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Diário De Uma Quarentener

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Juliana Borges é escritora, pisciana, antipunitivista, fã de Beyoncé, Miles Davis, Nina Simone e Rolling Stones. Quer ser antropóloga um dia. É autora do livro “Encarceramento em massa”, da Coleção Feminismos Plurais.
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Até logo, Gabriel!

A escritora Juliana Borges relembra os encontros que teve com o jovem militante, Gabriel Rodrigues, que morreu hoje (10)

Por Juliana Borges
Atualizado em 10 jun 2020, 21h31 - Publicado em 10 jun 2020, 21h24
 (Reprodução/Acervo pessoal)
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São Paulo, 10 de junho de 2020

A concentração tem se tornado um momento de ouro nos meus dias. No seu também? Tantas são as notícias e oscilações emocionais no dia, que quando consigo me sentar e escrever, sem interrupções, sem fugir para olhar um pouco o Instagram ou o WhatsApp, considero uma vitória.

Só que, hoje, em uma fugidinha para as redes sociais, recebi uma notícia que mudou todo o meu dia. O militante Gabriel Rodrigues, de apenas 19 anos, faleceu. Ele já estava internado há algum tempo, mas sempre acreditei que veríamos seu sorriso e perguntas, certezas e sonhos sobre o mundo novamente.

Em todos os meus eventos, desde o lançamento do meu livro, até bate-papos, palestras, lá estava Gabriel me dando força. Se achegava ao final do evento, me enchia de perguntas, sereno. Me aporrinhava sobre política, queria que eu transpassasse a fronteira da escrita e da pesquisa, que pensasse em outras contribuições ao mundo. Em uma das nossas conversas que mais me diverti, foi quando ele me perguntou, do nada, o porquê não me candidatava para prefeita. Eu fiquei em choque. “Mas de onde você tirou isso, Gabriel? ”. “Eu acho que é importante, porque você é uma mulher negra, periférica, que tem um livro importante”. “Gabriel, eu quero escrever, fazer meu doutorado, estudar e você deveria fazer o mesmo. E os estudos?”. Ele riu e desconversou. Depois de alguns minutos, lá veio ele de novo: “Prefeita, você não acha importante discutir segurança pública a partir das cidades? ”. “Gabriel, já pedi para parar com isso”. Nunca pensei que, tão cedo, eu sentiria saudades desses aporrinhamentos, dessas ideias que eu não faço ideia de onde ele tirava.

Esse menino tinha os sonhos gigantes de uma juventude que não se acomodava, que tinha urgências de direitos e de vida. Eu sei que ele me entendeu quando disse dos meus sonhos também e que nossas trincheiras podiam parecer diferentes, mas que se encontravam em propósito. E a gente segue daqui, buscando construir esses sonhos de um menino que queria um outro mundo.

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Meus mais sinceros sentimentos e muito afeto para a sua família. Que Gabriel faça uma tranquila passagem. Nós sempre teremos sua energia conosco nas lutas que virão.

Gabriel Rodrigues, presente! Agora e sempre!

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Todas as mulheres podem (e devem) assumir postura antirracista

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