinco vezes, morrendo aos 80 anos, em 1919, por complicações da gripe espanhola (pandemia do século 20).
![Dona Dolores – Conversa de Vó Dona Dolores](https://gutenberg.claudia.abril.com.br/wp-content/uploads/2020/12/3fc9b73b-e662-4098-b95e-200b37da9902.jpg?quality=85&strip=info&w=1024&crop=1)
De volta à vó Dolores, pedi à sua neta Stéfany uma ajuda para contar essa história linda, longa e cheia de lutas. “Para criar os nove filhos, ela trabalhou como artesã, costureira, biscoiteira, lavradora, doméstica, e não posso me esquecer de dizer: mestre de obras, pois construiu sua própria casa, de onde não planeja sair nesta vida”, descreve.
![Vovó Dolores Vovó Dolores](https://gutenberg.claudia.abril.com.br/wp-content/uploads/2020/12/f44a40d8-8d25-48ae-812f-b3e877b95b17.jpg?quality=85&strip=info&w=1024&crop=1)
Os filhos
Dos nove filhos dois faleceram, um está desaparecido há mais de 60 anos, e os outros seis se espalharam por diferentes cidades, mas a distância ela resolve batendo um bom e velho gancho ou se rendendo à tecnologia das videochamadas. Se não fosse a dificuldade de audição estaria fazendo uma live comigo, com certeza.
A rotina de beleza sempre fez parte de sua vida e as refeições são seguidas à regra. “Ela adora acordar, tomar seu cafezinho com leite em pó, biscoito e requeijão. No almoço e na janta, não podem faltar um bom caldinho de feijão com verduras e legumes. Para a sobremesa vamos de sorvete, açaí, gelatina, picolé ou uma geleia de mocotó”, detalha Stéfany, que está sempre lá por perto. Achou a dieta pesada? Engano seu, essa “cocorovó” não tem diabetes, colesterol alto ou quaisquer comorbidades Seus exames de rotina estão todos em dia, o único revés foram algumas lesões na pele devido à alta exposição solar.
![vovó Dolores vovó Dolores](https://gutenberg.claudia.abril.com.br/wp-content/uploads/2020/12/9b0a8830-ca0f-42d4-a8e7-ff2027cf979b.jpg?quality=85&strip=info&w=1024&crop=1)
Dona Dolores, como é conhecida na cidade e região, é alegre, adora contar histórias, cantar e declamar poesias. E, como não poderia deixar de ser, é admirada por sua beleza extravagante, com cabelos longuíssimos, unhas pintadas e roupas fora do padrão “vovozinha do interior”.
Nas horas vagas, ela adora um programa de televisão. Seus prediletos são a “Dança dos Famosos”, no Domingão de Faustão, e as novelas, mas nada supera “O Rei do Gado”, um clássico. Outro passatempo precioso – que eu vejo presente também nas vidas de outras várias longevas que entrevistei ao longo do “Conversa de Vó” – é passear pelo seu quintal e cuidar das plantas. O dia por ali sempre termina com um chazinho de camomila. Viva, vovó Dolores.
![Vovó Dolores vovó Dolores](https://gutenberg.claudia.abril.com.br/wp-content/uploads/2020/12/6967418b-a35b-43eb-b27a-227b92746dc9.jpg?quality=85&strip=info&w=1024&crop=1)