Histórica. Em muitos momentos, eu e a corajosa equipe da redação usamos a tal palavra para descrever esta edição que chega nas suas mãos às vésperas das eleições de 2022. No mês em que completa 61 anos, CLAUDIA adiantou toda a sua operação de gráfica, distribuição e publicação digital para estar no ar antes do primeiro turno.
Não queríamos menos do que isso: falar de política do começo ao fim, em toda abrangência que esse fazer humano deve ter. Do entendimento que só um resgate da memória pode ampliar a mobilização social por um voto consciente, surgiu a necessidade de voltar no passado.
O resgate da história das mulheres na política, conduzido com lucidez e valentia por Clara Caldeira, mexe em pontos doloridos. Enxergar numa linha do tempo que só em 2001 foi criada a lei que tipifica e penaliza o assédio sexual ou que antes de 1979 a prática do futebol não era garantida às mulheres é bizarro. Parece que foi ontem, e foi.
Mas mais cruel é pensar o quanto as lutas femininas nos atravessam de formas diferentes e ainda estão longe de contemplar a população com equidade. Em 1827, as mulheres foram autorizadas pelo Estado a estudar além do primário; em 1879, a ingressar na faculdade. Ambas leis que antecedem a abolição da escravização de pessoas negras, ampliando o abismo das conquistas, tornando sua representatividade absolutamente questionável.
Foi nos rostos de figuras femininas de outros séculos e também do presente que encontramos esperança e força para seguir fazendo política no nosso dia a dia, além da esfera do poder público, mas também nele. A política está na forma como nos alimentamos, moramos, sentimos prazer, constituímos novas famílias, habitamos as cidades, ouvimos quem está à nossa volta e também a nós mesmas.
O dia de amanhã, porém, depende dos passos que daremos.
Por isso, na capa desta edição que, sim, reiteramos a intenção que se faça histórica, trazemos a potente obra Anônimo (2022), criada pela artista Aline Bispo. De costas, com a faixa presidencial verde e amarela no peito, uma mulher preta. “Pensei nesse lugar de retomada. Quem tem que presidir esse país?”, questiona.
Nós confiamos que é possível sonhar um amanhã diferente. E muito melhor.