Claustrofóbico e instigante, ‘Suspíria’ merecia ser mais valorizado
Filme estrelado por Tilda Swinton, Dakota Johnson e Chloë Grace Moretz é um soco no estômago que intimida, mas não nos deixa tirar os olhos da tela.
Nesta quinta-feira (11) chega aos cinemas um filme enigmático do gênero de terror. Remake do clássico de 1977, ‘Suspíria – A Dança do Medo‘ reúne muita coisa em um lugar só: elenco de peso, diretor famoso, bruxaria e história mundial.
O longa-metragem é dirigido por Luca Guadagnino, responsável pelo filme ganhador do Oscar de Melhor Roteiro Adaptado ‘Me Chame Pelo Seu Nome‘, em 2017. Tudo o que ele faz neste filme é completamente diferente de seu trabalho anterior. E isso é algo interessante a ser lembrado, já que a transição brusca de romance para o terror foi certeira e não decepcionou na qualidade.
O thriller relata os mistérios e as trevas da renomada companhia de dança alemã comandada por Madame Blanc (vivida por Tilda Swinton). Uma integrante chega no local, a jovem Susie Bannion (Dakota Johnson), e está muito entusiasmada em participar do grupo. Em paralelo, um psicoterapeuta de luto começa a investigar acontecimentos estranhos na companhia. Em meio a tudo isso, o caos e terror surge na vida deles.
No início do filme, quem dá o tom de suspense é Chloë Grace Moretz. A atriz brilha no papel de Patricia Hingle, uma das dançarinas da companhia, e sua presença é inegavelmente contagiante. Ao longo do filme, ela destrincha as camadas de sua personalidade e da origem dos relatos obscuros de dentro do prédio onde as dançarinas ensaiam.
A partir daí, Dakota Johnson rouba a cena com sua face ingênua e pronta para desfrutar de tudo que for lhe dado. Ela e Tilda Swinton brincam com os olhares de tensão e aumentam o suspense do filme. Inclusive Tilda é um monstro em cena (muito positivamente falando) e é impossível não se sentir intimidado ou, no mínimo, interessado no que essa figura irá trazer em seguida.
Sua personagem é inspirada em Pina Bausch, dançarina e coreógrafa mundialmente conhecida. A coreografia do filme também tem inspiração em seus espetáculos e a caracterização feita na atriz é muito fiel à realidade.
O jogo de câmeras durante o filme pode soar bizarro (ou até engraçado), mas ele acrescenta uma atmosfera de pânico à trama. Em alguns momentos o foco está aberto, depois ele muda para um objeto e logo depois em um close fechado no rosto da atriz. Há uma brincadeira com o “universo” que é aquele cenário do casarão e isso cria uma sensação de que nós, que assistimos, estamos sendo vigiados pelas figuras assombrosas daquele local. É uma espécie de espaço claustrofóbico e ao mesmo tempo fascinante.
A estética de ‘Suspíria’ é perfeita. Cada peça de roupa e cenário nos dão o clima frio e atormentador da corrompida e dividida Alemanha dos anos 70. Quando as cenas macabras acontecem, a sensação é de um espetáculo em vida. Um show de aflição e desconforto que insiste em puxar nossos olhos para a tela, mesmo que nosso instinto queira repulsá-las.
O que se observa de tão inovador neste remake, também se percebe de distante ao original. A semelhança deste com o filme de 1977, de Dario Argento e estrelado por Jessica Harper, é quase que apenas a temática e o título. O longa de Guadagnino é uma obra-prima que bebe da fonte do passado, mas tenta trazer algo novo ao abordar determinados contextos de maneira diferente.
O filme, entretanto, é um pouco longo demais. Vinte minutos das intensas 2h33min poderiam ter sido retiradas do corte final. Isso faria com que a experiência fosse “mais breve” e não causasse certo desconforto ao espectador de ter que processar uma enorme remessa de informação em um curto tempo de transição de cenas.
A vontade de disparar informações demais também culmina em pontas mal amarradas. É necessário prestar bem atenção nos discursos das moças para conseguir captar as reviravoltas do meio da trama em diante. E muitas delas se perdem entre si e continuam não fazendo muito sentido após o término do longa.
Ao final, ‘Suspíria – A Dança do Medo’ é uma bela contribuição do terror ao cinema mundial e renova o gênero. Nem todo thriller tem a intenção de dar medo, e sim, causar aflição e inquietação. Tal fato é muito bem representado nesta produção.
Também é ótimo ver um elenco 98% feminino que transmite às telonas personagens complexas, independentes e decididas. Algumas delas com sede de poder e sucesso. Outras estão prontas para dar seu coração pelo bem da companhia de dança. Genial.
Atrasos e invisibilidade no Oscar
Em contrapartida o longa não está tendo a valorização que merece. Lançado em outubro nos Estados Unidos, o filme só chegou ao Brasil 6 meses depois – e já teve sua estreia adiada duas vezes só neste ano.
O Oscar 2019 também não reconheceu as qualidades de ‘Suspíria’. Nem mesmo a estética que poderia ter conquistado um espaço em alguma das categorias técnicas, como em Melhor Fotografia, melhor Figurino e Melhor Edição. Assim, a produção é só mais uma na lista de esnobados da premiação.