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Ele ou ela? A série “Todxs nós” da HBO é um convite para repensar o gênero

Com protagonista não-binário, a produção aborda a questão de gênero sem cair em retratos clichês

Por Ana Carolina Pinheiro Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
Atualizado em 29 mar 2020, 16h00 - Publicado em 29 mar 2020, 16h00
 (HBO/Divulgação)
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Durante a entrevista com as protagonistas da nova série Todxs Nós, da HBO, a Clara Gallo e a Julianna Gerais, os pronomes e as flexões de gênero eram ditos e escutados com atenção, principalmente da minha parte. Inseridas com profundidade no tema da não-binariedade, um termo guarda-chuva para identificação de gênero que não se restringe ao masculino e feminino, as atrizes já usam com mais naturalidade a letra “E” no lugar da “A” quando falam de Rafa, personagem da série que se identifica como não-binária.

Mas nem sempre foi assim. “É um processo difícil para todo mundo, porque a gente não pensa, só vai falando. E a linguagem inclusiva nos força a parar para pensar e ela vai crescer”, afirma Clara, que teve uma conversa com a equipe, junto com a diretora geral Vera Egito, sobre a importância de usar os pronomes neutros mesmo no set.

Artistas não-binários fazem parte do elenco, como Flow Kountouriots, que interpreta X, e Xád Chalhoub, Juno. Na ficção, a dupla, que tem um estúdio de tatuagem e um canal no YouTube, também se identifica com a não-binariedade. Rafa, inclusive, essa foi uma das motivações para a descoberta de gênero da personagem.

A história acontece em São Paulo e conta com três jovens no núcleo principal: Vini (Kelner Macêdo) Maia (Julianna Gerais) e Rafa (Clara Gallo). Vini recebe Rafa, “sue prime”, para morar com ele e Maia, sua amiga. Ao chegar no apartamento, Rafa explica que não se vê como homem nem mulher. No começo, Vini faz piada e não leva a sério a identificação de Rafa. Já Maia enxerga a situação de um ponto de vista mais empático.

Para Julianna, o entendimento da sua personagem com a de Rafa pode ser explicado. “O feminismo tem cada vez mais entendido a abraçar o diferente, mas ainda tem uma resistência. Sejamos todas feministas, mas qual é o meu papel dentro disso? Sim, vamos juntas, só que precisamos entender o nosso lugar para não silenciar ninguém”, explica a atriz, que vive uma programadora.

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Essa expansão de perspectivas de realidades também foi assimilada por Clara durante a preparação para a série. ”O meu primeiro contato profundo com a não-binariedade foi neste trabalho, antes só tinha ouvido falar. Por isso, a primeira coisa que fiz foi buscar relatos de pessoas não-binárias ao redor do mundo para ouvir diles as suas histórias e como chegaram a essa compreensão”, comenta.

Deixar a cidade de Botucatu, interior de São Paulo, para construir a vida na capital não deixou para trás todos os dilemas familiares vividos por Rafa. Diferente da realidade da maioria das pessoas LGBTQIA+, a personagem ainda tem uma condição privilegiada por sua condição social. “Rafa é file de papai”, brinca Clara, que confessa que era difícil aceitar algumas atitudes enquanto interpretava. Mas, ao longo da série, o reconhecimento dessa proteção social é construído gradualmente. “Mas quando para escutar, é de verdade. Ok, Rafa, eu te amo, você tá aberti pra sofrer, pra viver e pra amar. Quando sente tão profundamente, é legítimo”, diz a atriz sobre o drama pessoal da personagem.

Assim como a identificação de gênero, a orientação sexual é baseada no mesmo princípio, a liberdade. Quem manda se envolvimento vai ter liga, é a atração, independente das caixinhas que esse desejo está guardado.

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Assédio. E agora?

Outra questão que prende o público na série é um caso de assédio que acontece na empresa de aplicativo de táxi em que Maia trabalha. A programadora vê como o gerente lida com a situação de assédio sexual de um motorista a uma passageira. Para a profissional, que é feminista, é inaceitável que a vítima não tenha um apoio adequado. Por isso, ela não poupa esforços e até se arrisca para resolver o caso.

Aperte o play

A comédia dramática Todxs Nós, que é uma cocriação de Vera Egito e Daniel Ribeiro, já está disponível no canal da HBO e na plataforma HBO Go. São 8 episódios de aproximadamente 30 minutos cada.

Assista ao trailer para ver o que esperar da série:

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