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Bela Gil: “Ensinar a criança o que comer faz parte da educação”

A chef e nutricionista defende a importância de falar sobre alimentação saudável com os filhos – e diz permitir que comam batata frita e brigadeiro às vezes

Por Alessandra Medina, Guta Nascimento
Atualizado em 1 jun 2017, 18h28 - Publicado em 1 jun 2017, 18h28
 (Jorge Bispo/CLAUDIA)
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Era uma foto comum, como tantas outras postadas nas redes sociais de Bela Gil. Na imagem, uma marmita com banana-da-terra, granola caseira, batata-doce e água. A legenda dizia que era o lanche da filha, Flor, 8 anos, mas que poderia ser o dela própria.

Em poucos minutos, uma enxurrada de comentários nada amistosos invadiram seu perfil. “Assim os amigos não vão pedir o lanche dela”, escreveu um internauta. “Queria adotar essa menina para enchê-la de biscoito, lasanha, sorvete, x-bacon, pizza e delícias em geral”, registrou outro. O post que causou tanta celeuma recebeu mais de 1,5 mil comentários – o mais popular de seu perfil até hoje.

Nutricionista e apresentadora do Bela Cozinha, programa de comida natural exibido pelo canal a cabo GNT, Bela Gil já se acostumou a polêmicas. Vira e mexe, levantam dúvidas sobre as escolhas culinárias dela.

Mesmo assim, a chef ficou assustada com a repercussão da foto. “Não ligo para esse tipo de crítica. Afinal, ensinar a uma criança o que ela deve ou não comer faz parte da educação. Não devemos orientar nossos filhos a olhar para os dois lados antes de atravessar a rua? Para mim, falar sobre alimentação saudável também faz parte da formação”, acredita ela, que é mãe também de Nino, de 1 ano.

Mas Bela não é tão radical quanto pensam. Não proíbe a menina de provar uma fatia de bolo e um brigadeiro nas festas de aniversário, por exemplo. “Ela come também batata frita e bala de coco nas comemorações. Só que já sabe que esses petiscos são só para ocasiões específicas, porque não são saudáveis”, esclarece.

Na escola, o cardápio da menina não causa espanto nos amiguinhos. Pelo contrário, eles adoram atacar a lancheira de Flor de vez em quando. Sempre que o lanche é beiju (preparado com tapioca, manteiga e queijo parmesão), a apresentadora põe mais de cinco unidades porque sabe que a turma toda é fã da receita.

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O curioso é que Bela cresceu comendo de tudo, inclusive fast-food. Filha do meio do casal Flora e Gilberto Gil, achava estranho a mesa do jantar ter um espaço separado para as preferências do pai (cereais integrais e legumes), depois que o cantor aderiu à dieta macrobiótica, na década de 1970.

Como a maioria das pessoas, ela se espelhou no comportamento dos pais na criação dos filhos – inclusive, em hábitos não recomendados, como deixar as crianças acordadas até tarde. Quando era pequena, por causa do músico, jantava às 21 horas e não ia para a cama antes da meia-noite. Detalhe: ela precisava estar de pé às 7 horas para ir para o colégio.

Até algum tempo atrás, essa também era a rotina de Flor. Desde que a filha entrou na escola, Bela luta para que durma, no máximo, às 22 horas. Até o ano passado, fazia massagem nos pés dela ou contava histórias para ajudá-la a pegar no sono – hábito deixado para trás porque a menina passou a dormir sozinha. “Eu curtia muito esse momento. Era a hora que tinha para me conectar com ela”, diz Bela.

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O laço entre mãe e filha, ela faz questão de reforçar. Por motivos profissionais, a mãe de Bela, a empresária Flora, viajava muito para acompanhar de perto a carreira do marido.

“Eu não era uma criança carente, porque fui cercada de muito amor. Tinha a minha tia, irmã da minha mãe, que morava com a gente, minha babá… A relação com minha mãe é ótima, mas mais distante. Talvez por causa da idade. Não temos cumplicidade, afinidade. Quero ser mais próxima da Flor”, admite.

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“Eu não era uma criança carente porque fui cercada de muito amor. A relação com minha mãe é ótima, mas mais distante. Quero ser mais próxima da Flor”, diz Bela Gil (Jorge Bispo/CLAUDIA)

Casada há mais de 12 anos com o designer João Paulo Demasi, o JP – um pai incrível, segundo ela –, afirma que os dois compartilham valores na criação dos filhos. Ele faz questão de que Flor o trate por “senhor”, por exemplo. “Não fui criada assim, mas acatei. Acho que é uma maneira de tratamento respeitosa”, acredita. JP estudou muito sobre parto humanizado antes de decidir que o caçula nasceria em casa.

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Eles haviam resolvido que o menino nasceria no mesmo hospital e com a mesma médica que acompanhara o procedimento de Flor, em Nova York, nos Estados Unidos. Como o hospital não permitia crianças na sala de parto – e a menina desejava estar presente –, a ideia de ter o filho em casa ganhou força e foi levada a cabo.

Outro fator que pesou contra o hospital foi a possibilidade de passar por nova episiotomia (corte feito no períneo para aumentar o canal vaginal durante o parto), procedimento realizado no nascimento da primogênita, que deixou a chef com dores nas relações sexuais por quase um ano.

Caseiros, Bela e JP gostam de sair só para ir a festas ou shows de amigos. “Nunca fomos de badalar, então os filhos não atrapalharam em nada. Hoje, namoramos quando dá, mas isso não nos incomoda. As crianças são nossas parceiras”, comenta ela. Apesar de atualmente dispor de menos tempo para dedicar-se ao casamento, ela garante que a maternidade lhe trouxe autoconhecimento.

Na primeira gravidez, ficou tão sensível que chorava sem motivos. Já na gestação de Nino, passou a ser mais combativa e teve energia para gravar o programa, lançar o segundo livro de receitas, o Bela Cozinha 2, e supervisionar a linha de produtos alimentícios que leva seu nome. “Descobri que posso ser sensível e agressiva sem deixar de ser eu mesma. Posso usar os dois lados. Isso é maravilhoso.”

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Toda essa força não impede que se surpreenda diante de certos comportamentos das crianças. “Outro dia, estávamos na casa de uma conhecida, e a Flor queria água. Disse para pedir, mas ela passou a bola para mim. Acabei falando. Se fosse comigo, ficaria calada e com sede”, admite ela, que já pensa no terceiro filho. “Ser mãe é nunca estar tranquila”, filosofa, abrindo um sorriso de felicidade.

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