Kika Gama Lobo
Por Kikando na Maturidade
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Ainda estou aqui
Nesta semana, Kika reflete sobre o quanto a internação de um ente querido pode nos fazer reavaliar a nossa própria forma de existir
Estou? Fim de ano punk com minha mãe internada durante Natal e Reveillon. Aquela vida suspensa, de espectadora da vida mundana dos internautas em Trancoso e Milagres e eu entre agulhas e fraldas. Ter contato com a finitude incomoda. É a única certeza real da vida mas damos de ombros.
Procurei entender os sinais. Reclamar menos, agradecer mais, aproveitar na medida do possível. Minha mãe melhorou. Saiu do CTI e a rotina da minha casa mudou. Impactou a todas. Eu e as minhas filhas destilamos nossas neuroses umas nas outras enquanto medimos quem faz mais pela Anamaria.
Estranho e inútil cabo de guerra que só fere, mas até entendermos como será a nossa permanente rotina, sangramos. Por dentro. E é essa ferida que nos traz um alerta. Ainda estamos aqui então precisamos cuidar da cabeça e do corpo. Mil receitas, mil fórmulas, mil dicas, mas lá dentro, sabemos a dose.
Eu voltei pra ginástica, tenho tentado meditar, realmente ver o copo cheio e seguir. É um exercício novo. Eu sempre reclamei muito e isso me fez um imenso mal.
Podia até desopilar na hora e servir de conforto, mas foi criando uma casca rígida. Difícil de quebrar o modus operandi. E agora, sessentona, confrontada com muita realidade, urge que eu realmente aprenda e mude. Quem sabe não ganho o Oscar de melhor Roteiro para enfim, voltar pra mim? Inteira. Reza aí para eu conseguir!
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