Quando falamos em ética, muitas pessoas torcem o nariz, associando-a a algo chato e enfadonho. Ética, para muitos, é uma cobrança, uma exigência que parece ser o oposto da alegria e do prazer. Mas eu, como ativista pela regeneração do mundo, comecei a questionar essa visão. Será possível que o meu trabalho, que me enche de significado, pertencimento e humanidade, seja algo velho, mofado e chato?
A ética amorosa e radical
Para responder a essa pergunta, busquei apoio nos ombros de outras mulheres que vieram antes de mim e que pensaram sobre ética de maneira radical e amorosa.
Mulheres como Audre Lorde e bell hooks exploraram o motivo pelo qual nos afastamos daquilo que cria laços comunitários fortes e gera verdadeira felicidade em nós.
Quando falo de uma perspectiva ética, refiro-me à ética enquanto um princípio filosófico, uma conexão coletiva, uma sacralidade e uma gratidão pela dádiva de estar vivo.
Eu venho trabalhando no conceito da “ética da continuidade”, que reverencia a continuidade da vida e tudo o que é necessário para que ela aconteça. Mas este texto é sobre algo mais específico: o ativismo prazeroso.
O erotismo como fonte de poder
Audre Lorde, em “Uses of the Erotic: The Erotic as Power”, redefine o erotismo como uma fonte profunda de poder e informação dentro de nós. Para Lorde, o erotismo não se limita ao campo sexual, mas se estende ao sentido mais amplo de viver intensamente. Ele é a base para o nosso senso mais íntimo de satisfação; é o que nos impulsiona a buscar a excelência em todas as áreas da vida.
Essa visão de Lorde ressoa com a ideia de um ativismo prazeroso. Se entendermos o erotismo como essa força vital que conecta nosso ser interior ao mundo exterior, podemos ver como ele pode infundir nossas ações com alegria e propósito.
O ativismo, então, deixa de ser uma tarefa árdua e passa a ser uma expressão do nosso desejo profundo de viver plenamente e de transformar o mundo com base nessa plenitude.
Conexão com o Ativismo Prazeroso
Ao integrar o conceito de erotismo de Audre Lorde com a prática do ativismo, encontramos uma nova forma de encarar a ética. A ética deixa de ser um conjunto de regras abstratas e se torna uma prática encarnada, vivida através do prazer e da alegria.
Este é o ativismo prazeroso: uma forma de lutar por justiça e transformação social que não se opõe ao prazer, mas que o incorpora como parte essencial do processo.
Quando olhamos para pensadoras como Audre Lorde, vemos um resgate da conexão com quem somos, com nosso corpo e com a vida. Lorde nos ensina que “o dia em que conseguirmos fazer com que a justiça seja tão prazerosa quanto necessária, realmente transformaremos o mundo”.