Reflexos reflexivos
Percebi que as minhas amigas são o meu espelho e só é cego que não quer ver
Sentir o peso do tempo. Olhar amigas contemporâneas e pensar: como elas envelheceram! Você não? Caiu a fica naquele momento. Percebi que as minhas amigas são o meu espelho e só é cego que não quer ver. Estamos sessentonas. E isso tem um preço. Bom e mau.
O primeiro é o conjunto da obra. O segundo, menos perceptível, é a chegada do finito. Tá acabando. E esse texto não é macabro, nem melancólico. Diz sobre a vida. Saber ter olhos para sair de cena, organizar essa partida é fundamental. Diria até, um traço de saúde mental. As contas organizadas, a papelada em ordem, os boletos pagos, a vida civil dentro do quadrado.
E a emocional? Essa é mais dolorosa. Ver a amiga infartada ralentando e super devagar. Sempre foi tão ativa, hiperativa, corrijo. A outra, com esclerose múltipla há pelo menos duas décadas, extrai vida dos poucos músculos que lhe restam. É a que mais sofre, porém a que mais nos traz conforto. Como é forte, como resiste.
E eu ali com mil caraminholas. Já tive câncer, já me operei “uma pá” de vezes, tenho meus dias ruins, mas não me percebi finita até aquele momento. Elas espelharam o meu fim. Um tempo que vai embora e que não há mais tanto o que fazer. Planos? Claro que os tenho, mas hoje cabem numa caixinha de fósforos. Não quero sofrer pela impossibilidade de realizá-los. Quero caminhar pela estrada do possível. De preferência com elas. Amigas, fiquem firmes. Preciso de vocês.