Você vai ficar milionária, magra, feliz, sábia. Ando com bode desse milagre digital com os mil cursos de lançamentos de seus dotes ocultos. Prometem que você vai ganhar 100 mil reais em sete dias se investir na sua receita de bolo, brigadeiro, se usar seus dotes de coach, se ensinar inglês, alemão, francês, violão e a pessoa aprender em dez dias.
Tem curso de tudo. Pompoarismo, autoestima, como desossar frango, limpar coifa, meditar em esperanto. É tanto saber – muitos inúteis – que nem sei quem compra isso. Mas pasme, mesmo eu virando o nariz para essas fórmulas, embarquei. Passei seis meses entre produção de conteúdo, mil lives, feed comercial, vender sem parecer que está vendendo, link na bio, Reels, abri mentoria, grupo de zap e telegram, além de compreender o modus operandi do hotmart. “ÔMMMMMM”. Haja meditação para não enlouquecer.
Confesso que, depois de várias tentativas, eu joguei a toalha. Ainda tentei um lançador, frequentei salas digitais, assisti eventos de horas, passei alguns fins de semana sem levantar da cadeira procurando entender algoritmos, buscando aplicar ferramentas e me achando a última bala que matou Kennedy do mundo digital para maduros. Me empenhei muito. Acreditei até que ia vender bastante, mas cansei.
A vida real me chamou de volta, afinal, já estava na pandemia vivenciando home office, pedindo iFood, me consultando via telemedicina, além da uberização de tudo. Mas quando a guerra da Ucrânia começou a pipocar e as bombas a explodir pessoas de verdade em 4K, tive um insight. Quero viver nessa bolha não. Pretendo mergulhar em mares, perseguir vento na cara, sol no corpo e sabor da chuva.
Cansei dessa vida gelada, insípida, incolor, insossa, mas não indolor. Doeu ficar vitrificada. Hoje quero apenas aquilo que nasce da terra, que Deus criou e que tem pouca interferência da mão humana. Então, ao ler esse texto, transborde de si. Medite, inspire e não pire. Quer um conselho? Cachoeiras curam e não tente congelar essa água. Deixa fluir. Deságua