Festinha 50+
A minha festa, Kikando, é quase uma autocelebração (e um retorno delicioso no tempo)
Inventei mais uma. Criar uma festa adulta, para pessoas mais velhas caírem na gandaia. A inspiração foi uma DJ sueca, de 80 anos, chamada Madelein Mansson, a DJ Gloria. As sincronicidades começaram aí. Descobri que ela foi casada com um brasileiro, carioca, que fala português, e sua filha – Anna – é fluente em nosso idioma.
Amiga das banqueteiras cariocas Laura e Roberta Pederneiras, que chegaram a ir ao casamento da filha da DJ, virei amiga virtual de ambas. Já me escreveram mensagens de incentivo, mandaram fotos, áudios e estão sempre “perto” de mim.
O meu amigo e sócio na empreitada, DJ Marcos Mamede, que será o responsável pelo som da festa Kikando – olha bem o nome – está a mil com tantas dicas de batidas e hits que ouvimos quando ainda não havíamos transado, nem nos drogado, e quando os perrengues financeiros, mentais e corporativos ainda não nos possuíam.
Não tinha covid-19, inteligência artificial e nem celular. Era mesozoica, diria. Mas tínhamos bocas e peitos, paus e bundas e nos divertimos à vera. Eu me joguei. Fui uma mocinha intensa. Comecei cedo horizontalmente. Claro que me arrependi de muitas fodas, mas, no geral, vivi.
E a dança sempre esteve como cenário. Me desbundei no Hippo, Chez Castel, Resumo da Ópera, Papagaio, Nuth, Noites Cariocas – boates da época. Não era cocadinha milionária, mas tinha outros atrativos. Era cigana, divertida, livre, dada e, olhando para trás, nesse caleidoscópio do tempo, faço uma revisão por eras.
Os 1970 e 1980 foram décadas de sonho. Podíamos tudo. Queríamos tudo. Achávamos que juventude e conexão bastavam. Não contava com a derrocada de grana da minha família, com meus devaneios mentais, meus amores líquidos, minha alma que mergulhou sem rede e se estabacou, claro.
Mas cheguei aqui. E completo 60 primaveras ( ou seriam outonos?), em agosto. E a minha festa Kikando é quase uma autocelebração. Criei para mim esse ambiente que traz a Kika jovem de volta numa nave espacial imaginária. Já me vejo de bota branca, capa e fumaça. Sou fruto de toda essa mistureba de tempo. E digo mais. Vou me jogar. Ali naquela festa quicarei. Haverá sinais.