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‘Mar de Dentro’, estrelado por Monica Iozzi, é retrato da maternidade real

Filme, que estreia nesta quinta-feira, mostra as dificuldades e solidões de uma mãe solo e as dores do puerpério

Por Joana Oliveira
8 abr 2022, 10h47
Monica Iozzi em cena de 'Mar de dentro'.
 (California Filmes/Divulgação)
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Manuela é uma mulher independente e bem sucedida, extremamente focada em sua carreira como diretora de criação em uma agência de publicidade. Do seu romance com Beto, um colega de trabalho, surge uma gravidez não planejada e, com ela, muitas dúvidas. Com o apoio do pai da criança, ela decide levar a gestação adiante, sempre mergulhada nas incertezas sobre os rumos que sua vida vai tomar a partir de agora e quais caminhos ela quer escolher. Enquanto reconhece e se adapta, a duras penas, às mudanças emocionais e físicas desse momento, uma tragédia a faz mergulhar num luto profundo. Essa é parte da trama de Mar de Dentro, longa-metragem de Dainara Toffoli, que chega aos cinemas nesta quinta-feira. O grande trunfo do filme é retratar a maternidade longe da romantização com que ela geralmente é vista: tem casa suja e bagunçada quase o tempo todo, mãe com olheiras, despenteada e que esquece de tomar banho, balançando o bebê enquanto vai ao banheiro. Um dos focos é o puerpério, o período pós-parto em que a mulher mais experimenta modificações corporais e psíquicas.

O filme é inspirado na própria experiência da diretora com o nascimento do seu filho, em 2006. “Quando soube que estava grávida, passei a refletir sobre o quão pouco eu sabia sobre a gravidez e a maternagem, o que é muito doido, porque vivemos cercadas de mulheres. Percebi que existe, sim, mesmo nos espaços de acolhimento familiar e de amizade, um tabu sobre o puerpério, por exemplo. Parece que não é legal falar sobre isso”, comenta Dainara. O roteiro nasceu em 2008, mas recebeu muitos “nãos” até chegar às telonas. “Ouvi muito que ‘isso não dá uma história’. Me sentia na responsabilidade de contar uma história de um jeito que criasse uma identificação, por isso me apeguei na questão física, que está muito junta com a questão do psicológico dessa mulher”, acrescenta.

Monica Iozzi foi a escolhida para interpretar a protagonista e conta que buscou na própria família as referências para compor a personagem Manuela. “As pessoas às vezes questionam meu interesse pelo tema da maternidade, porque não sou mãe, mas acho isso muito estranho, pois a vida inteira estive cercada de mães. Minha tia mais velha, por exemplo, teve 11 filhos. Na minha família, sempre que uma criança estava completando um ano, outra estava para nascer”, diz a atriz, que também observou o processo de maternagem da irmã para se inspirar. “Ela tem duas crianças, é professora, uma mulher independente que trabalha muito. Quando você tem a oportunidade de observar tão de perto essa relação de troca, mesmo sem consciência do que é a mudança no seu corpo e sem nem alcançar a mudança gigantesca que acontece na mente, isso te impacta”, afirma.

Trabalho físico

Além desse “laboratório” de observação emocional, Monica fez uma preparação com Fernanda Rocha, que havia sido mãe pouco tempo antes da produção do filme, com quem fez “um mergulho profundo” nas questões do parto natural e do corpo da mulher gestante e no pós-parto. “Vi o vídeo do parto dela, ela me trouxe a sensação do peso do bebê na barriga, de como os movimentos do corpo vão mudando à medida em que a gravidez avança”, conta.

Era justamente essa dimensão extremamente sensorial e corporal que Dainara queria trazer no filme. Uma das cenas mais marcantes, quando Monica se olha no espelho, de corpo inteiro, pela primeira vez depois de parir semanas depois do nascimento do bebê também foi inspirada na experiência pessoal da diretora. “Quando me olhei pela primeira vez depois do parto foi num reflexo de uma porta de vidro. Parei um momento e dei um passo para trás, estava tentando me reconhecer naquele novo corpo”, lembra.

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Para Monica, que ainda não sabe se quer ser mãe, a dimensão dessa alteração física e mental é um dos fatores que a fazem questionar a maternidade. “Acho estranho, ainda não entendo completamente. Por mais que você tenha uma rede de apoio grande, que o pai esteja presente, esse processo de aceitar as mudanças do próprio corpo é muito solitário. Se algumas alterações nos corpos das que não somos mães, como a gravidade começando a atuar e os cabelos brancos, já não são fáceis de encarar, imagina essa mudança drástica no corpo inteiro em poucos meses…”, pondera.

A atriz e a diretora celebram, no entanto, o movimento de mulheres mostrando seus corpos e maternidades reais (com todas as delícias e dificuldades) nas redes sociais. “Isso democratiza o debate, toca em temas que a televisão não trazia muito, as revistas tampouco”, diz Monica. Para ambas, a “primavera feminista” que estamos vivendo nos últimos cinco anos estão abrindo caminho para que esses e outros questionamentos sobre a maternidade se fortaleçam. “Primeiro, essa liberdade da mulher poder escolher se vai ser mãe ou não, é muito recente, né? Se pensarmos no tempo que a pílula [anticoncepcional] está aí, é um período muito curto. Outra coisa é, a partir do momento em que as mulheres começam a entrar no mercado de trabalho, passam a ter oportunidade de escolher outras coisas que querem fazer na vida, percebem que é possível ter outros sonhos, outras possibilidades além de ser mãe e cuidar da casa”, comenta Monica. Dainara argumenta que todos esses debates e quebras de tabu também quebram uma ideia que imperava até pouco tempo atrás: “Não existe fragilidade nenhuma na maternidade, pelo contrário, existe uma força enorme!”, garante.

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