Nascida nos Estados Unidos, Julia Goldani Telles guarda com carinho as lembranças das férias na fazenda da tia, no interior do Rio Grande do Sul. “Andava na mata, cuidava das galinhas, corria com as vacas”, recorda ela, que se mudou para Campinas, interior de São Paulo, com os pais – sua mãe é brasileira e o pai, americano de origem mexicana – bem pequena.
Ainda viveu em Copacabana antes de se firmar em Los Angeles. Gostava de dançar balé e achava que era isso que faria a vida toda até ter uma contusão na adolescência.
Para o espanto da família, com uma única experiência no grupo de teatro da escola, foi escalada para o elenco de Bunheads, série sobre bailarinas que durou uma temporada.
“Muitos amigos dos meus pais trabalhavam em Hollywood, mas eles eram acadêmicos e me mantiveram longe. Acredito que essa independência foi melhor para o meu desenvolvimento, pois eu mesma pude fazer a escolha da carreira”, falou a atriz a CLAUDIA, em uma entrevista feita meio em inglês, meio num português honesto.
“Cresci vendo filmes em que atrizes maravilhosas eram relegadas a papeis pequenos, não havia espaço para elas. É muito legal que isso esteja mudando”
Apesar do gosto pela atuação, Julia se formou em sociologia na prestigiosa Columbia University, em Nova York, enquanto fazia participações em séries como Blue Bloods, Nurse Jackie e, mais recentemente, The Affair. Agora, estreia como a protagonista Iris em The Girlfriend Experience, série do Starzplay em que cada temporada trata de um tema diferente.
Ela é uma mulher misteriosa: de dia trabalha numa startup investigando as emoções e interações humanas – e formas de monetizá-las – e, à noite, é acompanhante e oferece à clientela conversa inteligente, apoio emocional e sexo. Para interpretar a personagem, Julia conversou com uma professora de neurociência, um especialista em um laboratório de inovação e uma mulher que também tem um emprego pela manhã e é girlfriend à noite.
“Achei interessante como ela dá a mesma importância a ambas as carreiras. Ela se diverte sendo acompanhante e ninguém suspeita em seu outro trabalho”, contou a atriz. “Para conseguir manter esse segredo, imaginei que Iris teria um jeito meio antissocial.”
Julia acredita que a série normaliza o fato da mulher gostar de sexo. “Não parte de um ponto de vista masculino e é empoderador ver sexo e relacionamentos retratados com um olhar feminino”, acrescenta ela, dirigida por Anja Marquardt, também criadora da temporada.
“Os maiores trabalhos que fiz tinham mulheres como showrunner (quem dita os rumos da história), isso me faz ter esperança de que estamos indo na direção correta.” Aos 26 anos, o seu próprio caminho também parece promissor e cheio de possibilidades. Ela adoraria se aventurar num papel de comédia e pensa até em trabalhar no Brasil. “Cresci vendo novela!”.