Live-action de ‘A Pequena Sereia’ é cativante, mas não marcante
Com ótimas performances de Halle Bailey e Melissa McCarthy, o live-action acerta na recriação de momentos icônicos mas peca em experiência ordinária
De todos os live-actions já desenvolvidos pela Disney, talvez A Pequena Sereia tenha sido o que mais gerou debates e polêmicas antes mesmo de seu lançamento. Começando, obviamente, pela escolha da protagonista: Halle Bailey, que vive Ariel, vem sendo alvo de inúmeros ataques racistas desde o anúncio de sua escalação. Logo em seguida, a decisão de ter Melissa McCarthy interpretando Úrsula repercutiu negativamente entre os ativistas sociais, que viam na personagem uma oportunidade perfeita de ter uma personalidade queer protagonizando uma grande produção do estúdio.
Não sendo o suficiente, os efeitos visuais do filme desagradaram uma grande parcela de pessoas, que definiram o projeto como “sem vida ou cores” após a divulgação dos teasers e imagens. Basta uma breve pesquisa para encontrar os inúmeros memes zombando da aparência das criaturas marítimas da narrativa.
Parece difícil que uma obra consiga ser bem-sucedida com todo esse histórico, digamos, turbulento. Mas, surpreendentemente, o live-action dirigido por Rob Marshall (O Retorno de Mary Poppins) consegue driblar a maioria das críticas e entregar uma experiência cativante (mesmo contando com poucos pontos altos).
Live-action atualiza pontos problemáticos da animação
A trama permanece, essencialmente, a mesma: Ariel se apaixona por Eric e firma um acordo com Úrsula, a bruxa do mar, para se transformar em humana e viver o seu romance dos sonhos, desbravando o mundo terrestre. Porém, se no desenho as motivações da personagem são irrealistas (e até mesmo problemáticas, como enxergamos após décadas do lançamento original), aqui elas são melhor desenvolvidas.
Ariel não simplesmente se apaixona por um homem e decide mudar a sua vida por alguém que mal conhece. Nada disso. A obra de Marshall faz questão de deixar claro, logo nos primeiros minutos, que a protagonista sempre nutriu um senso de curiosidade pelo mundo e um desejo por liberdade. Ela sempre quis conhecer, viver e explorar mais. Porém, a relação com o pai super protetor — Rei Triton, interpretado por ninguém menos que Javier Bardem — a impedia de experimentar a realidade da forma que desejava.
Portanto, quando Eric surge na história, ele acaba sendo apenas a faísca necessária para que ela crie coragem e abra mão de sua existência como sereia. O príncipe é um dos motivos, mas não o principal (ponto positivo para o live-action, que se preocupa em dialogar com os valores culturais atuais).
Elenco assertivo potencializa a produção
Sem sombra de dúvidas, Halle faz um ótimo trabalho como Ariel, sendo capaz de entregar aquele misto de inocência e rebeldia que tanto amamos na personagem desde a estreia da animação em 1989. Além disso, a voz da estrela é uma força da natureza: o momento em que interpreta Part of Your World será comovente até mesmo para aqueles que não são fãs da história.
Melissa McCarthy, já conhecida por seus papéis repletos de humor irreverente, é o grande destaque do elenco, entregando uma atuação teatral que, por mais escandalosa e barulhenta que seja, nunca se torna caricata. A única frustração entre as escalações é a de Jonah Hauer-King: em um projeto tão marcado pela representatividade e escolhas arriscadas, fica difícil compreender por que o estúdio optou por um caminho óbvio (e completamente dentro dos padrões) na hora de selecionar o príncipe Eric.
Apesar de recriar os momentos icônicos de forma positiva, produção não é marcante
Uma das minhas coisas favoritas sobre A Pequena Sereia é aquela sensação de fantasia e encantamento que a animação proporciona. É impossível não ficar com um “quentinho” no coração ao acompanhar personagens como o Linguado e Sebastião ou escutar as canções imaginativas da trilha-sonora. E, em grande parte do tempo, o live-action consegue reproduzir essa sensação boa do desenho.
Mas, claro, existem defeitos: a estética, especialmente nas cenas aquáticas, carecem de cor ou um senso de diversão. As novas canções, compostas pelo talentoso Lin-Manuel Miranda, não são marcantes o suficiente – na verdade, elas ficam até perdidas em meio às faixas atemporais de 1989.
E mesmo que esta adaptação de The Little Mermaid busque trazer ares inéditos à produção (há sequências e momentos que não existiam no desenho original), as novas adições não possuem força narrativa. Mas, que fique claro, não ser impactante não é sinônimo de baixa qualidade. O saldo do filme de Rob Marshall ainda é positivo. Todavia, a experiência se limita a ser apenas uma recriação satisfatória, nada mais, nada menos.
“A Pequena Sereia” chega aos cinemas brasileiros nesta quinta-feira (25).