Economia da longevidade
A importância de cuidarmos do nosso dinheiro hoje para conseguirmos manter a ideia de futuro próspero, considerando a nova expectativa de vida social
Talvez não tenham te alertado sobre as mudanças hormonais, a redução do metabolismo e a falta de colágeno no corpo. Talvez você ainda não tenha explorado a sua libido e despertado para as diferentes formas de prazer. Não estou falando aqui só com mulheres de mais de 40 ou 50 anos, a idade realmente não importa. Assim como não há regras e padrões de idade para roupa, sexo, cabelo e maquiagem, também não deveria haver para o seu dinheiro. Cuide, sim, da saúde mental e corporal, mas não deixe a saúde financeira para trás.
Acredito que você já ouviu superficialmente um dos conselhos imperativos — ou todos eles: “Poupe dinheiro!”, “Comece a investir desde cedo!”, “Diversifique a sua carteira!”, “Planeje a aposentadoria!”. E isso pode ter te imobilizado. O dinheiro é um tabu e, muitas vezes, ainda está relacionado à ganância, ao egoísmo e ao materialismo. Acrescente aqui outras camadas: colonização, patriarcado, machismo e desigualdades. Portanto, melhor não tocar no assunto.
Contudo, nós, mulheres, estamos quebrando padrões, rompendo os limites dos estereótipos da idade e descobrindo novas soluções para ter melhor qualidade de vida, autonomia e liberdade — não importa a idade, lembra? Mais que um termo, o ageless [ou “sem idade”] se tornou um movimento em resposta ao ageísmo (discriminação devido à idade).
Coloque o cropped, reaja e vamos falar sobre dinheiro, até porque envelhecer hoje é muito diferente do envelhecer de poucos anos atrás. A prova: a expectativa de vida dos brasileiros que nasceram em 2021 era, em média, de 77 anos: 73,6 anos para a população masculina e 80,5 anos para a feminina, segundo dados recentes do IBGE. A estimativa vem crescendo desde 1940, quando a expectativa geral era de apenas 45,5 anos. São, em média, 31,5 anos a mais do que em meados do século passado.
Já de acordo com a plataforma Shaping the Future of Financial and Monetary Systems, apresentada em janeiro no Fórum Econômico Mundial, até 2030 uma a cada seis pessoas no mundo terá mais de 60 anos — aproximadamente 1,4 bilhão. Em 2050, esse número terá aumentado para 2,1 bilhões. Ainda nos anos 2020, pela primeira vez na história, os idosos superarão os jovens no planeta.
Embora essa vida mais longa seja uma conquista extraordinária nos avanços na área da saúde, nem todos conseguem “financiar esses anos extras e permanecer financeiramente resilientes”, discutiu-se no Fórum. Lançando o conceito Longevity Economy (economia da longevidade), foi feita uma convocação para se pensar um futuro mais próspero, culturalmente preparado para acolher pessoas vivendo vidas mais duradouras.
É um assunto sério que não deve mais sair da pauta daqui em diante, pois, à medida que a expectativa de vida individual aumenta, os anos de “vida insalubre” se prolongam, conforme aponta o relatório Global Roadmap for Healthy Longevity, produzido pela National Academy of Medicine (NAM) dos Estados Unidos. “Poucos países fizeram progressos significativos para se preparar financeira, social e cientificamente para uma expectativa de vida mais longa e saudável”, consta no estudo.
O material também aponta que reduzir o preconceito de idade, melhorar a coesão social, garantir a segurança financeira e aumentar a alfabetização digital são aspectos críticos para garantir que a sociedade esteja preparada para apoiar os indivíduos ao passo que envelhecem. Longevity literacy (alfabetização sobre longevidade) é outro conceito que reforça a resiliência financeira e a vida saudável em um mundo em evolução e envelhecimento.
Viver mais não é apenas uma conquista a ser comemorada, mas também uma oportunidade, ou até mesmo uma necessidade em avançar na forma como a sociedade viveu, trabalhou, estudou e economizou nos últimos anos. Em um país onde uma pequena parte da população pode poupar, o desafio se torna ainda maior.