Descortinar. Sinto que é isso que precisamos fazer neste momento, tirar os véus de ilusões que encobrem nossa percepção para ficar de frente com o que chega. Pode parecer sério — e é —, mas também dá para ser leve. Ou sagaz, como o sorriso de Vera Holtz escapando por trás das cortinas pretas do Teatro Faap, em São Paulo, onde a atriz tem arrebatado o público com a peça Ficções. Aos 70 anos, ela conduz o solo baseado no best-seller Sapiens — Uma Breve História da Humanidade, do israelense Yuval Noah Harari, com a sabedoria de quem mergulha em profundezas existenciais e filosóficas sem perder a dimensão divertida e tragicômica que o viver apresenta.
Entre tantas Veras possíveis, surge na sensível entrevista com a editora-chefe Paula Jacob (leia na íntegra na página 40) a Vera que nos faz sentir abraçados pela sua presença e performance. Na fotografia das gemêas Andreia e Nathalia Takeuchi, há espaço para o sorriso, a careta, o caótico, o belo, o surreal, como propõe a inspirada concepção visual de Eduardo Pignata. “A sensação que eu tive é que a gente nasce com um quebra-cabeça de percepção do mundo. Agora, sinto que estou conseguindo montá-lo. A foto que vocês fizeram do caleidoscópio é bastante significativa: todas aquelas ideias retorcidas, multiplicadas, pensamentos ainda não elaborados, ficções, narrativas que vamos criando pela vida, isso tudo foi se ajustando e se interpondo, trazendo uma imagem mais nítida com o envelhecer”, diz Vera.
De certa forma, cada edição de CLAUDIA é um montar de quebra-cabeça. Cabe a moda do luxo nacional com pequenas e jovens marcas que atrelam alta qualidade a processos criativos para conquistar corações acostumados com criações gringas (página 86). Cabe a potência das femtechs, negócios de mulheres, com produtos para mulheres (página 50). Não deixe de ler ainda a reportagem Sentidos que Transcendem (página 34), do grande repórter Kalel Adolfo, uma reflexão sobre o desejo de naturalização e expansão do que definimos como sexualidade a partir do ponto de vista de pessoas com deficiência. Para darmos o próximo passo na nossa breve história como humanidade, acredito que nada é mais importante do que nos apoderarmos de quem somos. Que possamos usar o nosso tempo e espaço aqui para libertar nossos corpos e mentes, em toda a sua diversidade.