O porquê da vitória de Simone Manuel ir muito além do ouro
Nascida em um país em que apenas 50 anos atrás não poderia frequentar piscinas e praias, a atleta olímpica se tornou, com suas fortes braçadas e agilidade aquática, uma campeã histórica
Dois ouros e duas pratas. Estas foram as medalhas que a afro-americana Simone Manuel, texana de apenas 20 anos, carregou sobre seu peito após atingir a primeira e a segunda colocações nas categorias de 50m livre, 100m livre e revezamentos 4x100m medley e livre feminino.
Leia mais: “Não sou a próxima Bolt ou Phelps. Sou a primeira Simone Biles”.
Mas ter sido laureada com as condecorações mais altas da natação nos Jogos Olímpicos de 2016 vai além das superações físicas e psicológicas da atleta: ser a primeira atleta negra que venceu uma competição olímpica diz muito mais sobre a comunidade negra norte-americana do que qualquer livro de história seria capaz de fazê-lo.
Veja também: Simone Manuel dedica vitória inédita ao fim da violência policial.
Nascida em um país em que apenas 50 anos atrás não poderia frequentar piscinas e praias, a atleta olímpica se tornou, com suas fortes braçadas e agilidade aquática, uma campeã histórica. Não viveu numa época em que havia bebedouros divididos para negros e para brancos, mas pôde sentir arder na cor de sua pele o rebento das amarras discriminatórias que impediram suas ancestrais de alcançarem a primeira colocação no pódio.
Leia mais: Jogadora Formiga: “Troco ouro por mais mulheres nos grandes clubes”.
É proibida a entrada de negros
Uma das fotografias mais famosas da história da luta por igualdade dos direitos civis, nos Estados Unidos, registra o exato momento em que James Brock — gerente do hotel Monson Motor — jogou ácido muriático num grupo de jovens. Eles entraram na piscina do estabelecimento como forma de protesto por ser destinada apenas ao uso de hóspedes brancos — mas para o alívio dos que estavam na piscina, a quantidade da substância era irrisória quando comparada ao volume de água.
Veja também: “É como se tivéssemos perdido um membro da família”, diz goleira da seleção brasileira sobre derrota.
O clique foi feito em 18 de junho de 1964, pelo fotógrafo Horace Cort, na mesma época em que Martin Luther King havia sido preso por ter se recusado a sair do restaurante localizado no complexo hoteleiro, na cidade de Saint Augustine, Flórida. A partir deste episódio, conhecido como “Incidente do Hotel Monsor Motor”, uma onda de protestos pacíficos foram organizados a fim de boicotar as políticas separatistas da época — assim chamadas por segregar pessoas pela sua cor.
Leia mais: Mãe da ginasta Gabby Douglas: “parem de humilhar a minha filha”.
Quase meio século depois, a jovem nadadora venceu o estereótipo enraizado na cultura norte-americana de que negros não sabem nadar. E mais: Simone é a prova pulsante de que a mulher negra existe perante a representatividade esportiva de seu país. E acima de tudo, resiste.
Veja também: Rafaela Silva é ouro para o Brasil! Conheça sua história de superação.