Quer formar cidadãos conscientes e participativos? Dê informação
Saber o que está acontecendo no mundo de forma pragmática ajuda a criança e o jovem a refletir e formar sua própria opinião
Sempre entendi o acesso à informação com um direito de todos – inclusive das crianças e adolescentes. Foi isso que me levou a fundar a editora Magia de Ler, que publica os jornais Joca e TINO. O desejo de criar esses produtos veio da constatação de que não havia no país um meio de comunicação que trouxesse os fatos contextualizados e traduzidos de uma forma que fácil de entender e sem sensacionalismo.
Desde que o Joca, o primeiro título lançado, começou a circular, tenho recebido retornos positivos do quanto nossa publicação ajuda na formação dessa nova geração. São cartas de agradecimento de pais, responsáveis, professores e alunos que contam suas experiências com o jornal.
Em momentos de crise, com fatos muito tristes acontecendo, o papel da informação é ainda mais crucial. Quando sabemos o que está acontecendo, nos sentimos mais seguros e menos reféns de discursos radicais e opiniões que chegam até nós por redes sociais. Isso vale para os adultos e também para crianças e adolescentes.
Agora, por exemplo, com a guerra entre Israel e o Hamas, na Faixa de Gaza, onde vivem os palestinos, é importante que as notícias cheguem até os mais novos de forma pragmática e desapaixonada para que possam desenvolver um olhar realista sobre tudo o que está acontecendo. Caso contrário, eles podem se desesperar ao entrar em contato com teorias da conspiração e fake news que costumam gerar pânico justamente porque apelam para a emoção.
Tivemos a confirmação dessa tese no ano passado, quando estourou a guerra na Ucrânia. O Joca fez várias reportagens que explicaram tudo o que estava acontecendo no leste europeu. Recebemos depoimentos de pais que contaram que seus filhos estavam muito perdidos nos fatos e que, após a leitura do jornal, conseguiram compreender melhor a guerra e esclarecer dúvidas e temores.
É claro que o papel do jornal não é dar opinião ou defender um lado ou outro. Nossa missão é narrar os fatos da forma mais imparcial possível e oferecer repertório. As notícias são apenas pontos de partida para discussões mais profundas. Cabe aos pais ou responsáveis tirarem um tempo para falar com os filhos sobre o que está acontecendo no mundo.
Já falei em outra coluna sobre as orientações da Unicef para essa tarefa. Mas em resumo, o passo a passo é:
- Pergunte à criança o que ela sabe sobre os conflitos e como se sente.
- Mantenha-a calma e fale de uma maneira apropriada para a sua idade.
- Espalhe compaixão. Não reforce estigmas.
- Foque naqueles que estão tentando ajudar.
- Realize conversas intimistas e que mostrem cuidado.
- Sempre se certifique de como a criança está se sentindo.
- Limite a quantidade de informações a que a criança tem acesso.
- Cuide de você mesmo.
Nesse tempo em que nossos filhos estão altamente expostos a receber notícias e opiniões nas redes sociais, cabe a nós, pais e responsáveis, fazermos o filtro e prepará-los para discernir os fatos e as opiniões.
Munidos de informação, repertório, senso crítico e conhecimento, crianças e jovens expandem a habilidade de se comunicar com pessoas diversas em situações dos mais variados tipos e se tornam cidadãos mais conscientes e participativos. Isso é tudo que o mundo precisa.