O roteiro já está pronto antes mesmo do primeiro encontro. Você já planejou como vai conhecer a família, já sabe como vai ser a casa quando forem morar juntos, já escolheu até o vestido para o casamento. Se a outra pessoa improvisa fora do script, bate o desespero: será que não é a pessoa certa? Será que ele não vai se encaixar nos meus planos?
Começar um relacionamento com essa carga toda é como embarcar numa viagem sem escala para a frustração. Ou você salta na altitude com medo do pouso ou toma umas boas doses de entorpecentes para dormir durante o trajeto. Em qualquer uma das situações, as chances de sucesso são mínimas.
É comum que numa sociedade que valoriza o pensar em detrimento do sentir, nos encontremos presas a uma teia infinita de possibilidades desconhecidas. “Se eu fizer isso, vai acontecer aquilo”, “se ela disser que sim, nós vamos chegar ali” e por aí vai. A mente não descansa e acabamos sem tempo para perceber o mais importante: como de fato estamos nos sentindo.
Quantas relações não duram mais do que deveriam, deixando marcas totalmente contornáveis porque não tiramos um tempo para simplesmente perceber como nos sentimos naquele lugar? Quantas relações acabam antes que pudessem virar capítulos inteiros porque ficamos com medo de sentir?
É como se estivéssemos o tempo todo tentando espiar o que o futuro nos reserva para tomar as nossas decisões, sem nos darmos conta de que esse filme não permite spoilers.
A relação acaba virando mais uma lista de obrigações esperando o check. E onde há obrigações, há preguiça, tédio e insatisfação. O relacionamento se torna mais um fardo.
Minha proposta de hoje é que possamos parar alguns instantes para simplesmente sentir. Sentar à mesa com a parceria sem tentar adivinhar o que ele está pensando. Transar sem se preocupar com a celulite ou se a depilação está dentro do esperado. Olhar no fundo dos olhos de quem está ao seu lado sem que o medo a faça desviar o olhar. Sem precisar fazer previsões, sem a necessidade de vestir um personagem. Apenas vivenciar a relação e quais sensações ela desperta. Você está disposta a abrir mão do spoiler para viver amores mais leves e profundos?