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Por trás da moda

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Renata Brosina é jornalista, host de podcast e editora de moda com foco em luxo e sustentabilidade. Com 15 anos de carreira e alguns títulos internacionais no currículo, ela é curiosa, gosta de entrevistar e vestir pessoas, e analisar as transformações que vêm acontecendo no mercado.
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A arte de se vestir

Nas últimas temporadas, é possível notar a forte conexão de diretores criativos com pintores e escultores — mas essa não é uma relação que vem de agora

Por Renata Brosina
19 ago 2023, 08h07
A arte de se vestir, por Renata Brosina
Desfiles e peças de roupa que trazem referências das artes plásticas e visuais transformam as vestimentas em itens de colecionador. (Fotos Divulgação. Colagem: Catarina Moura/CLAUDIA)
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Moda é arte? Essa é uma questão contemporânea que gera bastante debate. Mas o que quero trazer nesta coluna é a forma como moda e arte se conectam — desde como diretores criativos utilizam movimentos artísticos e obras para desenvolver suas coleções até o caminho que artistas vêm traçando no mundo fashion, inclusive, sendo uma das soluções de viabilização financeira encontrada por vários deles. Levar sua arte à massa por meio de produtos é uma alternativa. E isso não é de hoje.

Uma das primeiras conexões que lembro sobre esse assunto é de Elsa Schiaparelli e Salvador Dalí, em meados dos anos 1930. As criações que vemos atualmente na passarela da marca, com assinatura de Daniel Roseberry, são fruto de uma construção estética desenvolvida pela estilista italiana, com grande influência vinda do trabalho do pintor espanhol. Uma fonte inesgotável de inspiração para o mundo criativo, tanto que encanta e viraliza nas redes sociais sem muito esforço aparente. 

Na época, Schiap era vista como visionária, ousada, e, ao lado do amigo Dalí, foi responsável por desenvolver peças geniais, como o chapéu em forma de sapato, criado pensando na atriz Mae West, para quem a estilista desenhou figurinos de cinema na época; o vestido-esqueleto, construído com enchimentos; e o vestido com estampa de lagosta. E Salvador Dalí não parou por aí. Entre 1960 e 1970, ele, ao lado do também espanhol Paco Rabanne, levou suas visões surrealistas para uma passarela que, naquele período, flertava com o futurismo — um formato diferente de quando participou da era criativa de Schiaparelli. 

Inclusive, Monsieur Rabanne, falecido em fevereiro deste ano, foi homenageado na mais recente coleção de Outono-Inverno 2023 com seus grandes ícones. Além das roupas construídas com metal, Julien Dossena, atual diretor, destacou os laços entre Rabanne e Dalí. Cinco pinturas arqui-surrealistas, cedidas pela Fundação Gala-Dalí, surgiram aplicadas em vestidos, que mais pareciam telas recortadas e costuradas. No trio de longos que antecedeu as versões com as obras, peças de joalheria de Dalí, entre elas um grande coração sangrento de ouro pingando pedras de rubi, foram aplicadas entre um franzido e outro. 

Por falar em joias, o flerte com o surrealismo também vem acontecendo cada vez mais em brincos, anéis, colares e pulseiras de ouro. Há nomes neste mercado que já marcaram seu espaço, como a designer romana Delfina Delettrez, conhecida por construir peças divertidas conectando elementos surrealistas, entre eles o olho e a boca vermelha, em suas coleções. Já no Brasil, a artista-designer Paola Vilas trabalha o corpo feminino de forma irreverente nas suas esculturas “de vestir” neo-surrealistas.

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A arte de se vestir, por Renata Brosina
Conexões que também abraçam a presença de grandes artistas em colaborações de tirar o fôlego, tal qual Yayoi Kusama na Louis Vuitton. (Fotos Divulgação. Colagem: Catarina Moura/CLAUDIA)

Há também outros movimentos que ganharam espaço no vestuário. Entre eles o holandês De Stijl, de 1917, que teve seus retângulos e quadrados retratados em estampas na famosa coleção criada por Yves Saint Laurent, em 1965. A The Mondrian Collection foi um exemplo de como transformar pinturas bidimensionais, como A Composição II em Vermelho, Azul e Amarelo, em uma série de vestidos tridimensionais — e levar essas obras de arte para passear. No mesmo visual proposto pelo estilista, os sapatos criados por Roger Vivier, com a icônica fivela retangular, reproduziam os traços e formas simples e puras. 

Se linhas retas podem migrar da arte para a moda, os círculos também conseguem fazer esta movimentação. Ainda mais as bolinhas de Yayoi Kusama. A artista japonesa lançou a sua segunda colaboração com a Louis Vuitton. A primeira foi para o Verão 2012, quando foi convidada pelo diretor criativo da época, Marc Jacobs, para aplicar seus desenhos em roupas, bolsas e acessórios. Desta vez, ela segue com a proposta, revelada no desfile de Cruise 2023 em it-bags, como Petite Malle e LV Twist.  

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Além dos produtos em si, há instalações cobertas pelos motivos hipnóticos nas vitrines das boutiques e animações hiper-realistas em prédios nas cidades de Nova York, Chengdu, Londres e Hangzhou. No passado, a grife também trouxe outros nomes da arte, entre eles Takashi Murakami e Jeff Koons. 

Fora das colaborações pontuais, Louis Vuitton e Dior lançaram seus projetos dedicados à arte para comemorar suas bolsas icônicas. A ArtyCapucines e Lady Dior Art reúnem artistas contemporâneos para desenvolverem suas próprias versões das respectivas bolsas — os brasileiros Vik Muniz e Beatriz Milhazes já foram os escolhidos para apresentar suas propostas para os modelos.

Esses são alguns dos exemplos sobre o encontro entre os dois mundos. Pode ser que você lembre de outros tão especiais quanto — ou alguns que nem suspeita da relação. Afinal, os moodboards dos diretores criativos são compostos por imagens de pinturas, esculturas, instalações, experiências, visitas aos museus e por aí vai. Mesmo que por trás das cortinas, a moda vai sempre buscar inspiração na arte. Isso porque faz parte da nossa construção cultural enquanto sociedade, indo muito além do “sim” ou do “não” para a nossa pergunta inicial. 

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