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Verdadeira Natureza, por Mariana Ferrão

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Mariana Ferrão é jornalista, palestrante e CEO da Soul.me, empresa especializada em bem-estar, qualidade de vida e desenvolvimento humano. Aqui, marca um encontro quinzenal com as leitoras - e consigo mesma
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Matei o personagem!

Um convite meu e do Miguel para que você olhe a sua vida e mate os seus próprios personagens que já não fazem sentido na sua história

Por Mariana Ferrão
9 jun 2022, 08h37
mulher na cama
Deixe os papéis e rótulos que você assumiu ao longo do tempo e que te deixam com preguiça de acordar e encarar o seu dia.  (cottonbro/Pexels)
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Alguns dias na minha casa são um verdadeiro caos. Mesmo acordando às 5 da manhã, antes das 6h30 já estou atrasada. Na maioria das vezes, essa sensação me invade quando a noite de sono foi curta ou interrompida pelo pesadelo de um filho ou pelo xixi na cama de outro.

O despertador toca, o coração dispara e a mente começa a questionar: “Já? Jura? Não dá para dormir só mais um pouquinho?!”. Sem outra alternativa, me levanto e começo o dia fazendo alguns rituais para acordar o meu corpo. Meu corpo me traz de volta ao presente e mostra que o cansaço pode se dissipar mais rapidamente quando sinto que minhas pernas, meu quadril, meu abdômen e meus braços estão bem dispostos.

Mas em alguns dias, o corpo pede mais. Pede mais movimento, pede mais tempo e, ultimamente, tem pedido mais calma. Nestes momentos, a minha impaciência grita dentro de mim feito um cão aprisionado em uma coleira curta. Se já é difícil lidar comigo mesma neste estado, encontrar a necessidade do outro fica ainda mais desafiador.

Foi em um destes dias bem penosos, que tanto o João quanto o Miguel acordaram reclamando: um fez manha na cama, dizendo que estava cansado demais, que não queria ir para a escola, o outro levantou-se e começou a esbravejar que não faria a lição de casa.

Respirei fundo: “Tudo bem, não precisa fazer a lição”. “Mas aí vou receber uma marquinha por não ter feito a lição”, ele retrucou. “Uma marquinha só, um dia só não tem problema.” ”Tem sim”. Respirei fundo novamente: “Qual é a lição?” “É uma redação. Como vou escrever uma redação em quinze minutos? Não consigo”, a esta altura, Miguel já estava chorando. Respirei fundo mais uma vez: “Que tal a gente colocar uma música que te inspira?” “Não vai adiantar”. “Que tal você respirar algumas vezes comigo para se acalmar?”, disse eu tentando me manter o mais longe possível de contribuir para aumentar o caos. “Não quero, mamãe”.

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Quando me dei conta de que a única coisa que ele queria era alguém para ouvir suas reclamações, para testemunhar o quão difícil naquele momento era vencer as resistências e fazer logo a redação, decidi ouvir mais uma ou duas frases e sair de cena. Para não ficar ainda mais atrasada, corri para tomar um banho e debaixo do chuveiro respirei profundamente.

Ao descer as escadas, notei o silêncio. Ninguém mais estava chorando. O fio tênue de tensão parecia ter sido rompido pela água do chuveiro. Miguel sorria enquanto comia um caqui na cozinha. “Conseguiu, filho?” “Sim, mamãe: eu matei o personagem”. Não consegui conter a gargalhada e o orgulho!

Quantos papéis que nos afligem, que nos colocam no caos, que criam resistência nas nossas vidas a gente continua mantendo? Alimentando com palavras vazias narrativas próprias que, sabemos, não vão dar a lugar nenhum. Por que não abandonamos de vez esses personagens? Por que não acabamos logo com as tarefas?

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Por que não vamos direto ao que nos faz feliz? Por que ficamos presos aos redemoinhos que nos afastam da alma da calma? Este é um convite meu e do Miguel para que você olhe a sua vida e mate os seus próprios personagens que já não fazem sentido na sua história. Não é sobre o outro. Sobre ninguém mais. Mas sim sobre os papéis e rótulos que você assumiu ao longo do tempo e que te deixam com preguiça de acordar e encarar o seu dia. Assuma o papel principal e, com muito amor, se livre destes personagens!

 

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