Como se afastar de um grande amor?
Quando a dor que se sente é a última ligação que se tem com o amado, desapegar dela pode ser difícil
Este texto é sobre tudo que não nos contam nos filmes de amor.
Durante um almoço, uma amiga de coração partido me perguntou: “Quando é hora de dar tchau?”. Veja, ela não estava falando sobre ir embora da relação, isso já tinha acontecido; ela sabia de cor os motivos de não estar mais naquele relacionamento, ainda que os sentimentos não mudem de uma hora para outra.
A gente termina, mas uma linha invisível continua nos conectando, apesar do racional dizer “CHEGA!”.
“Jogar tudo embaixo do tapete para seguir vivendo ‘normalmente’ só vai fazer você tropeçar daqui uns anos e perceber que tudo ainda estava lá esse tempo todo”
Martchela
Seis meses se passaram e os amigos já não aguentavam mais ouvir o monólogo. Ela não suportava mais falar, tentar entender as mudanças. Tudo dói. Já tentou yoga, academia, terapia, chorar horas a fio, ansiolíticos, mas a dor… A dor está lá da hora em que acorda até a hora de ir dormir. Não passa. Nada remedia. Nem bebida, nem amigos, nem o tarô.
Por fim, constata: a dor que sente é a última ligação que ela tem com o seu amado. Por isso é tão difícil se desapegar dela. (Contraditório, né? Sentir dor para relembrar que algum tempo atrás foi extremamente feliz.)
Eu tentava argumentar com a minha amiga, mas ela trazia uma lista enorme de tudo que havia feito para melhorar, e ainda assim a dor não passava. Talvez todos esses itens da lista só sirvam para a gente tentar apressar e acelerar processos que, no fundo, são lentos mesmo.
Jogar tudo embaixo do tapete para seguir vivendo “normalmente” só vai fazer você tropeçar daqui uns anos e perceber que tudo ainda estava lá esse tempo todo. A recuperação será muito pior e dolorosa.
Apesar de me compadecer da minha amiga, senti orgulho por sua jornada de dor e superação, pela falta de medo que apresentava ao encarar os piores pesadelos, inimigos e angústias. Ela, apesar de ter definhado por alguns meses, sobreviveu. Foi combatente de uma guerra particular e interna.
É fácil julgar quem está de fora, mas o terror de dentro ninguém mostra.
Afinal, vivemos em um mundo de sorrisos de lentes de contato, likes de Instagram e histórias redentoras. Os processos dolorosos ninguém quer contar, não é mesmo?
Há dias em que você tem vontade que o mundo suma. Ninguém conta quando você desliga o celular e quer dormir três dias seguidos porque preferiria desaparecer. Está cansada. O mundo te arrasta e você tem que esboçar um sorriso e um relatório às 18:00 para seu chefe estressado.
Por isso, fica aqui meu conselho. A vida, apesar de passar rapidamente, também pode ser longa e é cheia de reviravoltas. Esteja preparada para encarar o ex-amor, focando nas lembranças boas do que foi um dia.
E essa amiga? Bem, ela está por aí, vivendo — e viver significa sentir de tudo. Dor. Amor. Tesão. Angústia. Um combo completo. Com seu senso de humor, ainda terminou o almoço dizendo: “Quem sabe no céu a gente tenha uma DR decente e voltemos como gatos, e, como gatos, viveremos o nosso felizes para sempre”. Rimos. E eu a admirei ainda mais.
Hoje, enquanto olho para minha amiga, vejo uma guerreira, uma sobrevivente que emergiu das cinzas mais forte do que nunca. Sua jornada de dor e superação é um testemunho de sua resiliência e força interior. E, embora o caminho à frente possa ser difícil, sei que ela está pronta para enfrentar qualquer desafio que a vida lhe reserve.
Eu sei que, apesar de tudo, o verão voltará para nossas vidas e ela vai sorrir como nunca. Dessa vez, muito mais confiante da pessoa incrível que é. Este texto, aliás, poderia estar falando de uma amiga sua, ou de você mesma, por que não? Quem nunca passou por algo assim?
A todos os corações quebrados e despedaçados, desejo: esperança e um universo inteiro.
Com todo amor que me resta,
Martchela.