Após nove meses longe do público presencial, os espetáculos de dança estão de volta aos teatros em novembro. Nos dias 21 e 22 a São Paulo Companhia de Dança (SPCD), o corpo artístico da Secretaria de Cultura e Economia Criativa de SP, retorna aos palcos com direção de Inês Bogéa e gestão da Associação Pró-Dança. A estreia é com o espetáculo Respiro, quarta criação de Cassi Abranches para a companhia.
O retorno requer adaptações e traz desafios. Acostumada a coreografar para grandes grupos e desenvolver duos intrincados, a ex-bailarina do Grupo Corpo se viu diante do desafio de descobrir novas possibilidades de movimento e de uso do espaço devido à necessidade de incorporar o distanciamento social do cotidiano também em cena. “Acho que está todo mundo precisando de um alívio. Esta obra é como um intervalo do tsunami de notícias ruins que nos atingiu. Quero oferecer 15 minutos de boas sensações e tocar as pessoas nesse sentido”, afirma a coreógrafa.
Respiro sugere um momento de suspensão de uma realidade, por vezes, asfixiante. Cassi se inspirou nas sensações de perdas e ganhos percebidas pelos bailarinos durante a pandemia, que vão desde a falta do toque ao reencontro consigo mesmo, e incorporou elementos do Tai Chi Chuan e da meditação à energia de movimentos que é própria de sua assinatura. Embalada pela trilha sonora original criada por Beto Villares com participação de Siba, a coreógrafa conduz o público por uma montanha-russa de vibrações positivas em meio à iluminação criada por Gabriel Pederneiras e figurinos desenvolvidos por Verônica Julian.
Para a diretora Inês Bogéa, retornar aos palcos é uma grande expectativa. “É uma enorme alegria voltar a encontrar os aplausos do nosso querido público, que esteve perto da Companhia de modo online durante estes longos meses de ausência dos palcos. Para as apresentações no Teatro Alfa, o programa foi pensado como uma resposta e um acalanto aos desafios enfrentados por todos no contexto atual. Respiro, a estreia de Cassi Abranches, reflete a vontade de afastar o turbilhão de acontecimentos atuais para apreciar a vida.
Além da estreia, outra obra também repleta de poesia e leveza será apresentada pela primeira vez pela SPCD para o público presencial: Só Tinha de Ser com Você, grande sucesso de Henrique Rodovalho, criado em 2005 para sua companhia, a Quasar Cia de Dança. Na versão assinada pelo coreógrafo goiano para a SPCD, as distâncias entre os bailarinos foram ampliadas e as relações entre eles se constroem a partir de gestos e olhares, sem contatos físicos. A obra apresenta uma sensível e singular releitura coreográfica de músicas do álbum Elis & Tom (1974), de Elis Regina (1945-1982) e Tom Jobim (1927-1994), um clássico da música brasileira. Os figurinos são assinados por Cássio Brasil e a cenografia fica a cargo de Letycia Rossi.

“Já estive no palco após o período de quarentena em um espetáculo com transmissão ao vivo, foi bom, mas, foi diferente o silêncio no teatro, mas com certeza ter o público perto da gente é outra coisa. É uma troca incrível. Nossa dança é emoção para eles, e a energia deles para nós. Sem contar os aplausos calorosos que iremos escutar outra vez. Dançar Só tinha de ser com você é um acalanto para o coração. As músicas de Elis e Tom fazem um carinho na alma e a coreografia de Henrique Rodovalho é fluida, orgânica, prazerosa. Um deleite. Respiro veio para eu trabalhar minha ansiedade e calmaria no meio de tanta agilidade e precisão. Eu adoro trabalhar com a Cassi Abranches. Ela é cheia de amor, alegria e vibra nos ensaios. Espero que tudo isso chegue até a plateia”, compartilha a bailarina da companhia Thamiris Prata.

Yoshi Suzuki atualmente um dos maiores bailarinos do país e que também compõem o elenco da SPCD diz que a plateia é o espelho da alma… “Plateia para mim, funciona como um espelho na alma de um artista. Não dizendo que durante os espetáculos e performances que nós da SPCD fizemos de modo virtual para a plateia online não tenha sido a mesma coisa. Eu acho, inclusive, que foi uma grande descoberta, porque é uma forma de não privar o espectador de assistir de qualquer lugar e não apenas no Teatro. Então, eu acho que esse entendimento é uma coisa que a gente tem que levar para sempre, mas é sempre bom ter uma plateia, com certeza”, explica o bailarino.

“Só Tinha de Ser com Você é um clássico da Quasar Cia de Dança e para nós, bailarinos da SPCD, é uma responsabilidade representar essa obra porque ela carrega toda uma técnica e um entendimento dessa companhia. Então, para nós, o mais importante no começo de tudo era pensar que é uma obra para a São Paulo Companhia de Dança com bailarinos da São Paulo Companhia de Dança, mas que a técnica e a qualidade da Quasar pudesse ser vista nessa obra. Foi um grande desafio, mas é uma obra muito gostosa de dançar. Para mim, é uma masterpiece do Henrique Rodovalho. E em Respiro, a Cassi Abranches trouxe para gente ideias do que nos fez falta e o que nos fez passar por esse período que foi a quarentena. Assim, ela trabalha com essa de bem-estar, trazendo uma ideia de acalmar a alma, de reflexão. Para mim, foi um grande desafio nesse sentido de trazer essas sensações na dança; a Cassi pensou no Tai Chi Chuan, que eu tive que aprender do zero a técnica para poder fazer o solo de Respiro, que eu acho que o público vai gostar bastante”, finaliza Suzuki.
Quem também retorna com as apresentações presenciais é a Cisne Negro Companhia de Dança nos dias 28 e 29 de novembro no Teatro Santander com o espetáculo Festival Cortinas Abertas – Espetáculo A magia do Quebra Nozes – II Ato do ballet O Quebra Nozes, e nos dias 18, 19 e 20 de dezembro no Teatro Alfa, o II Ato de O Quebra Nozes e a obra Cânticos Místicos, de Haendel, ambos com direção de Dany Bitencourt. “Nos sentimos privilegiados e abençoados por conseguir realizar esta tradição de Natal em São Paulo, mesmo sendo em um formato diferente, sem prólogo, Iº ato e com elenco reduzido, mas infelizmente são essas as condições e protocolos necessários para este momento”, explica Dany que há mais de 40 anos apresenta o tradicional conto de Natal ‘O Quebra Nozes’ em São Paulo.


Devido à pandemia os teatros trabalharão com 40% de ocupação dentro de sua capacidade máxima e cumprindo todas as normas de segurança contra a Covid-19. As apresentações terão a bailarina Ana Botafogo como mestre de cerimônia e também a participação dos solistas convidados Cícero Gomes, primeiro bailarino do Theatro do Rio de Janeiro e da bailarina Marcia Jaqueline, que dançarão junto ao elenco da companhia.
“O prólogo e o 1º ato contam com a participação de elenco infantil e juvenil, então tiramos essas cenas para evitar um número grande de pessoas no palco simultaneamente. Além disso, seria necessário mais técnicos, maquinistas e outras pessoas para realizar a troca do cenário, assim aumentando o número de pessoas nos bastidores (reduzindo a equipe de produção). Temos a sensação de estar produzindo o nosso primeiro O Quebra-Nozes, com um frio na barriga, além de ser uma estreia tão esperada pelo elenco e público”, explica a diretora sobre a não apresentação do repertório inteiro esse ano devido à pandemia. Para Dany, elenco e convidados o momento é de dedicação e de enxergar o lado positivo, além de toda a realização, afinal de contas, o ballet mais tradicional e familiar do mundo não será apresentado na maioria dos países e companhias do planeta devido ao Covid-19, foram todos cancelados.


“O lado positivo é que em um momento tão difícil para todos os afetados pela pandemia, esses possam ter momentos de arte, esperança e paz, através da emoção que é colocada pelos bailarinos em cena. Só o fato de estarmos no palco com O Quebra-Nozes, com música de Tchaikovsky, nos ilumina e nos enche de fé e amor. Está sendo uma realização em diversos sentidos, que acalenta a alma em plena pandemia”, finaliza Dany Bittencourt.