Em “Me Chame Pelo Seu Nome”, Elio (Timothée Chalamet) é um garoto que sempre passa as férias numa casa de verão ao norte da Itália. Lá, seu pai – que é um acadêmico das artes – costuma receber um pupilo novo a cada ano para ajudá-lo em pesquisas. Em 1983, o visitante é Oliver (Armie Hammer), um americano muito bonito e que, de tão confiante, passa um certo ar de arrogância. Mesmo assim, ele é cativante e logo se torna a sensação do lugar.
Baseado no livro de mesmo nome, escrito por André Aciman, o filme gira em torno da aproximação dos dois e da paixão que surge entre eles. Mas esse é muito mais do que um filme LGBT, é também uma obra lindamente executada sobre algo universal: a vivência do desejo e do amor sob a ótica adolescente – e todo o impacto que isso causa na formação de uma pessoa. A obra foi indicada a quatro prêmios no Oscar 2018: Melhor Filme, Melhor Ator, Melhor Roteiro Adaptado e Melhor Canção Original.
De maneira deliciosa, o filme consegue mensurar elementos que lhe dão leveza – o frescor adolescente, o envolvente clima do verão italiano, a sensualidade dos corpos suados ao sol, a música pop dos anos 1980 – e outros que representam toda a angústia do amadurecimento.
São incontáveis os filmes que versam sobre o amor, mas são poucos os que o fazem explorando tão bem a incerteza silenciosa, o sentimento que não precisa ser verborrágico para existir aos olhos do público. E, graças à atuação impecável de Timothée Chalamet, esse é um dos pontos altos de “Me Chame Pelo Seu Nome”. Não se engane, há muitos e longos diálogos no filme – alguns até pretensiosos demais – mas há também o silêncio, a espera, a urgência latente que não pode ser transparecida. Isso tudo é intenso, muito bonito e utilizado na medida para que o filme não perca o ritmo.
O que acontece com Elio ao beijar Oliver pela primeira vez é algo incrivelmente universal. Após vivenciar o momento tão esperado, ele encontra-se inseguro, sem a certeza de que voltará a ser correspondido e de que a paixão parte de ambos. É uma sensação que beira o arrependimento, pois traz um paradoxo: de um lado aquela lembrança é a mais maravilhosa da qual ele se recorda, de outro, talvez fosse melhor não tê-la vivido, já que assim não haveria sofrimento. Esse turbilhão de sentimentos – que sintetiza a essência do primeiro amor – é conduzido de maneira ímpar no filme.
O fato de que esse é um amor proibido só faz aumentar a angústia. Elio não pode contar a ninguém o que aconteceu, ao contrário das vezes em que fica com garotas. Esse detalhe tão comum a quem descobre-se homossexual na adolescência está bem presente no longa, mas sem que ele tenha que explicar isso ao espectador e sem que incorra no melodrama.
Quanto a Oliver, ele também carrega dentro de si o impacto da descoberta. Armie Hammer não tem a mesma potência de Timothée Chalamet (sério, grave esse nome), mas faz um ótimo trabalho na pele do cara que chega chegando, seguro de si, mas vai se mostrando vulnerável e desarmado, a medida em que se descobre apaixonado por outro homem.
Quem também está ótimo é o ator Michael Stuhlbarg, que interpreta o pai de Elio. O monólogo que ele entrega numa das cenas finais está entre os grandes destaques do filme.
Viva intensamente, mesmo que a felicidade possa parecer tão fugaz quanto as férias de verão. Essa mensagem é o fio condutor do longa e ela é transmitida de um jeito que emociona, mas não escorrega nos clichês. Não é a toa que o filme dirigido por Luca Guadagnino esteja sendo tão festejado. Vale lembrar que o longa pode vir a dar o primeiro Oscar a um brasileiro, pois um dos produtores é o gaúcho Rodrigo Teixeira – que também trabalhou em “Frances Ha” e “A Bruxa”.
Ao final, “Me Chame Pelo Seu Nome” é um filme que não vai sair de você ao final da sessão. É sexy (sem ser explícito, diga-se de passagem), sensível, envolvente e muito bonito de se ver. O longa peca um pouco por ser meio pretensioso em alguns trechos e há uma cena bem importante que decepciona. Ela acontece em um momento chave para o filme e o diretor opta por apenas sugeri-la ao espectador, fixando a câmera numa árvore em vez de mostrar a ação.
Mesmo assim, isso não compromete o resultado da obra. Apenas imperdível!