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Chuck Bass era, na verdade, a pior pessoa de ‘Gossip Girl’

Amado pelos fãs, o personagem não era tão simpático quanto queriam fazer você acreditar...

Por Lucas Castilho
Atualizado em 21 jan 2020, 01h39 - Publicado em 23 nov 2016, 22h18
 (Reprodução/)
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“Gossip Girl” marcou uma geração. E, talvez, na época de exibição da série, há quase dez anos (mas já?), fosse um pouco mais difícil para a audiência do programa – a maioria adolescente – enxergar o quanto o comportamento daqueles jovens ricos era problemático – e isso vai muito além do consumo desenfreado de álcool e drogas pela elite escandalosa de Manhattan.

Veja bem, com exceção do Nate (Chace Crawford), ninguém do grupo principal de “Gossip Girl” poderia ser considerado uma boa pessoa. Claro, todo mundo tem defeitos e são basicamente eles que nos tornam humanos, porém, durante as seis temporadas do seriado, ficou claro como o lado ruim dos personagens superava as qualidades deles.

Leia Mais: 41 coisas que seriam diferentes se ‘Gossip Girl’ fosse gravada hoje

Hoje, após rever alguns episódios (valeu, Netflix!) e em um mundo muito mais aberto a discutir temas como o tratamento dado às mulheres na TV, por exemplo, é possível analisar como o show fez o telespectador endeusar comportamentos que no mundo real deveriam ser combatidos.

E, bem, no meio disso estava Chuck Bass, o riquinho incompreendido. Apoiado no carisma do ator britânico Ed Westwick e na narrativa do “vilão transformado pelo amor”, o personagem cometeu as maiores atrocidades e foi perdoado por todas. Óbvio, todo mundo merece uma segunda chance, mas isso não significa esquecer os erros e, simplesmente, colocar essa pessoa em um pedestal.

Sim, ele conseguia ser pior do que Vanessa (Jessica Szohr), possivelmente, um dos papéis mais irritantes de todos os tempos.

Para começar, ele era misógino ao extremo.

Chuck Bass era o cara que fazia bullying com outras pessoas para se sentir melhor no colégio. Você também odeia esse tipo de garoto, não é? Com recursos financeiros ilimitados, ele se sentia o rei do mundo, ou melhor: acreditava ser *o* mundo, os outros seres apenas gravitavam em torno dele.

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Manipulador, usava do dinheiro do pai para objetificar mulheres, seduzi-las e tratá-las como fantoches. É problemático, por exemplo, ele ir para a cama com as empregadas do hotel. Elas talvez quisessem transar com ele? Claro, mas existe aí uma relação de poder: essas garotas poderiam temer uma demissão caso não atendessem aos pedidos desse rapaz.

Para ele, mulheres não passavam de objetos para entretê-lo. Isso sem falar da forma como ele tratou Blair (Leighton Meester)…

Chuck tentou estuprar Serena.

É difícil de acreditar, mas no PRIMEIRO episódio Chuck tentou estuprar Serena. Após ter bebido um pouco no bar do Empire Hotel , a personagem de Blake Lively foi assediada pelo mauricinho. Ela resistiu e ele, sabendo dos problemas dela com álcool, se aproveitou da situação. A culpa NUNCA é da vítima, ok?!

E, de fato, abusou de Jenny.

No mesmo episódio no qual tentou estuprar Serena, Chuck fez o mesmo com Jenny Humphrey (Taylor Momsen), mas, por sorte, ela conseguiu escapar graças ao irmão dela, Dan (Penn Badgley). Infelizmente, ao final da terceira temporada, ela não teve a mesma sorte.

Rejeitada pelo namorado Damien (Kevin Zegers), após se recusar transar com ele, cheia de problemas com o pai e prestes a ser mandada para morar longe com a mãe, a garota estava em frangalhos e foi pedir consolo ao único amigo dela em Manhattan, o Nate. Ele não estava. Mas Chuck, sim. Ele ofereceu um copo de bebida e, na cena seguinte, Jenny apareceu na cama resignada de que iria transar com ele.

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Ao avisar dessa forma, será que Chuck daria outra opção para a estudante a não ser ter relações com ela? Ao final, eles acabam transando, o rapaz é escroto e Jenny, ao notar a presença de Blair no hotel, decide ir embora.

Quando o episódio avança, ela aparece chorando, arrependida. “Eu estava triste e ele também”, diz para Eric (Connor Paolo). Nos olhos, a maquiagem carregada escorrendo para mostrar como a jovem de 16 anos estava destruída por dentro.

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Na próxima sequência, Dan acerta Chuck com um soco. Jenny desejava ter uma primeira vez especial e isso não aconteceu. Da forma como a coisa foi conduzida, a relação sexual entre ambos os personagens parecia consensual. Mas se a gente olhar de perto, é possível ver um tipo de abuso.

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Todas as pessoas haviam virado as costas para Jenny, sério, vários personagens já haviam até chamado ela de puta… Chuck enxergou uma oportunidade e tirou vantagem da vulnerabilidade da garota. O episódio termina com a pseudo-estilista indo embora de Manhattan. Porque, né, na TV a mulher sempre é castigada…

Ele TROCOU a namorada por um hotel.

Todo mundo sabe, mas todo mundo prefere fechar os olhos para isso. Foi horrível quando a série estava em exibição e continua sendo horrível hoje. Novamente: Chuck Bass preferiu um hotel a namorada. Agiu pelas costas de Blair sabendo que ela iria ajudá-lo de qualquer forma. Até mesmo comprou o vestido para ela usar na noite do ~ato~.

Após descobrir o esquema e confrontá-lo, Blair ainda escutou (com essa cara de chocada) essa resposta absurda aqui:

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“Ah, você faria qualquer coisa por mim, inclusive, transar com o meu tio pelo menos 20 anos mais velho do que você para eu poder continuar sendo dono de um hotel”.

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Ah, ainda não acabou:

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Mais uma vez: a culpa NUNCA é da vítima.

E foi um namorado abusivo para Blair.

Para uma relação dar certo é preciso diálogo, troca e, às vezes, abrir mão de certas coisas. Nem Blair e muito menos Chuck estavam dispostas a isso – e tudo bem, eles tinham 16 anos quando se conheceram. Mas a relação continuou e ela NUNCA evoluiu. Sempre haviam obstáculos e a maioria deles criados por eles mesmos. Não dá para entender os motivos de tanta gente torcer por um casal desses… Enfim.

Porém, Chair era muito mais do que aquele velho casal ioiô conhecido por todo mundo, aquilo era um relacionamento abusivo. Blair era manipuladora? Sim. Mas, a partir do momento que ela é trocada por um hotel, fica claro que essa relação não tem pesos iguais (leia mais sobre relacionamentos abusivos aqui).

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Chuck deliberadamente fez a namorada agir de um modo que ela não concordava e, sim, isso é triste e significa muito mais do que parece: ela era uma mulher independente e mesmo assim não conseguiu se desvincular emocionalmente de alguém, pior: se anulou.

Quando uma série de TV romantiza esse tipo de relacionamento ela diz para meninas de 15 anos ‘ei, o amor é desse jeito horrível mesmo’. E, óbvio, amor é outra coisa. Isso sem falar em todas as agressões físicas…

Vem cá, ele já cortou o rosto dela com um pedaço de vidro.

Foi sem querer, quando ela estava tentando terminar com ele. Mas a ironia está: ele tratava tanto a Blair como uma posse que, de forma inconsciente, marcou na pele dela esse horrível sentimento.

Ah, mas ele se tornou uma boa pessoa…

Ele casou com Blair, fez tudo por ela, passou a tratar as pessoas de forma melhor por causa dela. O amor por uma mulher independente, empoderada, ambiciosa e que tocava os próprios negócios fez ele, de certa forma, se redimir. O que é maravilhoso. Porém, isso não apaga todas as atrocidades cometidas pelo personagem, todas as pessoas feridas por ele no decorrer dessa jornada de autoconhecimento, todo o rastro de caos deixado por ele…

“Gossip Girl” pode ser ~apenas~ um entretenimento, mas isso não significa não ter responsabilidades. E Chuck é só uma parte do problema. Sério que o telespectador precisou mesmo esperar longas seis temporadas para assistir algum tipo de redenção?

Isso sem contar com o final. Serena TERMINA com Dan, a verdadeira Gossip Girl. Um cara que por anos assediou, stalkeou e inventou todo o tipo de mentiras sobre ela… É um alívio poder enxergar tudo isso, mesmo que seja nove anos após a estreia do programa. XOXO

 

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