“Sempre fui minha maior inimiga”, diz Iza sobre virada pessoal na pandemia
"Não é sobre ostentação, é sobre uma mina preta retinta ocupando lugares onde eu nunca tinha visto antes", conta a cantora sobre o novo trabalho, Gueto
A cantora Iza, dona de mais de 1,6 bilhão de streamings, indicada ao Grammy Latino e apontada como uma das líderes da próxima geração pela revista TIME, lança, nesta sexta-feira (4), Gueto, single de estreia do seu segundo álbum, previsto para o próximo semestre. “Gueto é uma forma de celebrar de onde eu vim e celebrar todas as minhas conquistas”, conta.
A música foi produzida por seu marido, Sérgio Santos, com coprodução de Ruxel e Pablo Bispo. O videoclipe, dirigido por Felipe Sassi, exalta as raízes da cantora com aspectos típicos de Olaria, bairro onde Iza cresceu, no subúrbio carioca. “Quero mostrar a essência do bairro onde nasci, com pessoas felizes, loucas para viverem juntas, para fazer festa na rua, pintar o chão quando tem Copa do Mundo”.
Para Iza, ser nomeada como uma das líderes da nova geração pela Times indica que ela está no caminho certo. “Me sinto muito abençoada mesmo e é muito lindo receber esse reconhecimento, principalmente num momento que é tão difícil fazer arte. E, ao sentir que está no caminho certo, acho que tudo muda”, explica.
O clipe é repleto de cores e elementos lúdicos. “Eu queria muito desenhar esse gueto colorido vivo na minha cabeça e que realmente existe”, conta. A cantora afirma que esse é o clipe mais editorial que já fez, com aspectos lúdicos e alegres. Ela lembra do seu bairro como um lugar colorido e bem cuidado, “onde a gente não tinha medo de andar na rua.”
A produção das roupas também é carregada de referências. “Eu aprendi a me vestir assim em Olaria e eu queria que as pessoas se vissem bem vestidas no clipe, porque assim é meu Gueto”, conta Iza. A cantora reforça a importância da identificação e do sentimento de pertencimento. “Gueto significa ter orgulho de onde eu vim e que sim brota ouro de onde eu vim”, garante.
Não é sobre ostentação, é sobre ocupação, é sobre uma mina preta retinta ocupando lugares onde eu nunca tinha visto uma mina preta antes
Uma das lembranças mais fortes dessa época é a Copa do Mundo em seu bairro. No clipe, ela incluiu as tradicionais pinturas nas ruas das periferias do país. “Eu amo a nossa bandeira e quero que as pessoas me vejam jogada em cima dela. A gente está vivendo um momento muito difícil, mas não podemos esquecer que o Brasil é feito de brasileiros”, comenta.
A cantora define o álbum como um dos mais pessoais em sua carreira. “Acho que esse tempo todo dentro de casa só olhando pra minha cara tem que ter resultado em alguma coisa”, comenta. O período de quarentena foi um momento de reflexão e amadurecimento que resultou nesse novo álbum.
“Chegou um momento que estava só eu dentro de casa, sem cílios postiços, sem unha postiça, sem aplique. Só eu e o espelho. E eu tive que olhar pra mim e me ver com todas as minhas inseguranças. Eu sempre fui minha maior inimiga e durante a pandemia eu tive tempo de encarar esses monstros e me curar”, conta.
Dance hall, reggae e trap são estilos que estarão presentes no álbum. “Eu vou passear por vários estilos musicais, que é o que eu gosto de fazer e eu percebi que meus fãs entendem isso”, conta Iza. E complementa: “É um álbum muito brasileiro e tem muito minha cara.”
Além disso, a ancestralidade tem papel fundamental nas produções da cantora. “Eu aprendi que não tem como eu falar pra onde eu to indo se eu não souber de onde eu vim. A gente se perde pelo caminho quando não sabe de onde veio”, aponta.
Black is King, de Beyoncé, foi uma das inspirações para falar de suas raízes. “É mágico a libertação de contar pro mundo quem você é. Espero muito que meu trabalho tenha impacto assim na vida de alguma pessoa, porque com certeza o trabalho dela me inspirou bastante a encontrar minha voz.”
A cantora conta que seus posicionamentos políticos tem como base suas experiências. “Eu acabo falando sobre racismo porque são coisas que eu vivi e não tem como esconder. Então não tem muito como eu fugir disso”. Ela conta que, nos próximos passos de sua carreira, não será diferente. “Infelizmente acho que ainda vou estar sofrendo racismo até lá, então a gente vai continuar falando até isso mudar”, conclui.
Assista ao clipe: