Mães têm expectativas. Nós, de muitas formas, gestamos, cuidamos e ansiamos que nossas ações contribuam para que as crianças cresçam seguras e tornem-se “bons” adultos. Esse expectar da maternidade – que é cultivado em nossa sociedade quando ainda somos crianças – é, em geral, composto de sonhos e fantasias que costumam seguir um certo roteiro previamente estabelecido.
Há alguns dias atrás li que, ao longo da História, as mulheres, em sua grande maioria, passaram suas vidas em lutas silenciosas para, muitas vezes, sobreviverem com dignidade. Nesses tempos de horas borradas, essa leitura ficou ecoando em meus pensamentos com a seguinte ideia: mulheres que são mães carregam a luta de nunca poderem reclamar sob o risco de receberem a pena máxima do julgamento social de serem taxadas de “mães ruins”.
Os nossos desejos (re)clamam ao longo de nossa História. Clamar é, ao mesmo tempo, aplaudir e protestar. É preciso urgentemente que nós, mães, reclamemos nossos espaços no mundo, como seres humanos dignas de direitos: maternar é função de toda sociedade.
Existem muitas coisas nas funções da maternidade que precisam e merecem ser reclamadas, inclusive, a própria noção de dignidade: se ser mãe significa sofrer assédio moral no trabalho; se ser mãe significa esquecer sua própria identidade como mulher; se ser mãe significa ser a ÚNICA responsável pelos cuidados com as crianças; se ser mãe significa abrir mão de seus sonhos; se ser mãe significa um sacrifício social que mata lentamente nossas essências, estamos TODAS NÓS seguindo um roteiro equivocado, para dizer o mínimo.
A verdade é que isso está TOTALMENTE errado e precisamos reclamar! Existe uma única pergunta que devemos fazer para nos livrarmos definitivamente de nossas culpas por não cumprirmos as exigências das expectativas da maternidade: a quem serve o nosso silêncio? A uma sociedade estruturada na ideia de que mulheres que são mães cumpriram seu destino de vida.
Quando minha primeira filha nasceu, eu ouvia constantemente a frase: “você não tem do que reclamar” todas as vezes que eu começava a tentar esboçar algum tipo de pensamento que soasse minimamente negativo sobre as funções da maternidade.
Isso foi há dez anos atrás e muita coisa mudou desde então, tanto na sociedade quanto em mim mesma. Eu, que nunca fui exatamente definível como “obediente”, comecei timidamente a escrever as “Crônicas de Mãe”, que se tornaram meu diário de reflexão, espaço de fala e diálogo e uma grande fonte de estudos sobre o que significa “ser mãe”.
Uma coisa que eu aprendi é que se a chamada maternidade real não consegue seguir as regras desse script social, quando nós mulheres decidimos “amaternar”, tornamo-nos completamente insubmissas e rebeldes.
Eu aprendo todos os dias que a escolha da jornada do “amor que materna” é verbo, sentimento e combustível de existência. Eu as acompanho e me desafio. Elas são a concretização da insurreição dos meus sonhos emancipatórios. Elas, minhas flores, são minha ousadia utópica, reflexos da minha desobediência e das minhas arquiteturas de um mundo consciente da importância de todas as pessoas.
Clamo e reclamo por uma sociedade que pense nas mães como um coletivo e que possamos restabelecer as regras, dessa vez, não atendendo a quem se beneficia do nosso silêncio, mas erigindo uma sociedade que valorize nossas falas. Dias Mulheres virão!
Vamos conversar?
Se quiser entrar em contato comigo, Ana Carolina Coelho, mande um e-mail para ana.cronicasdemae@gmail.com ou mensagem no Instagram @anacarolinacoelho79. Será uma honra te conhecer! Quer conhecer as “Crônicas de Mãe”? Clique aqui para ler os textos anteriores em e acompanhe os próximos!