“Eu não gosto de afeto casual”, dizia eu mesma em um vídeo que viralizou alguns anos atrás. Para mim, a ideia de viver afetos casuais era diametralmente oposta a minha imensa necessidade de vinculação. Por tanto, querer vínculos era incompatível com a experiência dos afetos casuais.
Eu estava errada, pelo menos em partes. Verdade é que entendi o valor dos afetos “sem compromisso”.
Em partes, porque a medida em que o vínculo desponta como possibilidade na relação, o “casual” sai de cena, dando lugar a uma outra qualidade, em termos de categoria, de afeto. Um afeto que pode resguardar a característica de não ser nomeado, permanecer sem obrigações, acordos de exclusividade ou outras demandas comuns aos relacionamentos ditos “sérios”.
Por outro lado, o carinho, aconchego, cafuné, filminho abraçadinha, pezinhos dados, sem compromisso com o amanhã, sem precisar dar explicações no dia seguinte, tem realmente o seu valor. É
bom sentir-se acalentada, acarinhada, abraçada. É bom receber um beijinho na testa depois do sexo gostoso. É bom um café da manhã com trocas de carícias, ainda que isso não se repita, com aquela mesma pessoa, nunca mais. É bom receber esse afago na alma.
No fundo, acho que a gente tem essa necessidade. E, às vezes, não tá afim de embarcar em uma história mais complexa. Às vezes, a indisponível emocionalmente é a gente mesma e está absolutamente ok querer afeto nesses hiatos.
Mas como ter um afeto casual recorrente sem se apaixonar?
Não há como garantir que não nos apaixonaremos pelo caminho. Apaixonar-se é parte do risco de escolher se relacionar com outras pessoas, independente dos moldes. Pessoas são apaixonantes e, se você é uma emocionada de carteirinha como eu, dê por certo que a paixão vai acontecer.
Agora, o que a gente faz com ela é o grande segredo. Se você não acha que dá conta do casual estando apaixonada, pode ser uma boa ideia se afastar ou encerrar essa relação. Se está disposta a ver no que vai dar, se joga. Mas, nesse último caso, considere contar para a pessoa o que está rolando para que ela também possa decidir se topa ver no que vai dar ou não.
Carência ou paixão?
Somos seres carentes. Em algum momento, a carência bate a porta e pode ser muito fácil confundi-la com paixão. Quando estamos sedentas por um carinho mais terno, um toque amoroso, uma palavra de acolhimento ou de desejo e recebemos tudo isso, é comum bater aquele friozinho na barriga, um quentinho no coração.
Mas isso não significa que estejamos apaixonadas. Na verdade, estamos apenas sentindo a satisfação de ter certas demandas atendidas. Não é sobre o outro, mas sobre as nossas carências.
Não há problema nenhum nisso. Basta apenas fica atenta para não acabar se envolvendo com alguém só porque ela te oferece afeto, tá bem? É preciso mais do que isso para ter uma relação sustentável e saudável.

Como ter afetos casuais com responsabilidade afetiva?
Casualidade afetiva não é incompatível com responsabilidade afetiva. Aliás, é extremamente importante que nossas intenções, pretenções e expectativas sejam colocadas na mesa quando embarcamos nesse universo.
Se você quer um relacionamento, deixe claro. Se você não quer um relacionamento, deixe claro também. E não, vale fingir que não sabe só para facilitar as coisas. Tem muita gente vestindo o “ah, não sei”, “depende”, “vamos deixar acontecer”, apenas para manter outras pessoas interessadas. Isso é irresponsável.
Assumir com coragem que aquilo é casual e que não tem intenção de que se torne qualquer outras coisa é ser responsável afetivamente.
Comunicar, caso alguma coisa mude, é também ser responsável afetivamente. Porque não ter um compromisso, não significa não ter responsabilidade com o outro, independente do nome que se dá à relação. Relações casuais, são relações.
Assim, com todas as cartas abertas, expostas e bem organizadas, podemos esbaldar-nos num mar infinito de carinho que tanto queremos.