É bem sabido que os conterrâneos mineiros, na pressa de deixar o coração falar, acabam engolindo sílabas, sem querer ofender o português: há um charme único nessa expressão — é bem isso que você vai encontrar por aqui. Sou mineira, dessas que falam com os olhos, mãos e coração, e eu te convido a entrar em um movimento que preenche os espaços vazios deixando rastro de café e bolo de fubá, guiado de forma humana, simples e alegre, com sabedoria e bem viver. Pegue um banquinho, respira fundo e vem comigo.
Como de costume, peço sabença para entrar, ou sua benção para estar, pois tudo na minha vida chegou com a benção de quem veio antes de mim. Desde criança sonho com as letras, com o poder da conexão entre escrita e leitura, com o vínculo possível de ser criado, mesmo a longas distâncias, pela força da expressão. E olha onde esse sonho de criança me levou: até você.
Uma das sabedorias mais antigas dentro da minha família paterna é o reconhecimento da grandeza dos mais velhos. Falando de respeito (não de perfeição ou amor), honramos quem veio antes, pois é bem sabido que uma árvore frondosa e grandiosa só se mantém de pé porque possui a mesma força e tamanho em suas raízes. Nada pode ser grande fora, se não for gigante dentro: e esse será o nosso pontapé para a construção da nossa relação.
Trago, então, a nação Zulu, em África, como suporte desse pensamento. Eles possuem três leis imutáveis que regem sua jornada e são a base de uma vida sábia e próspera. Entre elas está a hierarquia, que fala sobre reconheSER que antes de você e para que você exista, outras pessoas foram necessárias no processo, outras pessoas abriram a estrada que você hoje caminha, outras pessoas plantaram o que você colhe e que essas pessoas compõem o ser que você é.
A hierarquia é respeito, conceder honra, e não porque essas pessoas são perfeitas, mas porque sem elas você não existiria, pois a vida é dada a partir de outras já existentes. Eu sempre disse que hierarquia não é sobre de amor, mas respeito incondicional, pois fala de humanidade, de reconhecer que o outro existe assim como eu, e, também como eu, erra, sofre, tem dores, atravessamentos, falhas, amores, sonhos, esperança, história, desejos.
Essa lei, ao ser aplicada na nossa vida diária, não justifica o que o outro fez, mas humaniza sua jornada. Assim como é com o outro, também é comigo; assim como eu mudo, o outro muda; assim como eu peço sabença para continuar, o outro também.
Ao pedir sua benção, não estou pedindo aprovação ou um lugar de pertencimento, estou te dando a oportunidade de me desejar graças e, assim, recebê-las também. Afinal, toda benção dada é uma grande potência partilhada.
Então, eu te convido a me ler, tanto nas linhas, quanto nas entrelinhas. Eu te convido a sentir, a pensar, a se colocar diante de outros repertórios. Eu te convido a me conhecer e a se reconhecer. Eu te convido a conceder bênçãos por onde você passar, pois eu estou aqui, neste momento, te abençoando.
Eu estou aqui para ser uma ponte, dessas longas e firmes e que fazem seu papel com maestria, te levar do ponto A ao ponto B. Pois bem, eu cheguei.
Sabença Claudia, sabença.
Noéle Gomes (@noelegomes) é mentora e psicanalista. Guia mulheres que impactam o mundo com a sua verdade.