Na Coreia do Sul, a profissão de professor é uma das mais respeitadas da sociedade. Os cursos de magistério são extremamente disputados, inclusive há quem possa ficar milionário – e até mesmo se tornar uma celebridade – dando aula em plataformas virtuais.
Um cenário semelhante pode ser visto na Finlândia. Por lá, os cursos que formam professores estão entre os mais disputados. Os profissionais da área ganham um salário suficiente para ter uma vida confortável e as famílias costumam comemorar quando o filho demonstra interesse em seguir essa carreira.
Tanto na Coreia do Sul como na Finlândia essa valorização dos profissionais de educação produz resultados visíveis na prática: os dois países ocupam as primeiras colocações na maioria dos rankings internacionais de educação. Algo que o Brasil apenas vislumbra a distância, já que o país não costuma ir bem nessas pesquisas.
Por aqui, os professores sofrem com falta de recursos, alunos desinteressados, pais agressivos, longas horas de trabalho, pouco estímulo ao desenvolvimento profissional e salários baixos, que mal dão conta de proporcionar uma vida minimamente confortável. Isso sem falar na desvalorização geral que ronda a carreira.
No Brasil, se um jovem manifesta o desejo de se tornar professor, muitos ao seu redor (diversas vezes, da própria família) dão sinais de reprovação, como se a decisão valesse menos do que uma carreira na medicina ou engenharia, por exemplo.
Professores durante a pandemia
Sabemos que a pandemia do novo coronavírus trouxe desafios extras para os profissionais de educação. Aulas online, alunos que não abrem as câmeras, longas jornadas de trabalho, dificuldades tecnológicas…
Mas, apesar dessas questões, há algo bom proporcionado pela educação a distância. Com os escritórios fechados, muitos pais começaram a trabalhar de casa e puderam acompanhar mais de perto as aulas e as rotinas de estudos dos filhos, o que fez com que muitas famílias passassem a valorizar mais o trabalho dos profissionais de educação.
É o que mostra, por exemplo, uma pesquisa feita pela Fundação Lemann, Itaú Social e Imaginable Futures, empresa de investimentos filantrópicos. Segundo o estudo, divulgado em maio deste ano, 71% dos pais de estudantes valorizam mais os professores agora do que antes da pandemia. Essa é uma porcentagem alta e que deve ser muito comemorada.
Como vimos no início deste texto, a valorização dos professores é o primeiro passo para ter uma educação de qualidade no país. E isso pode começar aos poucos, com os próprios pais reconhecendo o esforço, dedicação e importância desses profissionais.
Uma inciativa muito legal nesse sentido foi a campanha que o UNICEF fez no Dia dos Professores do ano passado. A entidade estimulou pais, responsáveis e alunos a postar em suas redes sociais recados de agradecimento aos educadores, usando a hashtag #obrigadaço.
Eu vi algumas postagens da ação nas minhas contas e achei incrível deparar com tantas pessoas demonstrando gratidão publicamente a esses profissionais. Em anos de pandemia, eles mereciam esse gesto mais do que nunca.
Porém, não podemos nos contentar apenas com ações realizadas no Dia dos Professores. A valorização tem que ser algo constante, que ocorra ao longo de todo o ano letivo.
Por isso, aqui vão algumas perguntas para reflexão: você, que é mãe ou responsável por um estudante, quantas vezes neste ano fez algum tipo de agradecimento aos professores do jovem que está sob seus cuidados? Ao longo da vida, alguma vez você já foi ríspida ou agressiva com algum professor? Você sabe como a criança ou adolescente que é de sua responsabilidade trata os professores da escola dele? Como você costuma reagir quando depara com um jovem que deseja ser professor?
Deixo essas perguntas aqui para que possamos fazer uma ponderação honesta sobre os nossos comportamentos. Às vezes, contribuímos para a desvalorização dos profissionais de educação mesmo sem perceber ou sem termos essa intenção.
É claro que precisamos cobrar dos nossos governantes uma atenção maior para a área da educação, mas também temos que entender que a mudança pode partir de nós.
Por isso, precisamos ficar atentos às nossas atitudes e, se necessário, mudar a nossa forma de agir. Assim, quem sabe, de pouco em pouco, não possamos chegar ao mesmo patamar de países como Coreia do Sul e Finlândia?